quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Balanço 2011


O Blog FlamengoNet publicará uma série de avaliações sobre o ano de 2011, especificamente do futebol. Alexandre Lalas (@alexandrelalas) nos fala de questões táticas de 2011 e o que sugere para 2012.

Campeão Carioca invicto, campeão da Copa São Paulo de Futebol Junior, quarto colocado no Campeonato Brasileiro e classificado para a Copa Libertadores da América. Olhando assim, o ano rubro-negro não parece ser tão ruim. O time passou quase um turno inteiro sem perder na mais difícil competição do país, brigou pela ponta até as rodadas finais e manteve-se entre os cinco primeiros na maior parte do Campeonato. E ainda foi protagonista da partida mais sensacional da temporada – o inesquecível 5 a 4 contra o Santos, recém-campeão da Copa Libertadores, na Vila Belmiro. Mesmo assim, o torcedor rubro-negro terminou a temporada com um gosto amargo na boca. Fruto da sensação de que, com o time que tem, o Flamengo poderia ter ido mais longe, alçado voos maiores. Nem tanto pelo resultado final. Afinal, a vaga na Libertadores é mesmo para ser comemorada. Mas o futebol jogado pela equipe na maior parte do ano – mesmo no título carioca, mesmo na longa invencibilidade no brasileiro – não convenceu ninguém. Salvo raras exceções, como a já comentada partida contra o Santos, o Flamengo não jogou bem em 2011.

São muitas as razões para o pobre futebol apresentado pelo time. E a maioria passa pela incapacidade de Vanderlei Luxemburgo em fazer a equipe funcionar. No começo da temporada, o técnico rubro-negro sinalizou com um esquema com três meias flutuando (Ronaldinho pela esquerda, Botinelli centralizado e Thiago Neves pela direita) e um atacante mais fixo (Deivid). O argentino demorou a entrar em forma e foi substituído por Vander. Completariam o meio-campo Williams como primeiro volante e Renato Abreu como segundo. Luxemburgo apostava na movimentação dos meias como forma de abrir os espaços necessários nas defesas adversárias. Mas não foi isso que aconteceu. Para jogar desta forma, Luxemburgo precisaria de um centroavante que tivesse força e talento para segurar a bola no meio dos beques, que soubesse fazer bem o pivô e esperar a aproximação dos meias. Deivid não era o nome ideal para esta função. E nem qualquer outro jogador do elenco rubro-negro. Mesmo assim, muito mais na base do talento individual dos principais jogadores do time do que na força do conjunto, o Flamengo levou os dois turnos e ficou com o título estadual.

Mas nem a conquista regional invicta foi capaz de esconder os defeitos da equipe. Além da dificuldade no ataque, o time sofria defensivamente com as bolas alçadas na área pelos adversários. Gols sofridos em cobranças de faltas e escanteios se repetiam em limite muito acima do tolerável pelo time do Flamengo. E neste tipo de jogada, mais do que lambanças individuais, ficavam escancarados os erros coletivos, que sugeriam mais uma falha no posicionamento do que uma mera deficiência técnica de determinados jogadores.

Luxemburgo promoveu mudanças. Abdicou dos três meias, fixou Ronaldinho mais no ataque e apostou em outro volante no time. Primeiro Luís Antônio, depois Aírton. Na zaga, para resolver o problema das bolas altas, a aposta foi Alex Silva. Para o ataque, depois de sonhar com André, Vagner Love e Kléber, o Flamengo acordou com Jael. Mas nem assim o time conseguia melhorar a qualidade do futebol que jogava, e seguia dependente de lampejos individuais, especialmente de Ronaldinho.

É verdade que em certos momentos o Flamengo até apresentava algum padrão de jogo. Rodava a bola sem pressa, girava de um lado para o outro, trocando passes a espera de espaço. Mas a falta de movimentação ofensiva tornava o futebol do time previsível, burocrático. E – pior – fácil de ser marcado.

O erro na estratégia de Vanderlei é fácil de ser explicado. Embora a ideia fosse até boa, a escolha dos nomes para a execução das funções era equivocada. Faltavam ao time rapidez na saída de bola, movimentação ofensiva, mobilidade e presença na área. A saída de bola jamais poderia ser rápida com jogadores como Williams e Renato Abreu, cujas limitações técnicas são conhecidas de todos. Quando Luís Antônio entrou no time, esta movimentação até melhorou, mas a contusão da jovem promessa trouxe de volta à equipe a mesma letargia de antes. A solução poderia ser outro garoto da base. Muralha jogou bem jogos importantes, como Fluminense e Cruzeiro, mas, de forma inexplicável, sequer fora relacionado em jogos seguintes às boas atuações que teve.

