quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Balanço 2011 - Ronaldinho e Thiago Neves juntos – “o problema que todo técnico quer ter”, mas Luxemburgo não soube resolver
*Por André Monnerat, do @sobreflamengo
O Flamengo-2011 deixa de herança para 2012 problemas táticos que não foram
solucionados ao longo de meses
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Em 2011, aquela época do ano marcada
por muitos boatos e especulações sobre contratações para todos os times teve
dois assuntos principais para o Flamengo: Thiago Neves e Ronaldinho Gaúcho. O
primeiro até acabou ficando em segundo plano, graças à novela em que se transformou
a negociação com o segundo. Mas para muitos, naqueles dias, parecia o seguinte:
se um vier, o outro não vem. Como todos sabemos, não foi o que aconteceu.
Luxemburgo e a diretoria do Flamengo, naquele momento de remontagem de um
elenco que vinha de uma temporada muito ruim no ano anterior, resolveram
apostar muito alto em dois jogadores de funções semelhantes. O desafio seria
dar um jeito de encaixar ambos no mesmo time, mas este “é o tipo de problema
que todo técnico quer ter”, certo? Pois bem: ao longo de todo o ano, o técnico
rubro-negro não conseguiu resolvê-lo.
Desde o início, Luxemburgo teve medo de usar os dois grandes reforços juntos no
mesmo meio de campo em um esquema mais convencional, com dois atacantes à
frente deles. O time ficaria “aberto demais”, ele pensou – e o receio devia
ficar maior ainda ao olhar para sua frágil zaga, problema do elenco que vinha
da temporada anterior e não foi resolvido com as contratações feitas para o
ano. Mas claro que ele nunca barraria um dos dois.
Por isso, foi raro o técnico abrir mão de ter pelo menos outros três jogadores
mais “pegadores” no meio. Ronaldinho andou jogando de centro-avante, Thiago
Neves chegou até a formar dupla de ataque com ele, o esquema de três zagueiros
também foi testado... E muitas piruetas táticas foram feitas para que Renato
fosse sempre mantido como titular, fosse qual fosse a formação escolhida; ele
jogou de armador centralizado, meia bem aberto pela esquerda, segundo volante,
primeiro volante, ala esquerdo, lateral esquerdo – mas nunca ficou no banco.
Seja como for, fato é que o time que iniciava as partidas praticamente nunca
funcionou bem. Consultem os arquivos com as análises dos jogos em seu blog
preferido (ou no
SobreFlamengo mesmo): vão ser muito raras as partidas ao longo de todo o
ano em que vocês lerão que o time jogou bem. Praticamente não aconteceu.
Ao longo de todos estes meses, foi difícil perceber o resultado de um trabalho
aparecendo dentro de campo, uma evolução mais perceptível. Vejam estes
exemplos:
- Em abril, comentando o Fla-Flu da semifinal da Taça Rio, eu dizia que ,
independente da ausência naquela partida de Ronaldinho Gaúcho, o time voltou a
apresentar seu grande problema ofensivo até então:
“um enorme espaço entre os três do meio e os
três homens da frente.” Os meses se passaram e quase no fim do
Brasileiro, ao falar do empate com o Figueirense no Engenhão, eu voltei a
escrever que
“a distância gigantesca entre os três do meio e os três da frente inviabilizou
o jogo e deixou o time lento, sempre muito previsível.”
- Também em abril, depois de uma sofrida vitória conseguida nos minutos finais
sobre o time misto do Duque de Caxias durante o Estadual, eu perguntava: “Quando será que Luxemburgo vai perceber que nem ele
mesmo concorda com o seu esquema? Afinal, em basicamente todos os jogos, ele
começa com a equipe que desenhou em sua cabeça, a coisa não funciona, o time
passa perrengue e ele termina com um esquema totalmente diferente do que
iniciou a partida - e aí, na rodada seguinte, lá está de volta o time que não
funciona iniciando a partida, esperando o momento de ser novamente todo
modificado ao longo do jogo.”
Pois em novembro,muitos meses depois, eu escrevia um texto falando exatamente
sobre este mesmo comportamento, repetido ao longo de praticamente todo o
Brasileiro, mostrando que isso realmente parecia ser algo deliberado – a estratégia
Rocky Balboa. Não falei disso apenas nos “momentos ruins”; depois da
vitória contra o Coritiba ainda no primeiro turno, no auge da empolgação com a
boa fase no Brasileiro, eu dizia que o comportamento normal de Luxemburgo era
escalar o time ”nesta
formação com dois volantes fixos mais Renato no meio, o time joga mal e, sem
conseguir o resultado que pretendia, ele acaba colocando jogadores mais
ofensivos em campo - o que faz o rendimento melhorar e a equipe chegar à
vitória.”
Como se vê, foram problemas táticos que
se mantiveram ao longo de toda a temporada. Dá pra falar ainda da lentidão na
saída de bola, da falta de movimentação e velocidade na frente, dos problemas
de articulação no meio-campo, da ausência de opções de jogadas pelas pontas que
não fossem iniciativas individuais dos laterais... E, claro, no péssimo
trabalho nas bolas paradas. O time não só sofreu inúmeros gols em escanteios e
faltas laterais como ainda foi pego desprevenido de maneira impressionante em
contra-ataques surgidos quando tinha faltas a seu favor no ataque. Com este
tipo de coisa acontecendo de maneira recorrente por meses, é difícil acreditar
que os treinamentos para resolver isso tenham sido bem feitos.
Bem: em 2012, ao que parece, a aposta em
Thiago Neves e Ronaldinho juntos vai se repetir. Luxemburgo passou um ano
inteiro tentando fazer funcionar e não conseguiu – e é bom dizer que não teve
muita ajuda dos dois, que foram prejudicados pelo mau rendimento coletivo do
time, mas também tiveram um rendimento quase sempre bem abaixo do que a fama e
o salário que têm indicariam. De qualquer forma, não dá pra dizer que o
treinador tenha, nesta temporada, encontrado um jeito de jogar que tenha
funcionado, no qual valha a pena apostar no ano que vem. O trabalho de 2011 não
está deixando este legado; a única qualidade que o time apresentou de forma
razoavelmente consistente em seu jogo coletivo foi a capacidade de manter a
posse de bola, trocando passes com paciência, embora quase sempre de forma
muito pouco objetiva.
E olha que o resultado final, se olharmos
só para as tabelas de classificação dos campeonatos disputados, nem acabou
sendo ruim. Neste Brasileiro esquisito – com astros caríssimos espalhados por
vários times que nunca realmente chegaram a jogar bem - , o pouco que o
Flamengo fez foi o bastante para uma boa campanha. Não sou daqueles que acham
que conseguir só vaga para a Libertadores é sinônimo de fracasso.
Mas não
acredito que o time vai se dar bem ano que vem se simplesmente “der sequência”
ao que está sendo feito.
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