segunda-feira, 18 de abril de 2005

Estão acabando com os times brasileiros

Será que não percebem que os times brasileiros estão morrendo? O futebol segue bem, tá enriquecendo muita gente, mas os times estão definhando.

O futebol no Brasil nasceu em clubes aristocráticos, cujos times eram formados por jovens sócios que jogavam por diversão. Veio o profissionalismo, e os times passaram a ser constituídos por jovens pobres, contratados e pagos pelos clubes com a renda dos jogos. Neste meio tempo, o futebol se tornou uma paixão nacional.

Aí veio a década de 80 e começaram as vendas para a Europa. Mas nesta época o padrão era diferente: geralmente os contratados eram jogadores consagrados, de seleção, já beirando os 30 anos. Deixavam seu times como ídolos, e seus fãs ficavam estando à espera da sua volta para encerrar a carreira.

A partir daí, os salários foram aumentando, e a idade de contratação foi diminuindo. Nós, rubro-negros, vimos nossos times sendo desmontados sistematicamente, um após o outro. A força dos principais times dos grandes centros (RJ,SP,MG,RS) se devida ao fato destes times contratarem as grandes revelações do país inteiro. E os jogadores vinham pra ficar, só saíam quando perdiam a posição para alguém melhor, encerravam a carreira ou tinha algum problema pessoal com a diretoria.

E como estamos hoje, salários absurdamente inflacionados (acho que um escândalo que jogadores ganhem salários na casa do milhão), jogadores que saem do Brasil com 20 anos de idade, clubes obrigados a repor continuamente seus elencos com novas revelações das divisões de bases, para acabarem sendo vendidas também.

O futebol brasileiro não é mais composto por times que contratam jogadores, mas por empresários que são seus verdadeiros donos, negociando-os de acordo com seus interesses econômicos pessoais. Assim, num exemplo fictício, ?Zezinho?, revelação do Cruzeiro, se transfere para um time russo, devido a ?proposta irrecusável?. Passam-se seis meses, e Zezinho está triste, e volta para o Brasil, contratado pelo Atlético-MG.

Ganha o empresário, que vai faturar na ida e vinda.

Perde a torcida, que perde um jogador importante, e agora tem que vê-lo jogar no rival.

E, perde o jogador, que vai até ganhar dinheiro, mas passará a ser hostilizado pelos torcedores, e levará a fama de ?mercenário?. Depois de algum tempo, deixará o Atlético por outro clube. Mesmo que venha a ser titular da seleção, jamais será ídolo, pois terá nenhuma torcida lhe admirando. É a vinculação forte a um clube que faz como o jogador vire ídolo.

O que move o futebol é a paixão e fidelidade dos torcedores, a verdadeira fonte de todo dinheiro que circula pelo mundo futebolístico.

Não temos e jamais teremos a menor condição de competir com a exportação contínua de jogadores para a Europa. É impossível um time ter que se renovar a cada temporada. Constantemente vemos o absurdo de times campeões da Libertadores chegarem à decisão do Mundial com boa parte de seus craques contratados pelo campeão europeu. Simplesmente não há solução: se associar a grandes empresas de marketing esportivo só significa dar-lhes a exclusividade na venda dos nossos próprios jogadores.

Ao contrário do que é normalmente repetido na mídia, eu não acredito que o futebol europeu seja milionário porque há ?seriedade?, ?o torcedor compra carnê?, ?a estrutura é profissional?. Isto é pode até ser verdadeiro em parte, a verdade nua e crua é que o futebol europeu é uma gigantesca lavanderia de dinheiro sujo. Alguém acredita que não haja nada de ilegal na enorme fortuna de times gregos, russos, espanhóis, italianos, portugueses, cazaques, quirguizes, etc.? Só como dado, importante lembrar que no período da Operação Mãos Limpas, o futebol italiano quase acabou. Curiosamente, a partir desta época, o dinheiro migrou para a Espanha... E lembram da década de 70, quando alguns jogadores eram contratados por times mexicanos? De onde sai tanto dinheiro? Para competirmos na mesma arma, teríamos que lutar com as mesmas armas, o que transformaria os clubes brasileiros em verdadeiras organizações criminosas. Com certeza muitos ficariam felizes (e milionários) com este cenário, mas eu não consigo aceitar.

Ou a CBF toma uma atitude e limite as negociações de jogadores ou veremos todos os times brasileiro sumindo ou se descaracterizando. Tem que haver alguma limitação: pode ser uma cota por quantidade ou idade (por exemplo, só vender jogadores acima de 27 anos), pode ser uma sobretaxa, ou até mesmo a proibição simples.

Sei que muitos dirão: mas e o livre-mercado? E o direito deles de enriquecer?

Eu sou torcedor, e minha prioridade é não ver meu time não ser desmontado a cada ano.

Ou construímos barreiras ou então o futebol continuará caminhando para a extinção.

Mas sei que é uma luta em vão, seria necessário um grau de organização e de união das torcidas, e uma postura ideológica que jamais conseguiremos, até por que sempre haverão com os que locupletam com a decadência do nosso triste futebolzinho. E são eles que dão as cartas...

Flamengo Net

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