terça-feira, 10 de julho de 2012
Alfarrábios do Melo
Saudações
flamengas a todos. E o pupilo do Léo Rabello segue tentando
convencer que esse bando que ele coloca em campo está se
transformando em um time. Sair satisfeito com a atuação do time
após uma DERROTA pode estar adequado para seu sangue vascaíno. Para
mim, JAMAIS estará bom.
Daí
que eu me lembrei de um texto que deixei publicado há alguns anos,
no blog do site oficial da época. Resgato esse texto hoje. Boa
leitura.
Fleitas
Solich – O valioso legado do Feiticeiro
Imagine-se
o Flamengo numa decisão que literalmente está parando o país.
Jornais e rádios só falando no jogão, o time perto de ganhar um
título que, se confirmado, será lembrado com destaque na história
do clube. Pois o treinador flamengo, para esse jogo crucial, barra o
seu artilheiro e coloca um garoto que ainda está se firmando no
elenco. Não satisfeito, mexe na base do sistema defensivo sacando
um de seus principais jogadores e põe em seu lugar um atleta que
praticamente não vem atuando. Uma decisão à primeira vista
temerária, quase irresponsável, atitude inconseqüente, de maluco.
Ou de um bruxo.
A
história do treinador paraguaio Fleitas Solich no Flamengo se inicia
com a conquista, pelos paraguaios, do Campeonato Sul-Americano de
1953, torneio em que os campeões, comandados por Solich, derrotaram
o Brasil na final, em Lima. A aplicação tática e o caráter
aguerrido da equipe chamaram a atenção da diretoria do Flamengo,
que viu em Solich o substituto ideal para Flávio Costa, desgastado
na Gávea. Eram tempos difíceis, o Flamengo vinha num jejum de
títulos que chegava ao seu nono ano. Inspirado pelas boas
experiências recentes com atletas paraguaios (Modesto Bría, Garcia
e Benítez), a diretoria flamenga decidiu apostar em Fleitas Solich
para comandar um processo de renovação de elenco e mentalidade.
Ao
chegar, Don Fleitas mostrou-se bastante satisfeito com a qualidade do
elenco e praticamente não pediu reforços. Logo seu jeito
espontâneo, paternal, bonachão e bastante exigente começaram a
conquistar a Gávea. Sem falar na sua assombrosa capacidade de
realizar leituras táticas que deixavam jornalistas, dirigentes e
torcedores sem fôlego. Fleitas era capaz de modificar o panorama de
uma partida simplesmente mudando a função de um jogador com o jogo
em pleno andamento, algo que hoje soa banal mas que não fazia parte
da realidade do engessado futebol brasileiro dos anos 50. As
intervenções de Fleitas justificavam plenamente o apelido de “El
Brujo”, ganho no Paraguai. Rapidamente Solich passou a ser
conhecido como o “Feiticeiro”.
Fleitas
Solich era adepto do futebol solidário, mostrando-se bastante à
frente do seu tempo. Pregava a compactação dos setores, treinava à
exaustão jogadas em que os médios (precursores dos laterais de
hoje) avançavam recebendo a cobertura dos homens de frente.
Costumava montar formações que atuavam com um posicionamento
bastante avançado, trocando bola rapidamente e desenvolvendo intensa
movimentação. Numa época em que se valorizava o individualismo de
dribladores e goleadores, a visão coletiva de Fleitas causou uma
revolução no ambiente do futebol da Gávea.
E
logo os resultados viriam. Aliando sua privilegiada visão tática a
uma aguda capacidade de revelar jogadores, Fleitas Solich montou uma
das melhores equipes da história flamenga, um time que possuía um
ataque devastador, que se movimentava de forma insana, levando
defesas adversárias ao desespero. Era o “Rolo Compressor”, que
conquistou sem nenhuma dificuldade os campeonatos cariocas de 1953 e
1954, empilhando goleadas. Nesse período o Feiticeiro lançou ou deu
mais espaço a nomes como os atacantes Zagalo, Paulinho, Evaristo,
Henrique, Dida e Babá, dando início a uma espécie de revezamento,
em que os jogadores eram escalados de acordo com as características
do adversário, o que ajudou a consolidar o mito do bruxo.
