sexta-feira, 15 de abril de 2005

Os dois B de Márcio Braga

Dezembro de 2003. Hélio Ferraz se preparava para entregar o cargo para Márcio Braga. Esperança rubro-negra renovada, contrato com o patrocinador renovado. Júnior, ídolo e recordista de jogos pelo clube, estava contratado para diretor-técnico. O oitavo lugar no Brasileiro dava confiança de que, com a base mantida, o clube poderia fazer uma boa campanha na temporada seguinte.

O ano de 2004, todos nós já conhecemos e lamentamos. Júnior segurou a onda até o final do Estadual e sabia que, sem reforços, o time não iria fazer bom papel no Brasileiro. Não só sabia, como falou para Deus e o mundo. E estava certo. Estava, também, sem ação, sem ter como contratar qualquer jogador, porque o clube não recebia da Petrobras. Eis que no auge da crise, o presidente viaja pros EUA e se refugia no reino dos patetas, enquanto seu substituto gasta milhões de reais para trazer um atacante, mesmo com o elenco há três meses sem receber um centavo. Com o grupo dividido e constantes mudanças de treinador, sabe-se lá como nos salvamos do rebaixamento pela terceira vez em quatro anos. Após o último jogo da temporada, Júnior, isolado após o caso Dimba, anunciou sua saída. Era inevitável. Parecia dizer que este Márcio Braga ele não conhecia.

Então, o presidente anuncia o novo vice-presidente de futebol, oriundo do remo, e um gerente remunerado para tocar o departamento mais importante do clube: Biscotto e Barros. Surgem as primeiras especulações: Tite, Celso Roth, Cuca... Parecia tudo certo. Um bom planejamento, como diz a regra e o bom senso, deve começar cedo. Começou cedo, mas começou todo errado. Os dois B, dupla nova no pedaço, inventaram um metido a intelectual como técnico, especializado em cartilhas e questionários, próprios para alunos da Tia Helena, na classe de alfabetização mais próxima de sua casa.

Não dava pra levar a sério essa dupla. Nenhum trabalho que se preze merece começar desse jeito, ainda mais no maior clube do país. Chegam os reforços: Fabiano, Adrianinho e Marcos Denner ("Eu achava que ele era bom", disse Biscotto, após o Estadual). Onde já se viu contratar achando que o jogador é bom? Mostrou que não conhece futebol e não tem vivência no ramo (cá entre nós, nenhuma novidade). Ah, chegou também um reserva do Volta Redonda, indicado por esse treinador, após ver o seu time ser humilhado pelos reservas do time da cidade do aço.

Iniciava, então, a política pés-no-chão. Valorizar uma prata da casa de talento duvidoso (salvo raras exceções) aliada a veteranos amigos da ruindade ou em plena decadência. Perfeito. Isto tudo com um orçamento maior do que o do ano anterior. Era ou não era uma pura, clara e cristalina demonstração de incapacidade?

Começa o Estadual e os resultados não nos deixam mentir. Na torcida, os otimistas cegos chamam de anti-flamenguistas os torcedores que criticam a diretoria, o time e os jogadores. Eu confesso que não via a hora de o Leal sair do time. Aquilo ali não era Flamengo, era alguma coisa vestindo vermelho e preto. Então, menos de dois meses depois, os dois B consertam a besteira que fizeram. Trouxeram Cuca, técnico da nova geração, com boas passagens por Paraná, Goiás e São Paulo.

Novamente, como o rubro-negro não desiste nunca, esperança renovada. Promessa de reforços ("Cinco ou seis", pediu Cuca), de ver um time arrumado, enfim, de acreditar. "Vamos melhorar, é questão de tempo", empolgava-se a torcida. Chegaram poucos, apenas um indicado pelo treinador. O time melhorou na força, o esquema encaixou, mas faltavam peças para seguir adiante. Cuca não cansou de pedir essas peças, queria levar o Flamengo (clube em que sempre sonhou em trabalhar desde os tempos de jogador) pra frente.

Só depois do sacode no Estadual é que esses dois B descobriram que o time era limitado. Eu só não sei qual deles descobriu primeiro, mas com certeza deve ter demorado umas três semanas para avisar pro outro. O discurso de Cuca era o mesmo: "Quero reforços".

E foi o mesmo até hoje à tarde, demitido quando chegava para o treino e seu irmão já estava no campo para iniciar o trabalho, segundo a Rádio Globo. No site oficial, foi anunciada a saída do treinador como um "consenso entre técnico e diretoria". Agora, que consenso é esse? Conta outra! São incapazes até de assumir total responsabilidade? Consenso, mesmo, pode haver entre nós torcedores, quando tudo leva a crer que esses dois B foram a pior cagada de Márcio Braga na história do Flamengo.

Flamengo Net

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