quarta-feira, 30 de maio de 2012

Adidas: Nem Tudo Que Reluz é Ouro



XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Na madrugada de hoje recebi por email esse estudo destrinchando a proposta "milionária" da Adidas. Apesar do autor preferir se manter incógnito vale a pena dar uma lida com atenção para entender direito esse B.O..
Caros Sócios e Torcedores Rubro-Negros.
Recentemente, o blog do Jornalista Renato Maurício Prado publicou, em primeira mão (muito embora a mesma proposta tenha sido objeto de notícias na imprensa à cerca de três meses atrás), que o Flamengo levou ao conhecimento de sua parceira, fornecedora de material esportivo Olympikus, uma proposta “milionária” de R$ 350 milhões por dez anos de contrato, feita pela empresa alemã Adidas.
Nesse contexto, a presente análise tem por objetivo levar o leitor ao entendimento técnico e objetivo da referida proposta, bem como, da sua comparação com o atual contrato em vigor com a Olympikus, permitindo assim que se faça um juízo de valor à luz dos fatos.
Para tal, será preciso inicialmente, que o leitor entenda a mecânica de funcionamento de um contrato do gênero, que difere em muito da simplicidade do contrato padrão de patrocínio. Em seguida, será possível comparar as duas alternativas (Adidas x Olympikus) com base nos valores reais de cada uma, fugindo-se à armadilha de comparar “banana com abacaxi”. Finalmente, a presente análise oferecerá uma conclusão técnica e objetiva à luz dos números.
1 – A NATUREZA DE UM CONTRATO DE FORNECIMENTO DE MATERIAL
Qualquer contrato de fornecimento de material a uma equipe profissional de futebol (seja ela o Flamengo, o Corinthians, o Santos, o Barcelona, o Manchester United, ou qualquer outro clube) é composto de três partes, como se fossem três contratos em um: - fornecimento de material às equipes desportivas do clube; - Licenciamento, que permite à empresa fornecedora vender produtos (as réplicas dos uniformes e outros produtos normalmente têxteis) com a marca do clube no mercado; - - patrocínio, que remunera a utilização da marca do fornecedor no uniforme do clube e a visibilidade conseqüentemente proporcionada a essa marca.
Anatomia de um Contrato de Fornecimento de Material no Futebol


Historicamente, no início, quando do surgimento dos primeiros contratos do gênero (no começo da década de 70), os clubes recebiam apenas o fornecimento de material, já que não era comum a venda da camisa oficial no comércio e, nem ao menos, a marca do fornecedor aparecia no uniforme, não se entendia essa relação como uma entre patrocinador e patrocinado.
Com o passar do tempo, a partir da década de 80, os clubes passaram a reivindicar também, remuneração pela exposição da marca do fornecedor no uniforme, bem como, pelo direito, exclusivo, dado ao fornecedor de se dizer fornecedor oficial daquela equipe.
Finalmente, na década de 90, os clubes passaram a receber além da cota de material, um valor (fixo e posteriormente variável na forma de royalties) como remuneração pela venda de produtos (na época, restrito à réplica da camisa oficial) no varejo.
Na medida em que o tempo passou, cada vez mais o componente de licenciamento tornou-se fator essencial em um contrato do gênero. Com o fim da inflação, o crescimento econômico, além do boom econômico causado pelo surgimento de 40 milhões de novos consumidores na economia brasileira, recém saídos da pobreza, criou-se um novo mercado para consumo de bens duráveis e não duráveis. Esse novo consumidor consome avidamente produtos de vestuário, destaque aí para a camisa (ou camisas) do seu clube de coração. Estava criado um terreno fértil para a explosão de consumo dos produtos licenciados dos clubes, especialmente as réplicas de seus uniformes.
A Evolução dos Contratos de Material Brasileiro
Nesse contexto o Flamengo chegou à expressiva marca de 1,2 milhões de camisas vendidas apenas no primeiro semestre da parceria com a Olympikus, uma quantidade verdadeiramente espetacular, especialmente quando se observa que os maiores clubes europeus vendem entre 1,2 milhões e 1,5 milhões de peças ano.
Assim, é provável que em 2010, o Flamengo tenha sido o recordista mundial de venda de camisas, embora não se possa determinar com certeza.
Os Maiores Vendedores de Camisas do Futebol Mundial (Europeu) Em quantidade Média de Camisas Vendidas Ano

