sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Junior, 1000 jogos - Texto 22 - Pedaços e flashes sobre Junior em dois atos - Por Carlos Alberto Vieira*

Ato 1

Tenho um amigo que costuma dizer que Júnior, Leandro e Zico formam o triunvirato autêntico do Flamengo. Eles foram os campeões mundiais de 81 que jamais defenderam outro time no Brasil. De tanto que ele falava (não o vejo mais há anos, viajou para outro estado e sumiu) esse ponto de vista acabou fixando sempre que eu lembro de um dos três.

Desse trio, Júnior é o que eu considero o mais próximo. Um primo, ou um tio na linguagem atual, tendo em vista a diferença de idade.

Afinal, ele era de Copacabana, meu bairro de infância e adolescência. Vez por outra trombava com ele tocando pandeiro na Figueiredo. Depois, adorava um fuebol de praia, como eu. Tudo bem que tinha uma senhoooooooooooora diferença. Eu, um ferrenho torcedor do Copaleme. Ele, garoto-propaganda do Juventus, time do Nena (seu irmão bom de bola) e do Carlinhos.

Mas isso era o de menos. Júnior era uma mola-mestra do meu Flamengo. E sua influência na garotada de Copacabana rendia frutos. Meu amigo de Escola Roma, o Dal, pouco depois se tornaria o seu sucessor na lateral quando o Leovigildo foi brilhar na Itália. Pena que o Adalberto (Dal era só prá turma de praia) quebrou a perna, né Júnior!

Teve também o Galocha. Esse um legítimo craque das areias do Leme, do Copaleme, do Embalo. Também virou lateral. Só que lateral direito. Também jogou pelo Flamengo. Porém, sempre foi mais craque na praia. Nunca vingou.

Teve o Beto, eu. Que não jogava nada. O jeito era seguir para o Maracanã, cantar sambas de enredo no intervalo dos jogos e comemorar muitas vitórias naqueles idos entre 1976 e 1983.

E quase sempre tinha um show de bola do Júnior. Uma jogada genial, um lance de raça (lembram o gol do Nunes na final de 81. pensei que o Júnior tinha quebrado a perna naquela dividida quando a bola sobrou pro artilheiro das decisões?).

Certo dia fiquei injuriado junto com o Júnior. Foi em 84. Num jogo contra o River do Piauí, com a vitória assegurada, o juiz resolveu expulsar o craque após uma falta comum. Foi a sua primeira expulsão. Isso fez ele perder o Belford Duarte (prêmio para o jogador que não leva vermelho no intervalo de dez anos). Ele esbravejou nos rádios após a expulsão. Esbravejei junto.

Também já fiquei uma fera com ele. Quando voltou para o Flamengo, no fim dos anos 80, andava numa fase..... cheguei a vaiá-lo.

Ato 2

Mas ele deu a volta por cima. E creio que a imagem mais marcante dele eu tiro do Brasileiro de 92, o último que o Flamengo venceu.

Júnior era o líder de um time desacreditado que até as últimas rodadas estava muito longe da classificação para o octogonal. Nesse campeonato teve um jogo do Fla com o Sport. No Maracanã. O Flamengo perdeu por 2 a 1. O gol Rubro-Negro foi do Júnior. Um golaço, lá do meio de campo, encobrindo o goleiro. Só que não tive o prazer de ver o gol. Não estava no Maracanã e a televisão perdeu o lance. Que zica, pensei. Pior impossível. Tudo contra. Já era.

No dia seguinte escutei o de sempre, os jogadores dizendo que tentariam a recuperação, que uma vaga poderia ser do Flamengo caso ele vencesse todos os jogos. Óbvio que o Júnior foi entrevistado. Ele falou que o torcedor tinha que acreditar no manto sagrado e apoiar o time pois a partir de então era o tudo ou nada.

Resolvi lembrar que eu sou um otimista incorrigível e dei o voto de confiança. Iria assistir a todos os jogos, até o Flamengo não ter mais chances. Estava lá contra o Paysandu ( 4 a 1); contra o Goiás (3 a 1) e na classificação contra o Inter (2 a 0, gol do Júnior). O time que estava quase eliminado terminou em quarto lugar!!!! No octogonal, dois grupos de quatro. Lá fui eu ver o gol de falta do Rogério contra o São Paulo (1 a 0). O empate maluco com o Vasco em 1 a 1 que o junior fez gol a favor e gol contra. Logo depois, a vitória contra o mesmo Vasco, com o Júnior fazendo gol (foi esse o olímpico? esqueci, Júnior) e o time vencendo por 2 a 0. Por fim, fui aos 3 a 1 contra o Santos (que drama, a torcida de ouvido no rádio esperando uma vitória do Vasco sobre o São paulo. Nunca vi o Flamengo comemorando gol do Vasco, só nesse dia). O Vasco venceu e fomos para a final. Aí veio a primeira partida da decisão com o Botafogo. Dia 12 de julho de 1992. Flamengo 3 a 0. Júnior fez o primeiro e foi o melhor em campo. Esse jogo eu não fui. Estava na lua-de-mel. Vi pela TV numa fria São Lourenço. Imagine a minha alegria. Junior me deu um dos melhores presentes de casamento que recebi. No domingo seguinte estava na festa do penta. empate em 2 a 2, com direito a um golaço de falta do velho Leovigildo levantando a taça de campeão e de melhor jogador do campeonato. Mais marcante, impossível.

* Carlos Alberto Vieira é ex-setorista de Seleção Brasileira, com passagem pelo Jornal dos Sports eatual editor de futebol internacional do Lance!

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