Outro problema é o posicionamento de Thiago Neves e Ronaldinho. Quando decidiu abdicar do esquema com três meias, Vanderlei posicionou Thiago como meia-direita e Ronaldinho como um segundo atacante, mais pela esquerda. O problema é que Thiago Neves tem sérios problemas quando joga mais recuado: tem dificuldades no domínio e uma visão de jogo que não chega nem aos pés daquela do companheiro de time. E, ainda por cima, voltando para buscar jogo, Thiago ficava longe da área adversária, justamente onde fazia a diferença.

O camisa 10 da Gávea, por outro lado, jogando quase como um ponta-esquerda, aparece menos do que deveria na partida. E é mais facilmente marcado, até por ser lento e de pouca mobilidade. Para resolver isso, bastaria Vanderlei trocar o posicionamento das duas maiores estrelas do time. Thiago deveria jogar mais perto da área, enquanto Ronaldinho sim é quem deveria buscar o jogo mais no meio-campo. Mas para que Ronaldinho funcione como meia, o Flamengo, mais uma vez, precisa de velocidade e mobilidade. Precisa de volantes que saiam para o jogo com qualidade, de laterais que se apresentem para receber a bola, e de atacantes que se movimentem com inteligência para receber o passe que certamente virá. Embora os números muitas vezes mintam no futebol, um dado nas estatísticas do campeonato brasileiro é de chamar a atenção: a quantidade de impedimentos marcados contra o Flamengo. Esta falta de inteligência na movimentação dos atacantes, notadamente de Deivid, o campeão nacional da banheira, muitas vezes minou preciosas assistências de Ronaldinho.

Por fim, o problema do ataque. Mais uma vez, a chave é a mobilidade. Sem movimentação, estático, um ataque é facilmente marcado. E esta foi a tônica ofensiva do time do Flamengo no campeonato. Em geral, ficava o Deivid – ou mesmo o próprio Ronaldinho – isolado no meio dos beques adversários, esperando a chegada de um time lento. E nem as tentativas com jogadores mais novos, como Negueba e Diego Maurício, funcionaram. Mais uma vez, faltava a tal mobilidade, a chegada dos homens de meio no ataque.

Uma partida é simbólica e pode resumir o que foi o Flamengo no Brasileiro de 2011: a goleada contra o Cruzeiro no segundo turno. No primeiro tempo, um time confuso, falha no jogo aéreo, marca mal, leva 1 a 0, poderia ter sofrido mais gols, e arranca um empate numa bomba improvável de fora da área, um lance que combina sorte com talento individual. No segundo tempo, com a entrada de Muralha em lugar de Maldonado, a equipe se transforma. A movimentação e a chegada ao ataque de Muralha empurram Thiago Neves para mais perto do gol. Melhora a recomposição do time, a mobilidade, a presença ofensiva. Resultado: em apenas 45 minutos, o time marca 4 gols, deixa tonta a marcação adversária e – de quebra – não sofre mais nenhum susto na defesa.

Para o ano que vem, se de fato quiser ir longe na Libertadores, Vanderlei precisará rever alguns conceitos. Vai ser obrigado a apostar mais na prata-da-casa. Em especial, em jogadores como Muralha e Thomas. Seria bom também se o treinador revisse o posicionamento de Ronaldinho e Thiago Neves (isso se ambos ficarem para 2012). A troca de jogadores lentos, sem mobilidade (como Renato Abreu e Maldonado) e de outros que erram mais passes do que roubam bolas (como Willians) por volantes que tenham capacidade de marcação, mas que saibam sair jogando com qualidade e rapidez (casos de Luís Antônio e Muralha) é imperiosa para o sucesso da equipe. Um meio-campo com Aírton, Luís Antônio, Muralha e Ronaldinho, combinados com um ataque formado por Thiago Neves e Thomas, mesmo sem um centroavante clássico, tem tudo para funcionar. Até por conta da mobilidade e da capacidade ofensiva de dois dos três volantes, e que têm, tanto Luís Antônio quanto Muralha, velocidade na recomposição defensiva. Mas é indispensável que o Flamengo tenha no elenco tanto um atacante de lado do campo, que jogue em velocidade (até vale a aposta, durante o estadual, em Rafinha, dos juniores), quanto outro mais forte, que saiba fazer o pivô e jogar trombando com os zagueiros e que, de preferência, seja bom também no jogo aéreo.

Um lateral-esquerdo que fizesse sombra a Junior César e um zagueiro veloz e mais firme do que Wellington e David Braz também seriam bem-vindos. Assim como um diretor de futebol que agregue à comissão técnica bem mais do que o inútil Luiz Augusto Velloso, cuja obra mais marcante no futebol foi ter vendido, a preço de banana e a times do Brasil, a geração mais talentosa formada na Gávea pós-geração Zico.

Flamengo Net

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