2 - COMPARANDO OS CONTRATOS (PROPOSTA ADIDAS X CONTRATO OLYMPIKUS)
Uma vez contextualizado o ambiente onde se insere um contrato de fornecimento de material, o leitor poderá entender melhor quais aspectos são relevantes na hora de analisar alternativas.
O passo seguinte é resumir e adaptar os valores e outros benefícios gerados por ambos os contratos, de modo a que sejam comparáveis. Assim evitaremos comparar “banana e abacaxi”. Para tal é necessário que se calcule o valor de ambas as alternativas, na mesma data e mesma moeda.
Além disso, é importante analisar benefícios intangíveis, especialmente aqueles ligados à distribuição, fator chave para o sucesso de um contrato do gênero sob a ótica econômica.
Inicialmente, destacamos os valores reais do contrato do Flamengo com a Olympikus, retirados da minuta de contrato aprovada pelos Conselhos do Clube, quando de sua assinatura. Trata-se, portanto, de fato e não especulação. Vamos a eles.
Olympikus, valores anuais em 2009. :
a) Patrocínio – R$ 5 milhões; b) Material Fornecido ao Clube – 106 mil peças de vestuário x preço médio de atacado (R$ 66,00) = R$ 7 milhões; c) Licenciamento – Garantia mínima em royalties ano – R$ 8 milhões (o equivalente à venda de 1,1 milhões de peças) d) Verba de Marketing para o Clube – R$ 1 milhão. e) Total Geral = R$ 21 milhões de reais.
Aqui, duas considerações importantes. Com relação ao item C, a garantia mínima significa que, na hipótese do clube vender mais de 1,1 milhões de peças ano (o que ocorreu já no primeiro semestre de contrato), haveria remuneração adicional. Calcula-se que o clube tenha recebido, adicionalmente, ao final do primeiro ano de contrato (2010), por essa razão, cerca de R$ 4,5 milhões.
Uma questão muito importante é que o contrato possui cláusula de correção monetária anual. Em uma conta simples, com um IGPM acumulado ao longo dos primeiros três anos de contrato, de cerca de 19%, o contrato atual do Flamengo com a Olympikus, já seria em 2012, corrigido, de (R$ 21 milhões x 1,19) = R$ 25,1 milhões ano.
Se considerarmos que faltam dois anos para o fim do contrato, bem como, que a proposta da Adidas vale apenas para 2014, considerando-se uma inflação média de 4% ao ano, 2013 e 2014, podemos estimar que ao final do contrato (2014) a Olympikus estará pagando ao Flamengo R$ 27,1 milhões/ano ao Flamengo.
É a esse valor que a proposta da Adidas deve ser comparada.
Considerando-se que os dados da referida proposta sejam verdadeiros (R$ 35 milhões/ano, por 10 anos), podemos estimar que a proposta esteja dividida em:
a) Material fornecido – As mesmas 106 mil peças ano, porém ao preço médio praticado pela Adidas (R$ 100), como ocorreu recentemente, quando da renovação da empresa alemã com o Fluminense FC. Ou seja – 106 mil X R$ 100 = 10,6 milhões em material. b) O restante, distribuído entre garantia mínima de royalties e patrocínio, totalizando – R$ 24, 4 milhões.
Assim sendo, em resumo para comparação:
Comparativo dos Valores Fixos - Adidas x Olympikus
Valores R$ milhões/ano, em 2014.
Parceiro Material Dinheiro Fixo Total
Adidas 10,6 24,4 35,0
Olympikus 9 18,1 27,1

