Adriano no Fla? Ótimo pra ele, (muito) arriscado para o clube
Adriano volta à pauta do Flamengo – se é que um dia saiu. Atrasou de novo e repetidas vezes o embarque para a Itália, aumentando o rosário de desculpas esfarrapadas: - A conexão em Lisboa era ruim. Até seu empresário Gilmar Rinaldi perdeu a paciência no Twitter (embora vá dizer que não, é claro).
O fato é que o Flamengo foi o único clube que tolerou o “pacote” Adriano. Regalias, indisciplinas, a vida desregrada do craque em perigosa promiscuidade com a rotina do clube. Mas Adriano pagou fazendo gols, dezenove no campeonato brasileiro, é fato que sem ele não haveria o hexacampeonato.
Dito isso, quero afirmar que sou grato ao Adriano. Mas não posso esquecer os riscos desnecessários assumidos no campeonato brasileiro de 2009, em sua reta final. O vergonhoso episódio na bolha no pé, justificado com a pior desculpa da história, incluindo as de Romário e Beto Cachaça, ocorrido depois de uma atuação apática e passiva de Adriano contra o Goiás. A ferida tirou Adriano do jogo contra o Corinthians e o botou em campo a meio pau contra o Grêmio.
Reconheço que chegamos àquela fase do torneio em condições de conquistar o título, em grande parte, graças aos gols de Adriano. Mas isso não lhe confere o direito de tocar o dane-se na parte decisiva. Ao invés de diminuir-lhe a responsabilidade, o conjunto de feitos anteriores só aumentaram o seu dever de ser o grande nome – que não foi – dos últimos jogos.
A situação se agravou na Libertadores. Agora, o que se lembra é o gol de pênalti contra o Corinthians e o último gol no Chile, como se não houvesse uma conexão direta entre ele não ter jogado três jogos da fase classificatória e o Flamengo não ter se classificado melhor e até mesmo ganhar confiança para a sequencia do torneio.
É certo como a luz do dia que, se Adriano voltar, fará gols. Mas também voltarão os atrasos, as indisciplinas, as faltas nos momentos decisivos, coisas que considero nocivas para o Flamengo e um desrespeito tremendo com todos nós.
É ótimo para o Adriano voltar, porque só no Flamengo aceitaram suas desculpas e a sua cara de pau de chamar os críticos de pessoas ruins. É ruim para o Flamengo repatriar um jogador que acha que o clube está abaixo dele e de seus caprichos.
Em 1996, na semana que Ronaldo Nazário chegou ao Barcelona, eu estava na Catalunha. Conversava como um grupo de blaugranas, dizendo que acreditava que o futuro Fenômeno iria arrebentar no Barça, e ele retrucaram: - Se fizer metade do que fez Romário, será um deus. Perguntei-lhes se eles gostariam do regresso de Romário, então no Flamengo, mas que além de gols, aprontou a valer no Barcelona. O mais velho deles me disse: - Somos gratos ao Romário, mas já está de bom tamanho. Não vamos arriscar um passado glorioso.
É isso. Obrigado, Adriano. Mas já está de bom tamanho.
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