A
sistemática de Don Fleitas foi mantida para a temporada de 1955, em
que o Flamengo marchou para seu tricampeonato. Mas o campeonato foi
bem mais difícil, algumas desavenças começaram a surgir (como a
barração do virtuoso e individualista Rubens, que antes de Fleitas
era a estrela do time). Mesmo assim, o time chegou às finais. E eis
que retornamos ao início do texto: estamos na grande decisão, jogam
Flamengo x América. O Flamengo vence a primeira (1-0), mas é
massacrado na segunda partida (1-5), o que provoca a negra. O jogo
para a cidade, até o presidente eleito vai ao Maracanã. Fleitas
surpreende a todos e tira o atacante Paulinho, artilheiro do time,
pondo o garoto Dida em seu lugar. Dida ainda era reserva, e apesar de
mostrar qualidade, não parecia pronto para assumir a posição de
titular, ainda mais numa final. Além disso, o Feiticeiro saca o
médio Jadir, um dos principais nomes da defesa, entrando o
experiente e vigoroso Servílio.
Apesar
da desconfiança por jogadores e torcida, as mexidas de Fleitas se
mostram incrivelmente acertadas. A entrada de Servílio anula
totalmente o jogo aéreo americano, que se mostrara letal no jogo
anterior. Dida, por sua vez, estraçalha e acaba com a partida, e com
quatro gols é o nome da acachapante goleada (4-1) que dá o tri ao
Flamengo. O Feiticeiro atinge o auge de seu prestígio (com o título,
Fleitas chegou a ser cotado para treinar a Seleção Brasileira na
Copa-58. Mais tarde, chegou a dirigir o Real Madrid).
Fleitas
Solich permaneceria no clube até 1957. Ainda dirigiria o Flamengo em
mais três oportunidades (1958-1959, 1960-1962 e 1971), em que
conquistaria o Rio-São Paulo de 1961. Mas seu legado é muito maior
do que os títulos conquistados. Com Fleitas, o Flamengo consolidou
sua imagem de equipe ofensiva, que joga pro ataque, buscando sempre e
sempre o gol, marcando quatro gols a cada três sofridos. O
Feiticeiro foi o responsável pela ascensão de alguns dos mais
importantes jogadores da história flamenga, como os goleadores
Henrique e Evaristo, o meia-atacante Gérson (o Canhotinha de Ouro) e
o volante Carlinhos (o Violino), entre outros nomes.
Também
é impossível deixar de lembrar a importância de Fleitas Solich na
trajetória de um dos maiores ídolos da história do clube, o
atacante Dida, descoberto quase por acaso no Nordeste e tratado como
verdadeiro diamante por Don Fleitas. Dida, com 264 gols, até hoje
figura como o segundo maior artilheiro da história do Flamengo.
Mas
o que poucos sabem é que o Feiticeiro, já nos estertores de sua
vida flamenga, no árido ano de 1971, ao aceitar o convite para
tentar remontar uma base destroçada, resolveu recorrer às divisões
de base. Interessou-se pelo futebol de um garoto franzino, que já
vinha chamando a atenção. Viu duas atuações do menino e não
hesitou em lançá-lo no time titular, mesmo avisando que o garoto
não iria estourar de início.
Assim,
o garoto Zico começava sua história no Flamengo. O legado de
Fleitas Solich estava, dessa forma, completo.
Fleitas
Solich é considerado um dos maiores treinadores da história do
Flamengo. Possui a espantosa marca de 300 vitórias em 504 jogos, num
aproveitamento de 69,44%. Faleceu em 1984.
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