segunda-feira, 2 de maio de 2011

EDITORIAL: Balanço preocupante

"Nos próximos cinco ou seis anos, ou seja, até a Olimpíada do Rio, o Brasil será um país sem risco. O que me preocupa, hoje, não é a próxima década, mas o que vem depois".

A afirmação acima é de Marcelo Odebrecht, diretor-presidente da Odebrecht, em um debate organizado pela revista Época Negócios, em fevereiro deste ano, reunindo CEOs de cinco grandes companhias e cinco trainees de outras empresas que figuram entre as maiores do país.

Em sua análise, Odebrecht mostra a preocupação com o futuro da economia brasileira, a médio e longo prazo. A realização no Brasil das duas principais competições esportivas do planeta, a Copa-2014 e os Jogos Olímpicos-2016, já vem gerando um ciclo positivo para a economia brasileira, que tem apresentado sinais de pujança, com muitos investimentos em diversos segmentos e ascensão de uma parcela expressiva da sociedade aos bens de consumo, a chamada “nova classe C”.

O desafio, como se vê, é aproveitar esse cenário positivo. Arrumar a casa durante esse momento dourado, fazer reformas estruturais e dar o pulo do gato, preparando-se, até, para possíveis tempos não tão benevolentes na economia.

Infelizmente, o balanço patrimonial divulgado pelo Clube de Regatas do Flamengo (clique aqui para ver o PDF no site oficial do Flamengo), na última sexta (29/04), revela indicadores de que a instituição não está indo nessa direção.

Bem sabemos que o ano de 2010 foi desastroso para o clube, dentro e fora dos campos, em alguns casos por questões alheias à influência da diretoria do clube – como no episódio envolvendo o então capitão da equipe de futebol, o goleiro Bruno.

Mas o balanço mostra que o buraco é mais embaixo. Não somos profissionais de contabilidade, mas a leitura do parecer mostra que há motivos para preocupar-se. Alguns pontos que destacamos:


a) O passivo circulante (dívidas de curto prazo, que devem ser pagas dentro de 12 meses) aumentou de 151.009.949 (2009) para 224.869.311 (2010), o que equivale a 48,91%..

b) O aumento de R$ 23.459.889 (2009) para R$ 43.883.499 (2010) em empréstimos em instituições financeiras, entre eles para o patrocinador BMG, acerto feito nesta diretoria, o que configura certo conflito de interesses.

c) As contas a pagar subiram 102.05%, de R$ 25.314.489 (2009) para 51.148.862 (2010);

d) Aumento de 79,13% das despesas dos esportes amadores de 25.408.854 (2009) para 45.517.269 (2010) numa proporção muito maior do que o aumento de receitas, que subiram apenas 14,79%, de R$ 15.927.577 (2009) para 18.283.493 (2010). Coincidência ou não, o futebol, carro-chefe, teve expressiva redução de custos, economia que até poderia ser positiva, mas soa estranha num ano de aumento de receitas com o futebol e ante a imensa expectativa pelo bi da Copa Santander Libertadores e pelo hepta. Alguém se recorda das reclamações de Zico com a alegada falta de recursos para os reforços que ele pretendia?

e) A provisão para contingências foi reduzida, de 21.211.941 (2009) para 11.570.493 (2010).

Ficamos, no entanto, apenas com trecho do parecer dos auditores independentes da Loudou Blomquist:

“O Clube apresenta um patrimônio líquido negativo em R$ Mil 100.716, em 31 de dezembro, (R$ 79.077 em 31/12;2009), evidenciando a necessidade de recursos financeiros. A recuperabilidade da situação econômica e financeira do Clube depende do esforço da administração em buscar soluções que garantam a liquidação de suas obrigações sem comprometer o patrimônio do clube”.

***

Aparentemente, a Diretoria do Clube parece ter noção do quanto os números são ruins. Obedecendo a uma obrigação estatutária, a notícia sobre a divulgação do balanço foi meramente protolocar (http://www.flamengo.com.br/site/noticia/detalhe/12672) , sem qualquer comentário do vice-presidente de Finanças, Michel Levy, ou da diretoria. E é sintomático que essa divulgação tenha sido feita na noite de sexta-feira, às 22h, quando os jornais de sábado estão praticamente fechados, os setoristas de folga ou finalizando (no caso dos jornais) a edição de domingo. É, ainda, o horário (assim como na manhã de sábado) que o site tem menor fluxo de visitação.

A presidente do clube, Patricia Amorim Sihman, é pródiga em convocar entrevistas coletivas para divulgar as realizações da Diretoria do Clube.

Seria oportuno, portanto, que ela fizesse o mesmo para fornecer mais esclarecimentos, não só para os sócios, mas para os chamados stakeholders (torcedores, convocados para colaborar no projeto da construção do CT do clube; funcionários, patrocinadores; parceiros; jornalistas; Governo; entre outros públicos de interesse) sobre a situação financeira do clube. E o que, com base nos números desse balanço, a Diretoria fazendo de concreto para melhorar a situação.

Também seria muito oportuno ainda ouvir algum tipo de manifestação do Conselho Fiscal, organismo muito diligente no atendimento à imprensa durante o momento em que esta publicava acusações contra Arthur Antunes Coimbra, o nosso ídolo Zico - todas, diga-se de passagem, sem qualquer fundamento ou prova, como o Galinho vem provando na Justiça.

Muito apropriadamente, a Nação comemora mais um título estadual, sobretudo pela conquista em cima de um velho rival. E todos sonham com o sucesso na temporada, embora a equipe de Vanderlei Luxemburgo ainda não tenha dado provas consistentes de que está pronta para encarar equipes mais qualificadas, especialmente os quase sempre fortes rivais paulistas e ainda Cruzeiro e Internacional.

Todos querem, justificadamente, reforços para tornar esse time real candidato a ambições maiores – em posições que qualquer criança de oito anos saberia citar: zaga, lateral-esquerda e ataque.

Mas a incapacidade demonstrada até agora para conquistar receitas de vulto (muito provavelmente por conta da provável falta de autonomia proporcionada pelo obscuro acerto envolvendo Ronaldinho e Traffic) e a aparente vontade de queimar, na contratação de Vagner Love, parte considerável de um possível adiantamento da Rede Globo pelos direitos de transmissões, entre outros fatos, são sinais de tempos bem difíceis para o Flamengo. Especialmente depois que estourar a bolha do já citado “momento de ouro” (lembrem-se da frase de Marcelo Odebretch).

Somos todos Flamengo, mas não podemos nos omitir diante da desconfiança – e por enquanto é só uma desconfiança – de que a agenda política de curto prazo venha ganhando prioridade diante daquilo que todo o torcedor espera: muitas vitórias e conquistas, sim, mas dentro de um panorama pautado pela sustentabilidade.

Com a palavra, a Diretoria.

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