Relato de duas derrotas acachapantes
Reproduzo aqui mensagem do amigo Hermínio Corrêa (foto no estádio Centenário), rubro-negro que mora em Curitiba e, no espaço de 40 dias, encarou duas viagens para ver o Flamengo: no início de maio, para Montevidéu, onde viu o time ser derrotado por 3 a 0 pelo Defensor; e no último domingo, 10 de junho, para Florianópolis, onde teve o desprazer de acompanhar a goleada sofrida para o Figueirense.
Eis o relato:
Fala Juan, boa noite!!!
Bom, conforme conversamos hoje no telefone eu me senti na obrigação de escrever algumas coisas que percebo no atual time do Flamengo para de alguma forma externar minha insatisfação com tudo o que vem acontecendo. Acho que é hora da torcida do Flamengo tomar a parte que lhe cabe e cobrar um time que esteja à altura da torcida que somos; E nesse sentido vou comentar algumas impressões minhas tiradas de duas viagens terríveis que fiz esse ano acompanhando o time: Montevidéu em 02/05 e Florianópolis ontem.
Escrevi muito mas enfim, algo deve ser proveitoso. Primeiro que sou um pé frio.... brincadeira... mas a coisa está feia assim...
Mas falando sério: no Uruguai estive acompanhando o time quase que em todo tempo. E na terça, no treino de reconhecimento do gramado, estive conversando com pessoas que foram cobrir o time naquela viagem (prefiro não citar nomes, mas pessoas da imprensa) e ouvia comentários sobre “O Ney muda demais o time”, “Nem os jogadores sabem mais quando jogam” entre outras. Pensei.: “Se esses caras que acompanham o time dia após dia estão assim, imagino que situação não seja das melhores”. Durante os 90 minutos em que o time “esteve em campo” naquele terrível dia, percebi que não temos time e a ficha enfim caiu. Poderíamos até ser campeões cariocas (como fomos quatro dias depois) mas não era a toda que não tínhamos vencido nenhum clássico no estadual e feito (exceto contra o Paraná) partidas abaixo da critica na Libertadores. Pior do que isso: o time que não temos não tem sequer raça, brio. Perdeu aquele jogo por três com uma serenidade, uma calma que revoltaram. Fui ao aeroporto depois do jogo e junto com alguns torcedores que inclusive dormiram na rua (só foram com o dinheiro da passagem) estávamos chateados com aquela passividade. E tirando um excesso ou outro que realmente houve posso dizer que fomos ali pedir unicamente raça. A derrota é plausível em qualquer jogo, mas perder daquele jeito não. A história do Flamengo não dá esse direito. O dia em que nos acostumarmos a perder feio assim não somos mais Flamengo.
Ontem acordei 05 da manhã e decidi sair de Curitiba para Florianópolis. Movido pelo prazer de ver o Flamengo em campo eu fui, sozinho. E ainda que agora pareça que tudo justifique a vergonha de ontem, desde o momento em que cheguei ao estádio comecei a perceber coisas fora do normal para o Flamengo. Quando o time chegou ao estádio era um contraste estranho, paradoxal.: De um lado uma torcida apaixonada cercando o ônibus, cantando o hino, aplaudindo, vibrando, esperançosa. Do outro alguns jogadores indiferentes... Eu olhei e pensei alto (e ainda bem que ouviram meu pensamento).: “Como podem estar indiferentes a essa festa, a essa torcida ??” Quem esteve ontem no Scarpelli e viu a chegada do time entende bem o que quero dizer. Era o Flamengo, até então 11º colocado no campeonato, jogando fora de casa, desfalcado, chegando e encontrando essa festa toda. Não consigo imaginar que um jogador possa ser indiferente a essa torcida. Definitivamente não !! Sei lá, se tínhamos ontem 15.000 pagantes, acredito que 6.000 eram Flamenguistas. Eu olhava para nossa torcida e imaginava “Puxa, hoje dá Flamengo”... mas esqueci que estava olhando para a torcida e não para o time que entrava em campo. Fomos 6.000 testemunhas de um time com três zagueiros e um meio campo totalmente não criativo que tomou 4 gols, como tomou gols no Uruguai, assistindo. Um time que, palavras de nosso técnico, “foi contratado do jeito que ele queria”. Essa é a sua culpa Ney, esse é o time que você pediu. Foram esses jogadores que formam um time que você disse, há poucos meses, ser “capaz de disputar qualquer título”. A sua culpa Ney Franco é a de ter vendido a idéia da mediocridade para essa torcida. Não nos obrigue a engoli-la, somos a torcida do Flamengo.
E por último quero contar um fato de ontem também.: Na saída de campo corri para o alambrado atrás do vestiário do Fla e logicamente os jogadores estavam ouvindo algumas palavras coerentes com o desempenho em campo. Ao meu lado havia um pai com um garotinho de sei lá, 6 anos se muito, que logicamente não entende nada do que é perder de 4 para o Figueirense, sobre tomar tantos gols em um esquema de três zagueiros, sobre não ter peças de reposição no banco, sobre um time que não incorpora algo que tão claramente define um time do Flamengo que é raça. O goleiro Bruno, sendo chamado por alguns de mercenário (não entro no mérito de ser justo ou não ser chamado assim) ofendeu a todos com gestos obscenos. O garotinho que não entende várias das situações que acima citei perguntou ao pai, na mesma hora.: “Pai, porque ele fez isso para a gente ??” Ainda bem que não me coube explicar isso a ele uma vez que nem eu mesmo entedi isso...
Mas quis procurar entender... E entendi que isso aconteceu porque não só ele mas tantos outros não tem raízes, compromisso, amor às cores do Flamengo. Aconteceu porque para ele a torcida do Flamengo é qualquer coisa, é algo que pode ser pisado não só pela ofensa de sua atitude mas pelo descompromisso de quem tem usado o manto em campo atualmente. Aconteceu porque dentro do Flamengo de hoje pouquíssimos são os que entendem a dimensão de nossa torcida que nada mais é do que o maior patrimônio desse clube. E não me digam ser isso impossível pois há não muito tempo o goleiro que tínhamos lutava como ninguém para pegar tudo, para salvar o time do rebaixamento e muitas vezes, vendo que seu esforço tinha sido em vão diante de mais uma derrota, ele saia cabisbaixo, chorando muitas vezes, ao invés de sair mostrando dedos para a torcida. O Sr. Bruno e todos os jogadores que, mesmo sem mostrar seus dedos para nós, desdenham do nosso compromisso com o clube sendo indiferentes a cada vergonhosa derrota devem entender que o Flamengo só não enfrenta uma crise maior porque tem uma torcida que vive um amor incomparável pelas suas cores. Entendi que o que falta é identidade... A maioria desses jogadores e o nosso técnico não sabem e nunca saberão o que é ser Flamengo.
Não estamos indo aos estádios ver o Flamengo que amamos. Definitivamente não é esse o Flamengo que tanto amamos....
É isso amigo, Saudações Rubro Negras
Hermínio
segunda-feira, 11 de junho de 2007
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