COLUNA DE TERÇA-FEIRA - Alexandre Lalas
A formação ideal
Mais do que o convincente primeiro tempo do jogo contra o Figueirense, mais do que a liderança do Campeonato Brasileiro, mais do que a boa atuação individual de alguns jogadores, o que impressionou na partida de sábado foi a maneira com que Caio Júnior armou o time do Flamengo. Pela primeira vez no ano, o meio-campo entrou com a formação que deveria ter entrado por toda a temporada. Um volante mais fixo, dois armadores que sabem marcar e um ponta-de-lança que chega na área para finalizar. Parece simples e óbvio. Mas nosso ex-treinador teimava em implicar com a simplicidade. Além de nutrir, desde tempos imemoriais, simpatias inexplicáveis por cabeças-de-área em profusão. Mas, vamos ao que interessa.
Toró, escalado como primeiro volante, pode vir a ser uma grata revelação neste ano. É rápido, sabe sair jogando, marca bem e tem razoável noção de cobertura. Precisa ser menos afoito e parar de fazer faltas desnecessárias. Jogando ali, como uma espécie de xerife do meio-campo, pode dar liga. Jonatas e Ibson são dois dos mais talentosos jogadores formados pelo Flamengo neste século. É inacreditável que tenham jogado juntos tão pouco nos profissionais até hoje. Um completa o outro. Jonatas é um maestro. Tem um passe vertical de rara qualidade, muita visão de jogo e sabe se posicionar para receber a bola. Carece de melhor forma física e de um pouco de tranqüilidade. Ibson é um motorzinho. Ao contrário de Jonatas, gosta mais de conduzir a bola, o que faz com muita qualidade técnica. Os dois jogando como sábado, um ao lado do outro, como armadores que voltam para compor a defesa e ajudam na marcação, formam uma bela dupla. Por fim, Marcinho. Esse jogador é um enigma. Parece (apenas parece) que, nesta específica função de ponta-de-lança, sem a obrigação de pensar o jogo (tarefa que fica para os laterais e os armadores), Marcinho funciona muito bem. O Flamengo precisava de um jogador de meio-campo que chegasse com força na área. E os três gols de Marcinho, em especial o primeiro, são um ótimo indicador de que ele pode ser o nome ideal para esta função.
Esta formação de meio-campo, além de dar mais qualidade e velocidade ao time, desafogou os laterais. Joel usava a surrada desculpa de que precisava povoar o meio com homens de marcação para dar liberdade a Leonardo Moura e Juan. O time ficava previsível demais. E fácil de marcar. Com um meio mais criativo e o novo posicionamento de Marcinho, ficou mais difícil para o adversário ler o jogo da equipe. Vai ser complicado, como cansamos de ver, algum treinador colocar dois ou três para marcar o Leonardo Moura (ou Juan), sob pena de deixar Ibson, Marcinho, Maxi ou Jonatas jogarem sem serem incomodados. Melhor para nossos talentosos laterais.
Ponto para Caio Júnior que em pouco tempo parece (apenas parece) ter achado a formação ideal para este time. Nomes podem variar. Renato Augusto, Kléberson (quem sabe até no lugar de Toró) e Diego Tardelli podem pleitear uma vaga entre os titulares. Mas desde que sem invencionices. Para sábado, contra o São Paulo, espero que nosso treinador não caia na tentação de devolver Christian aos onze que começarão a partida. Que mantenha Marcinho como ponta-de-lança, Jonatas e Ibson na armação e Maxi (ou, no máximo, Tardelli) no ataque ao lado de Sousa. São três pontos que valem muito. Uma vitória faz com que o Flamengo abra dez pontos de vantagem sobre um de seus maiores rivais na luta pelo título. E, mais do que os três pontos, uma vitória convincente pode ser o ingrediente que falta para que a torcida aposente o luto e volte a carregar o time nas costas no Maracanã.
Até terça.
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