terça-feira, 24 de maio de 2011

Aprender (ou não) com os erros
Por Vinicius Paiva

Há três anos, o Flamengo lançou um pioneiro projeto de TV própria pela internet, caracterizado por ser um serviço pago, com conteúdo 100% voltado aos bastidores do clube e que auferisse receitas adicionais através da veiculação de anunciantes no portal. Todos se lembram que me refiro à Fla-TV. Na época, o vice de futebol Kleber Leite declarou à mídia que o objetivo do clube era atingir a surreal marca de 500 mil assinantes.

Não se pode negar que o projeto era bastante interessante. Até por isso, apresentou excelentes números em seu princípio: 12 milhões de acessos, meio milhão de usuários cadastrados, etc. Tudo apenas em seu estágio inicial - não por acaso, gratuito. Quando o conteúdo passou a ser veiculado somente para assinantes, o empreendimento mostrou que não conseguiria se sustentar, e mal se aproximou da marca dos 6 mil associados.

A verdade é que, com todas as dificuldades enfrentadas, o conteúdo prometido ficou aquém daquilo que a torcida demandava. Adicionalmente, o repasse de lucros para a administradora do projeto - a empresa DB4, de Diogo Boni – pode ter gerado um desincentivo no desconfiado torcedor do Flamengo. Hoje, a Fla TV está morta e enterrada, com seu domínio (http://www.flatv.com.br/) redirecionando à pagina inicial do UOL. Apesar de todos os problemas, o que mais me incomodou no projeto tinha relação com as declarações fanfarrônicas do então dirigente, descritas acima.

Ora, todo projeto em fase de captação de investidores precisa apresentar ao mercado uma previsão de demanda que, se não se mostrar precisa (devido a suas nuances), deve ao menos aparentar realista. Por mais inocente que possa parecer, uma empresa que compre a idéia de 500 mil assinantes se mostrará decepcionada ao perceber que os números reais não ultrapassam a marca de 1% do que foi prometido. É certo que a bola fora de Kleber Leite não teve relação com o departamento de marketing do Flamengo – mas é ainda mais certo que ninguém se predispôs a desmenti-lo. Deu no que deu.

Volto-me a este exemplo quando percebo que o projeto “Rubro Negro para Sempre” – também conhecido como “projeto dos Tijolinhos” - apresentou até o momento números bastante inferiores àqueles prometidos inicialmente. Seria o projeto, em si, outro fiasco? Não exatamente*. Foi a primeira vez que se testou a demanda em massa quanto a um produto tão caro (R$ 250) e quase intangível - já que o mesmo só será visto daqui a meses, exposto no muro do CT reservado a seus compradores. Sendo assim, os 6.520 Tijolinhos, que renderam uma média de R$ 190 por unidade (totalizando R$ 1,2 milhão ao clube) proporcionaram receita bastante razoável.

Mas quando o projeto foi lançado, em novembro de 2010, a expectativa da diretoria era de 25 mil unidades vendidas. Mediante o ineditismo da empreitada – e das características nebulosas de sua demanda, conforme falado – não seria mais prudente uma estimativa conservadora? Já que os Tijolinhos continuam à venda, 10 mil unidades não seriam números mais factíveis?

Outra questão que levanto: se o objetivo do clube ao expor seu website nas camisas nos últimos meses foi alavancar seus acessos e assim, as receitas de projetos como o “Rubro Negro para Sempre”, não seria mais inteligente ter anunciado diretamente os Tijolinhos no uniforme de jogo?

Uma coisa é certa: ao invés da megalomania faraônica historicamente demonstrada pelo Flamengo, o mercado se impressionaria bem mais mediante projetos parcimoniosos que, como tal, acabassem por “superar as expectativas”.

* É lógico que existem controvérsias sobre o sucesso dos Tijolinhos, que saltam aos olhos quando se analisa a vendagem da “era Ronaldinho”: míseras 1.500 unidades, conforme análise do amigo Juan Saavedra: http://urub.us/2sm.

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