terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Alfarrábios do Melo
Saudações
flamengas a todos. Essa semana, deixo a segunda e última parte da
minha lista de maiores viradas que presenciei o Flamengo impor aos
adversários. Nos negritos, links para vídeos.
Aproveito
para desejar a todos um Feliz 2012, e que nosso Mengão nos faça
felizes.
Embalado
pelo hexacampeonato brasileiro, o Flamengo recebe Wagner Love de
braços abertos e monta o Império do Amor, com Adriano. Mas peças
importantes saem, e Andrade tem dificuldade para reconstruir o
esquema de jogo. No primeiro clássico do ano, o time leva um baile
do Fluminense de Conca e Mariano e desce para o intervalo com uma
derrota de 1-3, um barulho infernal nas arquibancadas tricolores. Um
placar de cinco ou seis não seria exagerado. Até que Andrade, em
uma de suas melhores atuações como treinador, saca o lento Petkovic
e o inacreditável Fernando, lançando Willians e Vinícius Pacheco,
e mandando o time avançar. As alterações dão resultado, o
Flamengo parte pra cima e em atuação de gala de Adriano e
Kleberson, exibe o poder de fogo do Império do Amor e vira de forma
espetacular para 5-3, mesmo com 10 jogadores (Álvaro é expulso). Ao
som de um olé profundo e jocoso, a temporada parece promissora. Mas
a substituição de Petkovic deixará marcas. E será só o começo...
O
Flamengo busca se reconstruir na temporada de 2004, após o vendaval
pós-ISL. Mas é difícil, e um time barato e recheado de veteranos e
juniores é montado para o Estadual. Logo de cara, um Fluminense
“galáctico”, com Romário, Edmundo, Roger, Léo Moura e grande
elenco, favoritíssimo para conquistar tudo o que disputar. O
Flamengo sai na frente com Jean, mas Romário empata antes do
intervalo. Na volta, o Fluminense é mais agressivo e domina. E logo
vira a partida, novamente com Romário. A torcida tricolor ainda
comemora, quando o infernal Romário lança o zagueiro Rodolfo, que
aumenta para 3-1, já aos 19'. A fatura parece liquidada, a
barulhenta torcida tricolor começa a entoar o olé e gritar “é
chocolate”, quando o bando Flamengo se morde, se inebria e parte
pra cima de forma suicida. E a alma flamenga se personifica no
improvável Felipe, que joga a partida de sua vida e vive, ao menos
uma vez, a sublime sensação de ser Flamengo. E Felipe diminui, aos
24'. Pressentindo a virada, a Nação Flamenga acende, sufoca,
empurra o time. Meros dois minutos se passam, e uma bola é cruzada,
o contestado e vaiado lateral Roger acerta a cabeçada e empata,
enlouquecendo o Maracanã. Menos de cinco minutos depois, Felipe,
imparável, lança Roger, de novo Roger, o carrasco Roger, que tira
do goleiro e vira o jogo. Flamengo 4-3 Fluminense. Enquanto a seita
tricolor ganha o rumo de casa, o Maracanã salta e pula aos gritos de
“Poeira, levantou poeira”. A sensacional vitória irá
impulsionar o limitado time dirigido por Abel a um impensável título
estadual. E a “poeira” marcará uma época.
Sob
o olhar perplexo de 90 mil almas, Zico vai descendo o túnel. A coxa
esquerda travou, contratura. Fora de combate, o Galinho assiste ao
vareio de bola imposto pelo improvável Coritiba, que de forma
inacreditável, já vence por 2-0 em pleno território sagrado
flamengo. Mais um gol, e a vaga para a final irá se desvanescer.
Antigos traumas (Santa Cruz-75 e Palmeiras-79) começam a ser
revividos. A pretensiosa frase de Mário Juliato “preciso de três,
mas posso ganhar de cinco” irá se materializar? Mas a lógica
flamenga prima por nunca se revestir de lógica. E justo o pior
jogador em campo naqueles primeiros 30' chama a responsabilidade para
si, pede bolas, dá esporro e começa a comandar a virada. Não
aceita sair dali derrotado. Nunes pega uma bola perdida, enterra a
cara no chão, passa por quem aparece pela frente, manda a bomba,
diminui e acorda o estádio. Logo depois, Tita está pronto para
finalizar, mas Nunes toma-lhe a bola e emenda outra porrada, outra
bomba, é o empate. Enfrentar o Flamengo no Maracanã pode ser um
inferno, o que Juliato logo percebe. Carlos Alberto, que substitui
Toninho, toma uma bola em sua intermediária e corre, corre, corre
sedento de glórias, corre mais e acerta uma pedrada que arromba a
gaveta paranaense. A virada está consumada, e ainda estamos no
primeiro tempo. Na segunda etapa, mais calmo, o Flamengo impõe seu
jogo e faz a massa cantar. Aumenta a contagem num belíssimo gol de
Anselmo e sacramenta a vaga para a final. O Coxa ainda irá diminuir,
mas o Flamengo já é finalista, pela primeira vez. Está aberto o
caminho para a conquista do primeiro Brasileiro.
