segunda-feira, 25 de abril de 2011

Desculpa, foi sem querer.

Neste dia, em 1982, vencemos o Grêmio no Olímpico por 1x0 e conquistamos o Bicampeonato Brasileiro.

Quando fazia gols contra seus rivais, Renato Gaúcho colocava o dedo na boca mandando a torcida se calar. Cansou de dizer “muitos dos meus apartamentos foram comprados graças aos bichos que ganhei nas vitórias sobre o Internacional”.

Edmundo fazia gols no Flamengo e dançava jocosamente após cada um deles. Dizia “essa mulambada não ganha da gente nem a pau”.

Viola imitava porcos, pescava e provocava seus adversários como podia. Vampeta inventou o apelido “Bambi”. Tudo isso no passado ficou.

Se hoje não temos jogadores do talento de um Renato ou um Edmundo, no campo da personalidade a coisa é bem diferente. Quer dizer, é pior e mais amplificada. Arrisco-me a dizer que há cota de jogador pensante por time. O resto é composto de robôs que só sabem dizer “professor”, “graças a Deus”, “sonho jogar na Ucrânia” e “com certeza”. Robôs esses programados pelos seus empresários antes de saírem de casa para os treinos.

O futebol está chato, isso não é novidade, mas desde que alguém resolveu transformar os campos em conventos, o esporte mudou mais do que quando proibiram os goleiros de segurarem a bola recuada com as mãos. O jogador faz aquele gol contra o maior rival aos 47 do segundo tempo e garante a vitória. Corre, tira a camisa e pula no alambrado pra explodir sua alegria. Toma cartão porque é proibido mostrar essa extrema felicidade. O outro faz um golaço, bota uma máscara dele mesmo e leva cartão. Uma máscara só por jogador, por favor.

Onde vamos parar? Não sou nenhum adepto da ideia de voltarmos aos tempo bárbaros, acho também que preciso passar um exemplo para a sociedade e os jogadores são um bom canal, se corretamente utilizados, mas transformar o futebol numa creche simplesmente não funciona! Os jogadores continuam fazendo as burradas (no sentido de desrespeitar a lei), continuam batendo mais nas canelas do que na bola e vão perdendo cada vez mais seus traços de personalidade – se é que já tinham algum. Quem perde com isso é o público, que cada vez mais critica e perde o encanto com o esporte. Se ao menos fossem craques ou inteligente com a bola...

Eu sei que o futebol no mundo civilizado é assim, e em outros esportes também, então a crítica é geral. Não digo que devemos liberar geral, anarquia, vamos virar carros e tacar fogo em ônibus. Não, não é isso. Acho que deveriam rever a regra e isso tem que partir dos jogadores. Eles NUNCA são escutados na hora de decidir uma bobagem nova e o jogo só existe por causa dos atletas! Que mal há em colocar uma máscara da própria cara na hora de comemorar um gol? O que pode trazer de errado uma mensagem “fiz esse gol por causa de Jesus, que me deu um passe açucarado” escrita na camisa? Ninguém vai começar uma Jihad por causa de um gol, ou vai?

Porém, os jogadores são como água e óleo. Não se misturam. É o mais autêntico cada um por si. Na hora do pagodinho, da festinha, do churrasco, é uma beleza. É um monte de jogador sem camisa junto em quarto de hotel brincando em webcam. Mas quando precisa discutir algo mais sério, seja regulamento esdrúxulo ou jogo ao meio dia para satisfazer televisão, o discurso é sempre o mesmo “se Deus quiser, estou aqui para jogar, com certeza”.

Os caras preferem falar besteira no twitter. Legal, colocam para fora, mas logo depois são cometidos por algum tipo de “peso na consciência” (ou recebem alguma ligação telefônica dando esporro) e pedem desculpas, apagam, ameaçam desligar as contas. Não é mais fácil aprender a pensar um pouco antes? Existe o que pode e o que não pode dizer em público. Se bem que eu não sei mais o que se encaixa na categoria do “pode”.

Chamar de Florminense não pode. Mostrar que é um completo analfabeto “em pró ao grupo” pode. Pegar uma mísera parte do morro de dinheiro que ganha por mês e pagar um professor particular para aprender a escrever e saber que faz frio e não tem feijão na Ucrânia não rola. Fazer tudo o que o empresário diz é o principal.

Não é só culpa das regras ou do politicamente correto que o futebol está chato. Começa pelos próprios jogadores mesmo. Dada a falta de educação básica que a maioria é acometida, somada à patrulha dos empresários que devem analisar até o papel higiênico nos banheiros, fica difícil esperar algo diferente mesmo. Vão sendo todos doutrinados até que chegará o dia que um jogador fará um gol e, de cabeça baixa, envergonhado, pedirá desculpas à torcida e time adversários.

Flamengo Net

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