segunda-feira, 18 de agosto de 2008

TEXTO DA SEMANA - João Tavares (Dão)

Segura essa vaga, garoto

Acho que entendo um pouquinho de futebol, porque o que nosso querido técnico levou alguns meses de treinamento e cinco jogos para comprovar, eu já tinha observado em apenas um jogo, e olha que nem foi um jogo completo - o então junior Airton (foto), no jogo contra o Bacalhau pelo campeonato estadual, simplesmente havia destruído. Chamou-me a atenção pelos desarmes precisos, sempre na bola e sem precisar dar porrada ou cometer faltas como os “colegas” de posição. Dominávamos aquele jogo, mas, infelizmente, e talvez até por falta de ritmo, o garoto acabou saindo com câimbras. O setor de meio-campo ficaria enfraquecido e o Vasquinho foi lá e empatou.

O garoto continuou treinando, ficando no banco de Jailtons e Cristians da vida sem reclamar, mesmo pegando o buzão da linha 382 que faz o trajeto Piabas-Carioca. É chão. Curiosamente, o menino de Nova Iguaçu tinha passado a morar no Ninho do Urubu, onde treinam os juniores, exatamente para evitar as longas horas de viagem. Quis o destino que ele tivesse que viajar outras longas horas assim que foi convocado a treinar entre os profissionais.

Daí veio o campeonato brasileiro e, no segundo tempo do jogo contra o Galo, no Mineirão, ele entra no time. Uma pedreira. Nervoso, já no primeiro lance abre demais os braços e acerta um alvinegro. O árbitro amarela o cara, mas ele não se intimida e simplesmente anula um tal de Danilinho que, mesmo com pouco mais de metro e meio, aterrorizava a zaga rubro-negra. Depois veio um clássico, outro contra o Bacalhau. O garoto simplesmente tira onda no meio campo e joga fácil, durante os 90 minutos. Nem parecia que estava jogando o Clássico dos Milhões. O Mengão domina o jogo e sapeca mais três pontos. Foi naquele jogo que ele começou a me lembrar um craque das antigas.

Marcinho e Renato Augusto já tinham sido vendidos e, logo depois, começaria uma seqüência de maus resultados que afetam as mentes da torcida e do técnico. Veio o jogo contra o Palmeiras lá no Chiqueiro. Toró sai da equipe no segundo tempo, sentindo a coxa e quem vem pra fogueira? Ele mesmo, o experiente Airton no auge dos seus 18 anos. E, mais uma vez, ele entra bem, com mais uma seqüência boa de desarmes. Na malandragem, arruma ainda uma expulsão do Léo Lima no fim, que depois causaria sua suspensão pelos “bons moços"do STJD.

Contra o Goiás - na minha opinião, sua melhor partida -, Airton substituiu Dininho e, logo de cara, deu um balão duplo no meio-campo, o segundo penteando o cabelo do Paulo Baier (ou o que restou dele). No Serra Dourada, ele mostrou que, além dos desarmes precisos, sabia fazer a ligação direta para o contra-ataque. Não limitava-se a passar a bola ao meia. Mais uma vez, fez com que eu lembrasse de um craque das antigas, que na década de 80 vestia a camisa 6 do Mais Querido.

Contra o Atlético Paranaense, confesso que não posso dizer como foi sua atuação, deixo para vocês, pois foi no mesmo horário da festinha de um ano do meu moleque e, com apenas duas mãos, não sabia se o segurava no colo, se bebia mais um copo ou se passava um rádio para que alguém me contasse do andamento do jogo no Maraca.

Bem, nesses cinco jogos pelo Brasileiro, muitos deles entrando somente no segundo tempo, Airton fez 15 desarmes e apenas cinco faltas. Mas já levou dois amarelos, aliás, o segundo bem merecido, pois deu um pontapé no jogador do Goiás já caído no gramado e quando a bola já tinha passado uns dois metros.

E é aí que volto a falar do grande jogador a quem ele me faz lembrar. Alguém que atende pelo apelido de Tromba. Desarmava como ninguém, sabia ligar direto o ataque e, de vez em quando, perdia a cabeça e acertava um pontapé no adversário, fator que o levava mais cedo ao chuveiro.

Podem achar que estou exagerando, mas quem trouxe o moleque do Nova Iguaçu foi o Adílio, que pode até não ser um ótimo técnico para base, mas jogava muita bola e conhece Andrade como ninguém.

Diante disso, humildemente eu peço: Airton, não me decepcione, segura essa vaga!


* João Claudio Tavares, o Dão, tem 28 anos, é formado em Turismo, trabalha como assistente administrativo e mora no Rio de Janeiro.

Foto: Agência/FOTOCOM.NET (publicada no Globo.Esporte.com em 07/08/2008 neste link).

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