Logo que chegou ao Flamengo, Bruno conquistou a torcida. E não foi por acaso. Belas defesas, muita segurança, excelente reposição de bola. Era um novo grande goleiro mostrando as caras. Neste campeonato brasileiro corrente, Bruno não parece mais o mesmo. As falhas, antes raras, têm sido constantes. A segurança desapareceu. A agilidade, sumiu. Os braços, como por encanto, encolheram. O que teria acontecido com o promissor goleiro?
Há quem diga que a indefinição sobre seu futuro tem atrapalhado a concentração de Bruno. É possível. O guardião da meta rubro-negra vive uma situação kafkiana. É desejo do jogador permanecer no clube por, pelo menos, mais uma temporada. Assim também pensa a diretoria flamenguista, que colocou na mesa do atleta uma excelente proposta para a renovação do contrato. O próprio empresário do jogador, o Sr. Eduardo Uran, já manifestou publicamente que o melhor para o goleiro seria ficar no Rio por mais algum tempo. Mas mesmo assim, a situação segue indefinida e a partir do dia 30 o jogador deverá treinar em separado do restante do grupo. O motivo? Bruno não pertence ao Flamengo. Nem ao Sr. Eduardo Uran. Na verdade, Bruno não pertence sequer a ele mesmo. Os direitos federativos, nome pomposo para o extinto (?) passe do goleiro são de um grupo de investidores ligados à MSI. E os tais investidores estão interessados mesmo é em reaver o dinheiro investido no atleta.
Quando foi criada, a Lei Pelé, que acabaria com o passe no futebol brasileiro, foi saudada como o fim da escravidão no esporte. Os jogadores seriam livres para melhor negociarem os seus futuros. Não mais seriam reféns da ganância de dirigentes inescrupulosos. Não foi bem assim que a coisa aconteceu. De fato, os clubes hoje têm quase nenhuma ingerência sobre o destino de um atleta. Mas os jogadores continuam sem poder decidir o que fazer das suas carreiras. Primeiro surgiu a figura do empresário, que negociava jogadores a granel e, para burlar a legislação vigente, os registrava em clubes fantasmas como os tombenses da vida. Agora, são os fundos de investimento que compram os jogadores, os emprestam a equipes mundo afora em busca da esperada valorização da aplicação que fizeram. Não é ilegal. O problema é que a extinção do passe tinha como objetivo principal garantir a liberdade do atleta em decidir o seu destino. E, como mais uma vez vemos acontecer no caso de Bruno, isso está longe de acontecer.
A Lei Pelé veio carregada de boas intenções. Mas não funcionou. Afundou ainda mais os clubes no caos financeiro em que se encontravam, enriqueceu um monte de gente que pouco ou nada tinha a ver com o jogo e manteve os atletas presos a um dono. A escravidão no futebol brasileiro não acabou. O que mudou foi o feitor.
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