Otimismo da vontade, pessimismo da inteligência
Vejo que muitos torcedores entregam-se a um certo niilismo ("tem que descer mesmo"), deduzido da correta percepção de que os desmandos na Gávea parecem não ter fim. Realistas, pragmáticos, cientes da fragilidade da instituição, esses torcedores parecem ter desistido do time, esquecendo talvez que a "entidade" Flamengo não se resume nem aos onze jogadores em campo , nem aos dirigentes e treinadores que estão por lá. Rebaixar o Flamengo é rebaixar uma história que é maior que seus protagonistas atuais. Por outro lado, outros torcedores parecem ter uma fé mística na salvação do Mengo. Riem diante do precipício, como se a Segunda Divisão fosse apenas um fantasma incapaz de fazer mal a ninguém, e possuem a certeza juvenil de que nada pode nos "derrubar". Entre os dois tipos, acho melhor ficarmos com Gramsci.
Temos que manter o senso crítico e aguçar cada vez mais nossas análises do time e do clube. Não dá para ser condescendente com os que mancham o Flamengo, sejam eles jogadores ou diretores ! Situações como esta são oportunas para a discussão de nossos problemas e para a lavagem de roupa e, nesse sentido, nossa inteligência deve estar protegida dos desvarios de nossa paixão. Ao mesmo tempo, devemos estar imbuídos do otimismo dos que têm uma convicção profunda . Não negarmos nossa paixão, mas usa-la como combustível na arquibancada e fazer surgir a "entidade" Flamengo. Só os apaixonados agem com decisão e são capazes de transformar sua ação numa força real e transformadora. Na hora das batalhas finais, não dá para ficarmos repetindo que "este time não merece minha torcida", pois nós fazemos parte da história e da tradição do Flamengo! Ele não é algo externo, um simples clube, mas sim uma parte integrante das nossas vidas.Se os jogadores não fazem jus às primeiras linhas de nosso hino, que nós façamos. E quando a vitória vier (uma vitória pouco honrosa, mas ainda assim uma vitória), nossa inteligência crítica vai manter afastado o ufanismo de dirigentes, suas promessas irrealizáveis e a crença de que "agora está tudo bem". Assim, ciente do estado lastimável de minha paixão, mas convicto da força dela, desejo a todos força para aguentar as próximas seis rodadas. Que vengam los toros!
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