O
Santos acaba de conquistar a Libertadores e já vislumbra o “Jogo
do Século” contra o Barcelona. Mandará a campo seu time titular,
com Ganso, Ibson, Arouca, Borges e especialmente o celebrado,
exaltado e incensado Neymar, um dos poucos jogadores de talento a
emergirem em um duro período de entressafra. O Flamengo de
Ronaldinho, Thiago Neves e Luxemburgo ainda está invicto, mas está
errático, vence mas não convence. Vila Belmiro lotada, todos
anseiam por um show de Neymar. E o garoto do topete dá aos seus fãs
o entretenimento pedido. Deita e rola sobre a defesa flamenga,
impõe-se de forma quase humorística ao quebradiço sistema
defensivo rubro-negro. Em 25', o Santos abre 3-0, com direito a gol
de placa de Neymar. É um massacre. Fatalistas temem o pior. Coisa de
sete, oito, talvez mais. Mas o Flamengo segue tocando bola, parece
imune ao revés. O time não se desequilibra, não se descontrola. E
começa a explorar a fragilidade da defesa santista. O jovem Luís
Antônio começa a fazer estragos, Thiago Neves está motivado e se
mexe incessante. Deivid perde gols inacreditáveis mas faz boa
partida. E há Ronaldinho. O dentuço diminui aos 28'. Três minutos
depois, Thiago Neves escora belo cruzamento e põe de novo o Flamengo
no jogo. Mas Neymar segue imarcável e sofre pênalti. Quando Elano
parte para a bola e desperdiça a cobrança, a virada começa a se
desenhar. E a Vila Belmiro se cala diante do empate, cabeçada
precisa de Deivid. 3-3, ainda no primeiro tempo. Na volta do
intervalo, os times se fecham um pouco, mas Neymar ainda encontra
espaço para colocar novamente o Santos na frente, 4-3. É quando,
enfim, Ronaldinho resolve roubar a cena e assumir seu protagonismo.
Empata numa cobrança de falta moleque e pitoresca, bestial. E,
quando o Flamengo já domina a partida, estaca no coração santista
o gol da virada, num toque sutil. Em uma noite mágica e antológica,
o Flamengo muda uma história, inverte o roteiro e torna coadjuvantes
os candidatos a estrela. Foi breve, mas foi intenso. Pelo menos uma
vez em 2011, foi Flamengo.
O
Rio de Janeiro ainda chora a brusca e trágica morte de Elis Regina.
Mas a vida segue, e tem jogão no Maracanã, é feriado de São
Sebastião. 90 mil irão se encontrar com o Campeão do Mundo, no
clássico contra o São Paulo. O jogão promete, metade da Seleção
de 1982 está em campo. Mas o Flamengo sem ritmo de jogo é
surpreendido na primeira etapa por um São Paulo que se impõe de
forma irretocável, marca pressão e esconde a bola. O meia Renato,
reserva de Zico na Seleção, é o dono das ações no meio-campo e
rege a “Máquina” paulista, junto com Mário Sérgio. Raul
aparece com várias defesas, salvando o time de uma goleada. Fim do
primeiro tempo, São Paulo 2-0, dois de Serginho, fora o baile. A
imprensa paulista exulta, “este é o campeão do mundo?”. Abatida
e silenciosa, a torcida ensaia apupos. Mas na segunda etapa algo irá
mudar. Carpegiani saca Chiquinho (Tita estava contundido) e põe o
volante Vítor, que irá cuidar de Renato e soltar Andrade pro jogo.
Além disso, há o ânimo. Mordido e envergonhado, o Flamengo volta
do vestiário comendo grama. A Nação sente e vai jogar junto. E
ali, em uma calorenta tarde de verão carioca, vai acontecer de novo
a imortal aliança entre um time e seu povo. Um estádio inteiro irá
empurrar o Flamengo à glória, à vitória, à conquista, numa
pressão que irá crescendo em ondas até o limite do suportável.
Andrade e Lico não erram nada a olho nu. Adílio entorta quem
aparece pela frente. E Zico, sempre oportunista, irá comandar uma
das mais sensacionais viradas de toda a história do Flamengo. Em
cerca de 30 minutos, o melhor time do mundo transforma um princípio
de vexame em uma virada histórica. Quando Zico, sempre Zico, o
incomparável Zico, crava sua cabeçada no contrapé de Valdir Peres,
um país inteiro se orgulha e berra a plenos pulmões a alegria de
ser rubro-negro. Afinal, o Flamengo é o Dono do Mundo.
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