Junior, 1000 jogos - Texto 23 - Memórias - Por João Areosa
Pedem-me um depoimento a respeito do Júnior. Ai de mim, um desmemoriado que da festa do futebol só guarda a vibração de um gol, a comemoração de uma conquista, a taça, a volta olímpica e muito pouco além disso. Eu, um desmiolado que se afoga no prazer da farra e que no dia seguinte, esquecido de tudo, semi-embriagado pela ressaca e com hálito de cabo de guarda-chuva, mal sabe relatar com clareza um gol ou um mísero lance que preste.
Não tenho histórias para mostrar. Vivo delas, mas não sei contá-las. Acredito até que já tenha sabido contar histórias anos atrás. Hoje, talvez por velhice, talvez por desencanto, sei lá, o máximo que posso relatar - e mal - são imagens entrecortadas e amareladas pelo tempo. Júnior foi, é e será aquele craque brilhante que jogava fácil e que me encantava a cada lance, a cada passada, a cada matada de bola.
Jogador que só abaixava os olhos para dar à bola a primeira impulsão. Dali em diante, corpo ereto, cabeça erguida, Júnior parecia o dono do campo, cargo que exercia com elegância, valentia, classe e competência. Cabeça erguida. Sempre!
Júnior? Júnior é o Flamengo dos pés à cabeça. Flamengo de corpo inteiro. Cara e jeito de Flamengo. Alma? Ora bolas, rubro-negra. Apaixonada, por sinal.
Mas a imagem que me chega - o que posso fazer? - não é rubro-negra nas cores, só na essência. Imagem de um Maracanã lotado, gente a sair pelo ladrão, a Alemanha a nos causar problemas e Júnior, ao apagar das luzes, como dizem os locutores, a desferir uma pancada de arrebentar com as redes. Gol, golaço, momento histórico dos confrontos Brasil x Alemanha. Quando? Escolham uma data. Esse gol se eternizou.
Imagens sem bola? Uma triste. Júnior trocando o Flamengo pelo Torino. Uma alegre. Júnior voltando para casa, para o seu Flamengo. O resto é história. E das boas.
* João Areosa foi subeditor de esportes de O Globo, editor de esportes do Jornal do Brasil, chefe de esportes da Rádio Continental, diretor de programa da Rede Manchete de TV, editor da GloboNews, editor da Globo, repórter da Última Hora e (ufa!) chefe nacional de reportagem da PLACAR e escreveu, com muito orgulho, esse texto para o Blog da Flamengo NET.
sexta-feira, 22 de outubro de 2004
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