quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A DOENÇA DO MARASMO

Paulo Lima*

Pela primeira vez, em 30 anos, meu flamenguismo foi acometido por um terrível vírus: o marasmo.

Para o rubro-negro da minha faixa etária, terminar um ano sem títulos e livre do rebaixamento no Brasileiro nas últimas rodadas não é fato terrivelmente incomum. Aconteceu em anos difíceis, com elencos e estrelas maiores, com o agravante do drama de jejum de grandes conquistas.

2010, porém, é um marco.

Talvez porque já me encontre em idade suficiente para não ignorar os fatos e simplesmente, por questões lúdicas, achar que o ano seguinte será um ano melhor, que o dirigente “vai levantar patrocínio para montar um bom time”.

Esta frase em aspas do último parágrafo reflete exatamente essa maturidade que atingi como torcedor. Simplesmente porque esse “bom time” é sempre montado às custas da transparência, A poeira é varriada para debaixo do tapete, os processos e evoluções são maquiados, as articulações maquiavélicas são forjadas e, no fim das contas, o “bom time” anunciado será capaz apenas de produzir resultados a curto prazo, na melhor das hipóteses.

De minha parte, quero ver (alguma) honestidade, palavra, compromisso, transparência, amor ao clube de quem o comanda. Para quem foi eleito, aliado ao fato de ser a 1a mulher a ocupar tal cargo entre os grandes clubes e com o hexa nas costas, era o mínimo que se podia esperar.

Sabe aquele torcedor que era fanático e que, por circunstâncias da vida e/ou do clube, passam a acompanhar menos os jogos e notícias, a não comprar produtos e a parar de incentivar o rubro-negrismo a filhos e familiares. Aconteceu com muita gente, como meu próprio pai. Jamais achei que poderia ocorrer comigo. Mas Patrícia está me sujeitando a isso.

Assim, o marasmo toma conta de mim. E sem terapia de choque, acho difícil que se reverta. Não será preciso forçar-me a “tirar licença do Flamengo”, decisão que eu sempre costumava tomar (e sempre revia um ou dois dias depois) sempre após uma derrota ou eliminação vexatória. Está acontecendo naturalmente.

***

De certa forma, torcer por um time de futebol e gostar do esporte é viver alegrias intensas, com a visão de que as coisas deverão ser feitas de maneira sóbria, austera, transparente, digna, correta, e com pensamento prospectivo e estratégico.

Ora, é verdade: a sociedade mundial jamais atingiu tal maturidade, por que o futebol, no Brasil, e no C.R.F,. traria tal pioneirismo?

Patrícia, porém, fugiu a todos os limites da razoabilidade. Destoou e, muito, da media dos dirigentes de futebol do Brasil, categoria com nível baixíssimo de confiabilidade, imaginando um ranqueamento de lideranças.

Se o seu objetivo é perder torcedores de verdade, você está vencendo, Patrícia. Estou abandonando o barco da militância. Ao menos, por ora.

***

Depois de escrever o texto acima, eis que, no dia seguinte, ocorre-me curiosa história:

Ontem estava eu em um almoço na Missão da Polônia junto à ONU aqui em Nova York ao lado de diplomatas de várias partes do mundo. Sentei-me ao lado de uma diplomata de Trinidad e Tobago, já em fim de carreira. Conversamos, e ela me perguntou se eu conhecia um senhor que estava em frente a ela. Disse que não, mas que poderia ser inclusive um conterrâneo seu, já que o sujeito ostentava uma bela e reluzente gravata listrada em vermelho e preto, cores da bandeira trinitina.

A diplomata surpreendeu-se com minha perspicácia (culpa do álbum de figurinhas com as bandeiras de todo o mundo, quem nascido em 79, 80, 81 não se lembra?). Eu logo retruquei dizendo que as cores me eram muito atraentes.

- Por que? – indagou ela.

- Por que são as cores do clube por que torço no Brasil, o Flamengo – respondi, com orgulho, mostrando o escudo no meu crachá.

Hipnotizada ao ver o distintivo rubro-negro, ela me vem com essa:

- É impressionante. Todas, eu disse, todas as vezes que eu conheci um brasileiro, que conhecia alguma coisa de meu país, sempre relacionou a nossa bandeira com esse Flamengo, dizendo-se torcedor do clube. É impressionante, é como uma religião – disparou.

***

Patrícia, você não sabe o que está fazendo…


*Paulo Lima, 30 anos, carioca, mora em Nova York a serviço do Itamaraty e, há um ano, administrava o primeiro voltado a flamenguistas no exterior (Mundo Flamengo), tinha um espaço no site oficial do Flamengo (Mengão Sem Fronteiras) e era assíduo colunista e comentarista do FlamengoNet. Hoje, sob Patrícia, tudo foi para o ar, e, aos poucos, tem se tornado "apenas mais um rubro-negro"...

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