Portanto, a diferença de fato, entre o atual contrato com a Olympikus e a proposta da Adidas é de R$ 7,9 milhões/ano, a favor da empresa alemã, algo em torno de 29%.
Entretanto, ainda existe um fator importante a ser considerado. Uma vez que parte do valor pago é variável e que não consta no quadro anterior, é fundamental, mesmo que não seja possível determiná-lo com certeza, avaliar o potencial de cada uma das propostas para a geração de receitas variáveis. Lembrando novamente que, como já citado, apenas em 2010, o Flamengo recebeu mais de R$ 4 milhões em royalties adicionalmente ao contrato, em função do volume expressivo de vendas.
Receitas de royalties decorrem das vendas no varejo. Normalmente os clubes recebem cerca de 10% sobre o preço de atacado da peça vendida.
As vendas, por sua vez, guardam relação direta com preço e distribuição (os dois Ps de marketing, mais importantes nesse segmento). Como, no caso do Flamengo, o preço tende a ser semelhante, seja qual for o fabricante, a variável chave para o desempenho das vendas e, conseqüentemente, da receita variável recebida pelo clube, será a Distribuição. Isso é ainda mais verdadeiro para um clube popular como o CRF.
A capacidade de distribuir é função direta de três fatores: - a rapidez na concepção e desenvolvimento dos produtos (já que a dinâmica desse mercado é sujeita a flutuações rápidas e repentinas, pelas demandas causadas por grandes vitórias, derrotas ou títulos); - a capacidade de fabricação; e, - o número de pontos de venda.
Em resumo, para se obter sucesso em termos de volume de vendas, no caso de uma marca como o Flamengo, o parceiro deverá ser ágil em conceber e lançar produtos, ágil em fabricar e possuir grande e eficiente rede nacional de distribuição.
Muito embora seja difícil estimar o potencial de venda variável de cada um dos contratos aqui analisados, dada a natureza subjetiva dos mesmos, é perfeitamente possível analisar os dados relacionados a cada um dos três fatores, para Olympikus e Adidas.
Assim sendo, vamos à comparação:
Comparativo dos Fatores Chave para a Geração de Receita Variável.
Olympikus x Adidas.

Parceiro Fábricas Próprias Concepção dos Produtos Pontos de Venda no Brasil
Adidas ZERO Feita na Alemanha. Prazo: concepção ao lançamento, 3 a 6 meses. Cerca de 1.200
Olympikus 21 Feita no Brasil. Prazo: concepção ao lançamento 15 dias.     Cerca de 10.000
Fica claro que existe uma enorme diferença entre a capacidade de conceber, fabricar e distribuir das duas empresas. É natural que isso tenha forte impacto sobre a receita variável gerada por cada contrato para o Flamengo, especialmente em momentos de grandes vendas (grandes vitórias, títulos, lançamentos de novos produtos, etc.).
Claro, há de se considerar que a Adidas possui distribuição Global e a Olympikus não.
Aliás, um dos aspectos positivos citados na imprensa sobre a proposta da empresa alemã, seria exatamente o acesso do Flamengo à distribuição internacional. Será que isso procede? É público e notório que marcas globais como Adidas e Nike, trabalham sempre, apenas um pequeno grupo de clubes europeus, em sua rede de distribuição internacional.
Recentemente, um episódio envolvendo a Sociedade Esportiva Palmeiras, patrocinada pela Adidas, demonstrou bem essa política. O Palmeiras se queixou publicamente que, apesar de ter sido em 2010 um dos seis maiores vendedores de camisas de futebol com a marca Adidas, não teve acesso à distribuição Global, sendo preterido por equipes européias que venderam muito menos camisas naquele ano.
A Adidas se defendeu, alegando que o critério que determina o mix de produtos em suas lojas internacionais são os pedidos dos lojistas e não sua vontade própria. Curiosamente, no caso do Flamengo, parece ser diferente. Fica a pergunta, estaria a Adidas disposta a assumir, de forma objetiva, quantificável e por escrito, com multa pesada por descumprimento, o compromisso de distribuir camisas do Flamengo em todas as suas lojas internacionais, de forma idêntica ao que faz com clubes como Chelsea, Real Madrid, e Bayern?
Voltando à hipotética inclusão do Flamengo no “Grupo A” dos clubes atendidos pela Adidas, como citado pela imprensa, podemos imaginar como isso se daria. O chamado Grupo A ou de Elite, é formado pelas três ou quatro marcas de clubes mais prestigiados, atendidos mundialmente pela Adidas, são eles: Bayern Munich, Chelsea e Real Madrid.
Tais clubes recebem dois tipos de tratamentos diferenciados:
a) Acesso à distribuição Global da Adidas (como analisado anteriormente); e, b) Remuneração bem acima da média das outras equipes.
Uma vez que já avaliamos a questão da probabilidade de inclusão do Flamengo no grupo de elite de distribuição global da Adidas, vamos direcionar nosso foco para a remuneração recebida pelas equipes do Grupo A da Adidas, de modo a verificar se, uma vez aceita a proposta de R$ 35 milhões/ano, estaria o Flamengo incluído no referido grupo por esse critério.

