As polêmicas despertadas por dois lances cruciais - um pelo campeonato brasileiro, outro pela Euro2008 - trouxeram uma constatação preocupante: a regra do mais praticado esporte do mundo está muito longe de ser clara, como apregoa um conhecido ex-árbitro, hoje comentarista da TV Globo.
No domingo (8 de junho), o goleiro vascaíno Tiago tocou na bola com as mãos, sem defender, e depois segurou para fazer a reposição. O tiro livre indireto assinalado por Wilson de Souza Mendonça decretou o gol da vitória do Cruzeiro, pelo campeonato brasileiro, numa infração que surpreendeu quase todo mundo. Para o presidente da Comissão Nacional de Árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Sérgio Corrêa, o árbitro acertou. Muita gente - jogadores, treinadores, torcedores e a imprensa, em geral - ficou surpresa com o que diz o texto da regra.
Na Europa, o secretário-geral da Uefa, David Taylor, declarou que não houve impedimento no primeiro gol da Holanda contra a Itália, na estréia das duas seleções pela Euro2008, na segunda-feira (9 de junho). Quem observou o lance pela TV pôde notar que o atacante holandês Ruud van Nistelrooy estava claramente adiantado no momento do passe. No entanto, de acordo com a UEFA, o lateral-direito italiano Cristian Panucci, caído do lado de fora do campo, dava condições de jogo. Mais uma lance para surpreendeu jogadores, treinadores e jornalistas que atuam na elite do futebol mundial.
O que há de revelador nisso tudo? É inacreditável que, ainda hoje, com todas as facilidades de informação existentes, o esporte mais popular do mundo - o mais visto, o mais discutido, o que mais movimenta dinheiro - ainda tenha tanta nebulosidade naquilo que deveria ser algo de simples compreensão para todos: a regra do jogo.
De quem é a culpa da ignorância? De torcedores, profissionais e/ou imprensa especializada? E onde está a responsabilidade das autoridades do esporte, seja CBF, seja UEFA, seja Fifa, para esclarecer os pontos obscuros da regra do jogo?
Esses dois episódios são graves, muito graves. A regra do jogo, suas resoluções com mudanças pontuais, bem como os critérios de interpretação, não podem ser propriedade de um clubinho corporativista. É fundamental que elas sejam amplamente divulgadas, de modo compreensível e universal. As polêmicas fazem parte do jogo e incendeiam as paixões, é certo, mas fazer apologia da ignorância é, no mínimo, um contrasenso.
Em tempo: seria oportuno que o Flamengo revelasse o que vem fazendo para evitar que os jogadores cometam erros de interpretação, que podem custar pontos preciosos.
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