terça-feira, 26 de junho de 2012
Alfarrábios do Melo
Saudações
flamengas a todos.
O
time segue, e seguirá patinando. Com um esquema que não funciona,
com problemas na montagem do elenco e, principalmente, sem conseguir
mobilizar sua torcida, o Flamengo segue boiando perigosamente nas
camadas intermediárias da tabela, à espera de um sopro, um
movimento, que irá dar-lhe a vida ou o beijo mortal.
Essa
semana, concluo a relação de onze apostas, jogadores que vieram sem
cartaz ou alarde e acabaram se tornando vitoriosos dentro do
Flamengo. Boa leitura.
LIMINHA
(1968-1975)
1968.
Notícias davam conta de que um excelente lateral despontava no
desconhecido Votuporanguense-SP. O Flamengo enviou um emissário, que
gostou do que viu e recomendou a contratação desse lateral, de nome
Cardoso. Mas o time paulista só negociava se a transação
envolvesse um contrapeso. E assim chegou o volante Liminha ao
Flamengo. Enquanto Cardoso teve passagem efêmera, Liminha
rapidamente ascendeu à posição de titular, contrapondo-se
perfeitamente ao futebol refinado do Violino Carlinhos. Robusto,
vigoroso e muito raçudo, Liminha logo passou a ser chamado o
Carregador de Piano. Resistiu à crise do início dos anos 1970 e,
sempre como titular, passou a carregar o piano para estrelas como
Paulo César Caju, Doval, Rodrigues Neto e mais tarde Zico, Júnior,
Geraldo & Cia. Foi campeão estadual e do povo. Sua partida mais
marcante foi a exibição de gala nos 5-2 sobre o Fluminense, na
Final da Taça Guanabara de 1972, quando marcou um belo gol. Após
parar de jogar, permaneceu ligado ao Flamengo, onde chegou a ser
treinador nas categorias de base.
DEQUINHA
(1950-1959)
Sensação
no futebol nordestino nos anos 40, despertou a atenção do Flamengo
quando atuava no América-PE, onde era ídolo. A negociação não
foi fácil, e Dequinha só chegou ao rubro-negro porque o presidente
do clube pernambucano era um fanático torcedor flamengo. Ocupando a
faixa central do campo, era o termômetro do time. Sabia dosar a
temperatura do jogo, cadenciando toques macios ou forçando jogadas
agressivas e verticais. Extremamente habilidoso, Dequinha tornou-se
dono do meio-campo e um dos principais jogadores do Rolo Compressor
que dominou inteiramente o futebol carioca na Era do Segundo Tri. Seu
futebol exuberante o levou à Copa do Mundo de 1954, mas o
temperamento tímido, aliado ao pesado lobby paulista, impediram seu
aproveitamento como titular. Ganhou, pelo Flamengo, o tri estadual e
vários torneios continentais e internacionais. Alinha com Bria,
Carlinhos e Andrade na fantástica relação dos melhores
médios/volantes da história flamenga, e até hoje figura na maioria
das escalações de “melhor Flamengo de todos os tempos”.
LICO
(1980-1984)
O
Flamengo precisava de um reserva para Zico, às voltas com seguidas
convocações para a Seleção Brasileira, e dentro desse panorama
resolveu apostar em um jogador que vinha fazendo sucesso comandando o
Joinville-SC. E assim chegou Lico à Gávea, em uma troca que
envolveu o goleiro Hélio (dos Anjos) e o zagueiro Nelson. Mas Lico,
já com 29 anos e com diversas passagens por outros clubes do Sul
(entre elas uma frustrada experiência no Grêmio), não foi recebido
com entusiasmo, especialmente diante de seu físico esquálido,
extremamente magro. Sem chances, foi reemprestado ao Joinville, e sua
história flamenga parecia ter chegado ao fim, quando Dino Sani
resolveu mantê-lo no elenco, já em 1981. Mais tarde, começou a
chamar a atenção de Carpegiani nos treinos, foi entrando em alguns
jogos e convenceu a todos de que poderia, jogando deslocado na ponta, ser a solução para o
desequilíbrio tático da equipe. Entrou como titular contra o
Botafogo, e os históricos 6-0 mostraram que Lico tinha lugar na
equipe. Assim, o catarinense tornou-se titular absoluto e
protagonista de uma equipe que conquistou a cidade, o estado, o país,
o continente e o mundo. Encerrou a carreira por conta de sucessivas
lesões no joelho.