“Grupo A” dos Clubes de futebol patrocinados pela Adidas.
Valor do patrocínio convertido para R$ Milhões/ano
Fonte: Sportcal (maior banco de dados de informações sobre patrocínios esportivos do mundo). Valores em Euros, convertidos para Real à taxa de 2,49. Obs.: O contrato com o Real Madrid estará encerrado em 2012 e deverá ser renovado com grande aumento de valor. Uma breve análise, nos mostra de forma muito clara, que uma proposta de R$ 35 milhões/ano, nem de longe credenciará o Flamengo a ingressar no Grupo A da Adidas. Na verdade, o Flamengo ficará atrás de clubes como o Ajax e o Lyon, que integram um grupo de importância secundária, a nível global, para a Adidas. Finalmente, é possível concluir que a diferença entre os contratos é de R$ 8 milhões/ano, e que deve diminuir sensivelmente, graças a diferença da capacidade de gerar receitas variáveis entre as empresas, com grande vantagem para a Olympikus (como demonstrado). É possível ainda, concluir que outros ganhos para o clube, embutidos na proposta da Adidas, como acesso a sua rede global de distribuição e inclusão no seleto grupo dos clubes mais bem pagos pela marca alemã, não procedem ou não podem ser comprovados. Nesse momento, é necessário voltar nossa atenção para o que talvez seja o ponto mais importante desta análise, o prazo de duração do contrato. O futebol brasileiro, e mais que isso, a economia brasileira, passa por um momento muito especial. No caso do futebol o incremento das receitas de marketing ao longo dos últimos anos deve prosseguir, ainda que ajustes no modelo possam e devam ocorrer ao longo do caminho. Nos últimos oito anos, a receita anual com patrocínios dos clubes brasileiros cresceu de US$ 42M para US$ 182M. Em 2014, o valor projetado pelo mercado para essa receita é de US$ 371M. Entre 2003 e 2014, o crescimento acumulado, projetado, é da ordem de espantosos 800%.  
Receita Total dos Clubes Brasileiros com Patrocínios, US$ Milhões.
Fonte: Crowe Horwath RCS. Ainda que seja provável uma diminuição nesse ritmo de crescimento, todas as projeções indicam que, nos 10 anos subseqüentes (2014-2024) exatamente o período da proposta feita pela Adidas, essa taxa de crescimento deverá permanecer muito alta.   Claro que este fato tem profundas implicações para o contrato, se celebrado por 10 anos como proposto. Fica evidente que muito antes do fim do contrato, mesmo corrigido pela inflação, o valor da proposta estará muito aquém do seu valor de mercado. Se, por exemplo, o crescimento das receitas de marketing no futebol brasileiro no período 2014-2024, for metade do crescimento no período 2004-2014 o contrato sofrerá uma perda de 400%!!! Celebrar um contrato dessa natureza, em um momento como este, com a Adidas, Olympikus ou qualquer outro parceiro, por dez anos, prevendo apenas a correção monetária seria claramente desastroso para o Flamengo, com gravíssimas conseqüências futuras para o clube.  
3 - CONCLUINDO
É preciso decidir considerando todos os fatos, de maneira técnica e objetiva.
Nossa conclusão é:
a) Os valores fixos entre o que pagará a Olympikus em 2014 e o que se propõe a pagar a Adidas na mesma data, são muito mais próximos do que tem sido divulgado, cerca de 30% de diferença pró Adidas. Resta saber se a Olympikus estaria interessada em cobrir essa diferença para renovar.
b) Além disso, está claro que existe uma grande defasagem entre a capacidade de cada empresa gerar receitas variáveis para o Flamengo. Tal fato, precisa ser considerado na análise das propostas.
c) Finalmente, o prazo de 10 anos de contrato seria um desastre completo para o Clube, não importando o parceiro, em função do momento do mercado brasileiro.
Espero ter podido contribuir através dessa análise, para que conselheiros e torcedores rubro negros possam entender e julgar o que é melhor para o Flamengo.
Saudações Rubro-Negras.

Mengão Sempre

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