Tempo perdido
Em um dia das mães, alguns compromissos ganham prioridade e, por isso, vi pouco - bem pouco - da derrota de hoje. Apenas um trecho mais pro fim do segundo tempo, quando saiu o quarto gol do Palmeiras. Então, não posso falar com grande propriedade da partida.
Mas nesse pouco que vi, pude ver Léo Moura recebendo a bola na intermediária de ataque, bem pelo meio, bem longe de sua posição original. É algo que já tinha visto no jogo contra o Defensor: ele volta e meia se colocando como meio-campo, enquanto Claiton ocupava a lateral. Não é esquisito? Um lateral jogar na meia e um meia de lateral?
Até é, mas me lembrou outras tantas revoluções táticas que já vi neste time. Como o meia destro Renato Augusto jogando de ponta esquerda; ou o time com dois laterais esquerdos, Angelim e Juan, contra o Defensor. São coisas estranhas que acontecem, você não entende bem por quê, mas daqui a pouco somem.
Existe uma descrição que cabe bem em equipes em que coisas assim acontecem: time de pelada.
Do início do ano até um determinado momento da temporada, nós tínhamos um time que parecia promissor e aplicado, com alguns problemas mas também com qualidades reconhecidas por todos - dentre essas, destacavam-se as jogadas pelas laterais com nossos "alas". Dos problemas, cito os espaços na defesa e um especialmente irritante pra mim, a falta de organização e eficiência na saída de bola, algo crônico.
Com o time jogando assim, tivemos alguns momentos de futebol interessante - contra o Paraná aqui e lá, contra o Boavista (perdemos um caminhão de gols, mas criamos muito), o primeiro tempo contra o Maracaibo, enfim. Aí, aconteceu de nos classificarmos com antecedência para as fases seguintes do Carioca e da Libertadores. Começamos a jogar com o time reserva e, mesmo quando tínhamos os titulares, a concentração não era a mesma. Foi um tempo perdido na temporada.
Há pouco, voltamos a ter algo sério com que nos preocuparmos: as finais do Estadual, as oitavas da Libertadores. Mas não se começa a jogar bem simplesmente porque se quer, o time tem que estar acostumado com isso. E o fato é que o que vemos são os antigos problemas permanecerem lá - a zaga tá aberta, a saída de bola não existe - e o que tínhamos de bom parece que se perdeu após este tempo. Nestes últimos jogos vimos mais foco, mais vontade, mas não dá pra dizer que tivemos um time jogando bem, com jogadas organizadas, boa movimentação, enfim. O Flamengo não sabe girar o jogo de um lado pro outro, os laterais não têm apoio quando recebem a bola, as jogadas se afunilam o tempo inteiro... De vez em quando aparece algum resquício do trabalho anterior, como o segundo gol do Renato contra o Defensor, numa jogada ensaiada que já vimos se repetir ao longo do ano algumas vezes. Mas são espasmos, o time não tem consistência, não consegue se manter em um sistema com eficiência por mais do que 15 ou 20 minutos seguidos.
O tempo perdido está pesando. Foi um período em que o time perdeu o ritmo de jogo à vera, de tanto relaxar em jogos em que se achava que pouco estava em disputa; e com muitas mudanças táticas e experiências múltiplas que não deixaram como herança várias opções treinadas a serem utilizadas, mas sim uma impressão forte de desorganização generalizada.
Bom, acho que Ney Franco deu mole nisso tudo. Mas não sou a favor de sua saída; seria jogar fora tudo o que se fez no ano, desde a montagem do elenco, e passar atestado de incompetência pra se planejar uma temporada. Além do mais, seria pra colocar quem? Joel?
Mas nosso treineiro precisa agora recolocar seu trabalho nos trilhos. Parece que ao menos chegou a uma formação básica para o time; pois que insista nessa estrutura, lhe dê conjunto e ritmo e trabalhe focado nos problemas da equipe. Está na hora de percebermos que há uma evolução de jogo pra jogo, que o que estava errado na partida anterior está um pouco melhor nessa, e assim por diante. O Brasileiro é uma competição longa, que exige consistência e regularidade; invencionices a cada rodada não funcionam, a receita é concentração constante e simples trabalho. Espero que Ney Franco confie no dele.
Mais um gol do Renato Augusto de fora da área. Espero que meu palpite, que dei aqui várias vezes, esteja mesmo certo. Eu sempre achei que ele sabe chutar (eu vi ele chutando antes de subir pros profissionais, caramba), mas se perdia por ansiedade e nervosismo na hora de concluir. Pegando confiança, vai começar a acertar com mais frequência.
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