terça-feira, 8 de novembro de 2011

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos.

2011 é um ano rico em efemérides. Cinquenta anos do Rio-SP, 30 anos do Mundial e da Libertadores, só para mencionar alguns dos mais comentados ao longo da temporada. Será que esse ano numerologicamente peculiar será coroado com a conquista do hepta?

Que os anjos iluminem e abram a cabeça do nosso treinador. Uma luz parece estar apontando o caminho, que ele não seja abandonado.
Enfim, deixo o texto dessa semana, que trata de um tema que já deu margem a muita discussão no passado, e ainda hoje reverbera em mitos espalhados por aí. Boa leitura.

* * *

O apito acaba de trilar, estridente. Um país inteiro celebra e festeja o braço que aponta em direção a um pequeno círculo, acima do qual a bola acaba de ser cuidadosamente alojada. O craque, a estrela maior, acaricia a esfera com extremo carinho e olha para a meta, compenetrado. É pênalti.

Não poderia ter acontecido em melhor hora. A partida é extremamente importante, é decisiva, é desses jogos que separam homens de meninos. Poucos, em toda uma trajetória de vida, conseguem chegar aonde esses 22 soldados estão. E a batalha, até aqui, tem sido um verdadeiro prélio de eleitos. Jogo extremamente disputado, encardido, batalha jogada rua a rua, casa a casa, acompanhado por uma massa nervosa, que não pisca, não fala, não respira. E suspira. É pênalti.

E pênalti pra Zico é gol.

O Galinho, semideus humano, não contabiliza a perfeição absoluta em seu histórico de pênaltis. Algumas cobranças periféricas desperdiçadas aqui e ali, uma em 1976 contra o Vasco, outra num amistoso da Seleção contra a URSS, outra num joguinho desimportante contra o América. Mas já converteu dezenas, dúzias, cachos. Sempre frio, técnico, preciso. E agora, em um jogo vital, crucial, seu time, mais do que nunca, precisa desse pênalti. Precisa desse gol. Precisa dessa vitória.

E Zico, como sempre, pega a bola, se apresenta e chama a responsabilidade.

Do outro lado, está um goleiro manhoso, esperto e célebre por defender penalidades. Aliás, a equipe adversária é bastante rodada, repleta de jogadores com farta experiência internacional, muitos deles já bastante vencedores, e que buscam com essa conquista fechar um ciclo vencedor. Tranquila, a equipe não se assusta com o oponente, não se espanta com sua força e com a fama de seus jogadores.

E o goleiro faz uma graça. Fala alguma coisa e vai pro gol. Parece certo da defesa.

Essa partida também se reveste especial para Zico. Tido e havido como “jogador de Maracanã” e ídolo regional, pecha que a inveja e o ranço não deixam remover nem com todas as conquistas e vitórias em todos os campos do país e ao longo do planeta. Não que o Galinho esteja muito preocupado em mostrar nada a ninguém. Mas essa vitória irá abrir caminho para um título sonhado, pensado, imaginado e vislumbrado anos antes. Zico e seus companheiros anseiam por essa glória. O topo nunca esteve tão perto. Talvez ao alcance de um pênalti.

O goleiro toma sua posição. Zico olha fixamente para o gol. Agora, todos estão à espera do apito.

O breve instante durará horas. O estádio está absorto, hirto de tensão e expectativa. Não há rádio, não há televisão, não há humano que não esteja, naquele momento, esperando o desfecho do lance. Clamam para que o árbitro autorize logo a cobrança e acabe com aquela tortura. O Brasil quer gritar de alívio, quer celebrar, quer soltar o nervosismo represado, quer cobrar logo esse bendito pênalti.

Um som agudo sibila de dentro do campo. Que se consume o ato.

Zico corre para a bola e bate, som seco, frio, cru. Confiante, o arqueiro salta. Mas a bola toma outro caminho e estufa-se no outro canto. Oscar Wirth, aborrecido e impotente, levanta e apenas lamenta. O Flamengo faz 2-0 e abre importantíssima vantagem na primeira final da Libertadores. O caminho da conquista mais importante da história flamenga está aberto.

Conquista que será confirmada dali a alguns dias, nos campos do Japão, contra o temido Liverpool. Feliz, Zico não parará de contemplar a taça e abraçar seus companheiros, orgulhoso de ter sido o líder e o condutor de um feito grandioso, gigantesco.

Afinal, ele terá chegado ao topo do mundo. Ele e o Flamengo.

Só o Flamengo.


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