BEBETO
(1983-1989, 1996)
Iniciou
a carreira nas divisões de base do Bahia, que trocou pelo rival
Vitória por causa de problemas com a ajuda de custo. Seu talento
invulgar fez com que o Flamengo se esforçasse por trazê-lo. De
porte franzino, foi submetido a um trabalho de fortalecimento
semelhante ao conduzido em Zico. Versátil, muito rápido e
extremamente inteligente, adaptava-se a qualquer função ofensiva,
embora rendesse melhor como segundo atacante. Protagonizou com
Romário, nos anos 1980, um duelo que chegou a parar o Rio de
Janeiro. Foi protagonista no festejado Estadual-1986 e no Brasileiro
de 1987, onde formou com Renato uma dupla de ataque devastadora.
Quando estava no auge da maturidade e era ídolo incontestável,
equivocou-se e trocou o Flamengo pelo Vasco, perdendo a chance de se
tornar uma estrela de primeira grandeza. Anos mais tarde retornou ao
Flamengo, mas foi acolhido com frieza por uma torcida ainda
ressentida, e sua passagem foi apagada. Na Seleção, disputou três
Copas, sendo figura importante no tetra em 1994. Hoje seu (talentoso)
filho Matheus tenta iniciar seus passos no time profissional.
EVARISTO
(1953-1957, 1965-1966)
Ainda
no juvenil do Madureira, foi destaque nas Olimpíadas de Helsinque, o
que fez com que os grandes clubes do Rio montassem romarias atrás de
seu futebol. Mas Evaristo preferiu o Flamengo, e seu futebol muito
técnico e letal rapidamente o fez se destacar. Em uma equipe onde
vicejavam goleadores como Índio e Benitez, não demorou a encontrar
seu lugar. Evaristo conseguia aliar uma técnica primorosa a uma
impressionante capacidade de marcar gols. Possuía notável visão de
jogo e senso coletivo, além de ser extremamente inteligente. O mais
perigoso atacante flamengo foi protagonista no tri estadual,
especialmente nas duas últimas conquistas (marcou o gol da vitória
no primeiro jogo contra o América, na final de 1955). Suas
espetaculares atuações contra o Honved de Puskas chamaram a atenção
do futebol europeu, e Evaristo foi fazer carreira na Espanha, onde
conseguiu a façanha de ser ídolo no Real Madrid e no Barcelona. Sua
experiência na Europa o tirou da Copa de 1958, onde seria titular no
lugar de Vavá. Em 1965 voltou ao Flamengo mas, já veterano, teve
passagem mais discreta. Ainda assim, foi campeão estadual mais uma
vez. Após aposentar-se, tornou-se um bem sucedido treinador.
DIDA
(1954-1963)
A
passagem do maior ídolo do Flamengo antes de Zico começou após uma
excursão de um time de basquete do Flamengo ao Nordeste. De folga em
Alagoas, os atletas se encantaram com a exibição de Dida em uma
partida pela seleção local. O garoto foi então contratado junto ao
CSA e passou a ser preparado para brilhar, o que aconteceu já na
temporada seguinte. Sua estreia no time titular foi assombrosa, uma
vez que Dida não tomou conhecimento do consagrado vascaíno Ely do
Amparo e o desmoralizou com dribles e fintas desconcertantes, na
vitória flamenga por 2-1. Imprimia uma velocidade alucinante em
campo, e tinha notável capacidade de finalização, o que o tornou o
maior artilheiro do Flamengo até a chegada de Zico. Formou com
Henrique Frade aquela que talvez seja a melhor dupla de ataque da
história flamenga. Herói do segundo tri (marcou os quatro gols da
finalíssima contra o América), campeão do Torneio Rio-SP, campeão
de torneios pelo mundo inteiro, Dida construiu uma sólida e
respeitada carreira no Flamengo, de onde saiu em 1963, após brigar
com Flávio Costa. Na Portuguesa, mesmo veterano ainda conseguiu a
monstruosa marca de 54 gols em uma temporada. Após se aposentar,
voltou ao Flamengo, onde cuidou das categorias de base.
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