segunda-feira, 28 de abril de 2008

Ponto final da minha parte

Dando um ponto final da minha parte em relação ao tema polêmico discutido nos últimos dias aqui no blog (Libertadores x Prioridade x Estadual), transcrevo abaixo uma coluna do jornalista (e rubro-negro) Mauro Cezar Pereira (ESPN Brasil e Trivela), publicada mês passado na revista Trivela, que vai de acordo e sintetiza o que penso.

Em tempo: o que faz deste blog o melhor do Flamengo na internet é justamente a liberdade que os editores dão aos seus colunistas. Apesar de algumas discordâncias, todos nós queremos o melhor para o nosso Mengão.

Coragem para priorizar no que realmente importa

Por Mauro Cezar Pereira

Arsène Wenger colocou o jovem time B do Arsenal para disputar a Copa da Liga Inglesa 2006/2007 e foi à final, quando perdeu para o Chelsea. Repetiu a receita e em janeiro caiu nas semifinais ante o maior rival, o Tottenham: 5 a 1. Pior, os Spurs não venciam os Gunners há mais de oito anos, 21 jogos de tabu. Nem por isso o técnico francês foi colocado na berlinda. Os motivos? O time liderava o campeonato inglês e pensava no duelo contra o campeão europeu, Milan, pela Uefa Champions League, ou seja, tinha objetivos maiores.

Pela mesma competição, o Manchester United, pensando nas mesmas taças, também caiu, só que precocemente. Seu algoz foi o Coventry City, cujo modesto objetivo é permanecer na segunda divisão. E em pleno Old Trafford ! Na derrota presenciada por incríveis 74.055 fãs, os Red Devils foram a campo com os reservas. Não houve passeata pedindo a cabeça do “Sir” Alex Ferguson.

Não me parece exagero comparar a “Carling Cup” da Inglaterra aos estaduais que se desenrolam no Brasil. E está mais do que na hora de cartolas, técnicos e jogadores definirem isso de forma clara. Se nos anos 50 times daqui tinham como única meta ganhar o campeonato do Estado, hoje estão em jogo títulos de âmbito nacional, além da Libertadores, para os que dela participam.

Porém, diante dos interesses comerciais raros são os que se atrevem a colocar os campeonatos locais no seu devido lugar. É verdade que ainda se alimentam das eternas rivalidades regionais, que não devem ser colocadas de lado, mas eles não bastam para que clubes que se consideram grandes façam jus a tal rótulo.

Os torneios regionais até mobilizam a torcida em suas fases decisivas, mas não balizam trabalhos em andamento. Se os reservas do Fluminense, reforçados por Thiago Neves e Arouca, goleiam os suplentes do Flamengo três dias antes da estréia rubro-negra na Libertadores, o resultado doméstico não pode interferir na caminhada internacional.

Em Londres, os 5 a 1 do Tottenham não atrapalharam a caminhada do Arsenal. Nas três semanas subseqüentes à histórica goleada, a equipe de Wenger venceu quatro jogos seguidos, marcou 11 gols, sofreu um e abriu cinco pontos de vantagem sobre o Manchester United no campeonato inglês.

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No ano passado, em Buenos Aires , entrei em um táxi, e notei que o motorista tinha um escudo do River Plate pendurado no retrovisor e ouvia um programa esportivo. Puxei conversa, e ao perceber um brasileiro em seu carro, ele arriscou meu time. “San Pablo? Palmeiras? Corinthians? Santos?” Óbvio reflexo da freqüente presença paulista na Libertadores — levaram dez das 18 vagas disponíveis entre 2003 e 2007.

Expliquei que sou do Rio de Janeiro, embora more em São Paulo há muito tempo. Só então ele falou de Vasco (“Eles tem uma camisa parecida com a do River e nos venceram aqui em Nuñez em 1998 com aquele gol do Juninho”, lembrou), Flamengo, Cruzeiro, Grêmio, Internacional.

Fluminense e Botafogo sequer citou, embora demonstrasse conhecimento da geografia futebolística brasileira e boa memória para fatos históricos, especialmente duelos pela Libertadores. Imagine quais as referências de clubes do Brasil para torcedores não tão atentos, fanáticos...

Participar de competições internacionais é imperativo no futebol de hoje. Quem não entender isso vai ficar para trás. Será grande apenas pela história e menos conhecido no exterior do que LDU, Audax Italiano e Libertad. E se o preço disso for perder um ou outro Estadual, paciência. É preciso coragem para priorizar o que realmente importa.

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