Balanço 2010 – Parte 2
Por Rafael Strauch - Leia a parte 1 aqui
Dando continuidade ao nosso post anterior, que analisou os valores a respeito dos passivos do CRF referentes a 2010, damos inicio a nossa análise sobre o Ativo do Clube. O Ativo corresponde ao lado esquerdo do Balanço e representa a utilização/aplicação dos recursos.
Veja-se o Ativo Circulante - que se refere aos recursos que irão ou podem virar caixa em menos de um ano: neste aspecto, os valores cresceram significativamente de 2009 para 2010 (cerca de R$ 50 milhões), o que seria uma notícia bem positiva, não fossem as características desses ativos [bem como de ele ter aumentado num valor inferior ao do aumento do passivo circulante (R$ 73,8 milhões)].
A primeira conclusão que se pode obter é a de que o Flamengo continua com um caixa extremamente baixo! São apenas R$ 800 mil! Equivale a dizer que o Flamengo é capaz arcar com as suas despesas por apenas 2 dias e meio, caso não receba suas receitas em dia!
Nos valores da conta “contas a receber” a 4ª surpresa: novamente, o responsável por confeccionar o balanço errou na soma dos valores: para 2010, o somatório do Ativo é de R$ 27.002.945, enquanto nas Notas Explicativas o valor ficou em R$ 33.303.987, ou seja, uma diferença de R$ 6.301.042. Em qual acreditar? Não se sabe ...
A principal novidade desta conta foi o crescimento de R$ 22 milhões a receber a titulo de “Contratos de publicidade”! Como não há explicação sobre o valor, pode-se até especular que se refiram ao patrocínio máster (Batavo). Mas em vista da magnitude do valor, era no mínimo mandatório que o Balanço evidenciasse a origem, para não dar margem a esta ou outras especulações.
Ainda nas Notas Explicativas, na conta seguinte - que trata dos “diretos econômicos” - vem a 5ª surpresa: descobre-se que os valores para 2010 foram zerados!!! Inconsistentemente, no Balanço faz constar que o valor para 2010 é de exatos R$ 6.301.042 (exatamente o valor que faltava no “contas a receber”)! Neste contexto, fica a pergunta: o CRF tem direito a receber R$ 6,3 milhões de quem? E referente ao que? Pelo Balanço publicado é impossível descobrir!!!
Vejamos, ainda, um item interessante que trata do “Direito de Uso de imagem” que segundo as Notas Explicativas do Balanço referir-se-iam ao registro do contrato de imagem dos atletas profissionais em diversos eventos promocionais:
De acordo com o valor lançado no Ativo, o CRF teria a receber R$ 7,8 milhões (crescimento de R$ 6,1 milhões em relação de 2009). Mas, ora, de quem o Clube irá receber? Referente a qual promoção? E referente qual atleta? Não há qualquer explicação nas Notas Explicativas que responda a estas perguntas.
Agora, a inconsistência que considero mais séria no Ativo Circulante foi o processo de “ativação de despesas” à Despesas a apropriar, que passou para R$ 10,6 milhões para 2010, contra R$ 3,5 milhões anteriores, em 2009. Isso pode significar que, ao invés de o Clube pagar uma despesa, ele lançou(equivocadamente) no Balanço como um ativo? Ou significa que houve adiantamento de despesas ainda não realizadas (significando que o Clube pagou contas que ainda nao eram devidas, em detrimento de contas já vencidas, que implicam em juros)? Isso é sério, e nem o responsável pela confecção do balanço e nem o auditor prestaram qualquer explicação.
Vale comentar ainda que o Flamengo transferiu para Ativo Circulante todos os depósitos judiciais referentes a acoes nas quais é réu, sendo que em 2009 os mesmos valores estavam lançados no Ativo Não circulante.
Ou seja, percebe-se que o crescimento de mais de R$ 50 milhões no ativo não esta lastreado pelo aumento de recursos em caixa nem pelo aumento de investimentos em qualquer ordem ...
E, por derradeiro, para terminar nossa analise, vamos falar do Ativo Não-Circulante (recebíveis a longo prazo, mais de um ano). No caso do Clube, este se divide em Imobilizado (que diz respeito aos ativos fixos tais como a sede do Clube, o prédio do morro da viúva, equipamentos, etc), que não houve grandes mudanças de valores.
Contudo, o Ativo Não Circulante aumentou em R$ 41.347.438 em 2010, basicamente em função de “Contas a receber” no valor de R$ 29,3 milhões e R$ 11,8 milhões de direitos realizáveis (além de uma conta de compensação de R$ 7,6 milhões), todos esses itens, mais uma vez, sem qualquer esclarecimento referente quem os deve, e porque os deve.; neste caso, nenhuma menção foi feita nas Notas Explicativas.
A única boa notícia foi o fato de o “Intangível” - que trata dos atletas do Flamengo -, ter crescido em R$ 7,4 milhões, com destaque para os direitos econômicos adquiridos, aumentados em R$ 4,9 milhões em relação a 2009 e para Atletas em formação, que aumentaram R$ 2,5 milhões em 2010. Mas, também aqui, temos uma pergunta sem resposta: quais atletas foram esses?
Por fim, gostaria de esclarecer que não fiz menção ao Patrimônio Líquido na discussão do Passivo pois, embora este se localize do lado direito do Balanço, logo abaixo do Passivo, uma de suas principais características é o fato de se tratar de uma conta resultado, função que será melhor abordada no post da demonstração dos Resultados do Exercícios (DRE). Mas adianto que o Patrimônio Líquido - que estava negativo em R$ 79 milhões em 2009 - foi para R$ 100 milhões negativos em 2010. Considerando que ha uma série de ativos inconsistentes lançados no Balanço, tudo leva a crer que o problema pode ser bem maior do que o reportado.
Rafael Strauch é administrador, economista, trabalha em banco e foi conselheiro fiscal por 3 anos.Leia outros posts da blogosfera a respeito:
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O título, o time, Ronaldinho, o balanço, a diretoria...
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