Por Vinicius Paiva
Vem chegando o Verão, e o término do Brasileirão. Eu, sumido deste espaço nas últimas três semanas por conta de uma monografia de pós-graduação que me consumiu, enxergo neste “recesso branco”, uma oportunidade. Oportunidade de fazer a análise da situação do Flamengo, tendo em mãos o panorama político e financeiro de um dos períodos mais atribulados deste fatídico ano de 2010.
As últimas semanas evidenciaram a derrocada do Flamengo, culminando com um dos episódios mais lamentáveis de nossa história, a renúncia de Zico do cargo de diretor de futebol, após pressões por parte do Conselho Fiscal. Surpreendentemente, por vias tortas (como tudo o que se refere ao Flamengo), tais turbulências levaram à contratação do treinador que sempre foi tido como “sonho de consumo” da torcida. Como consequência, veio a reação no campeonato, com resultados que afastaram as possibilidades de descenso e apaziguaram a Gávea. Ou melhor, apaziguaram Vargem Grande, bem ao gosto de Vanderlei Luxemburgo.
Antes de tudo, gostaria de deixar claro que mesmo a contratação de Luxemburgo, eu atribuo à “gestão Zico”. O próprio treinador, em entrevista ao programa “Bem Amigos”, descreveu seus primeiros contatos com o clube como sendo intermediados por Zico, ainda na condição de responsável pelo futebol. Sendo assim, mesmo que a ratificação do acordo com Luxa tenha ocorrido na “gestão Patricia” (uma vez que a presidente acumulou a diretoria de futebol, antes de delegá-la a Luiz Augusto Veloso), para mim, o principal responsável pela ascensão recente do Flamengo é Zico.
Ainda neste sentido, já que eu não havia manifestado minha opinião neste espaço, reitero meu total desprezo à figura da presidente Patrícia Amorim. Na minha opinião – reitero, opinião de Vinicius Paiva – nossa presidente é uma digna representante da histórica tradição de dirigentes cretinos no comando do Clube de Regatas do Flamengo. Seu retrato são os discursos de voz amena e palavras de união perante a mídia (que a exalta simplesmente por ser mulher, sabe-se lá por quê), mas repleto de punhaladas às costas. O próprio Zico, acusado por Patrícia de covardia ao “sucumbir a uma pressão que ela aguentou”, foi uma de suas vítimas.
Feito o desabafo, vejamos os resultados práticos da irregularidade. Faltando 8 rodadas para o fim do campeonato, o Flamengo se aproxima da “zona morta” da tabela – aquela em que o clube não enxerga maiores pretensões nem de descenso, nem de Libertadores. Sejamos honestos, mesmo que o Flamengo vença seus 5 jogos em casa, alcançaria inóspitos 52 pontos. O Atlético-PR, atual integrante do G-6, possui JÁ POSSUI 46 pontos. Ou seja: ou o Flamengo vence seus 8 jogos, ou Feliz-2011. E por mais que eu seja da teoria de que “quando o Flamengo inicia uma reação, ela só termina ao final do campeonato”, convenhamos que 2 vitórias em 3 partidas não configura propriamente uma reação.
As consequências já podem ser sentidas nos cofres – e poderão vir a ser ainda mais. Após arrecadarmos mais de R$ 12 milhões em bilheterias no campeonato de 2008, e atingirmos R$ 14 milhões no título nacional de 2009, este ano o Fla mal ultrapassou a marca dos R$ 6 milhões arrecadados. Como comparação, o Corinthians está a menos de R$ 2 milhões de quebrar nosso recorde de arrecadação de bilheteria em 2009.
No quesito “patrocínios”, apesar da renovação com o BMG para 2011 (por R$ 9 milhões anuais, R$ 1 milhão a mais do que o atual valor) e do bom encaminhamento com a Tim (por R$ 2,2 milhões), a patrocinadora-master do clube, Batavo, já anunciou sua retirada da camisa para o próximo ano. Convenhamos que os R$ 21 milhões pagos pela empresa de laticínios podem fazer falta, apesar da postura auto-confiante do vice-presidente de marketing Henrique Brandão, que afirma só negociar valores na casa dos R$ 24 milhões/ano. Tendo perdido a condição de atual campeão nacional, além da valiosíssima exposição na Libertadores, o mercado se pergunta quais seriam os argumentos plausíveis do Flamengo para demandar valorização de 15% em sua marca.
Já a venda de camisas, que começou 2010 em alta, arrefeceu ao longo do ano e verificou em setembro seu pior momento. Segundo coluna de Ancelmo Góis, do jornal O Globo, foram 15 mil unidades vendidas no mês – 180 mil peças, anualizando. Um baque, se compararmos com as quase 1,3 milhão de camisas vendidas em 2009. O ritmo atual de vendas, a bem da verdade, equivale ao total de camisas vendidas pela Nike em 2008. Naquele momento, a multinacional se encontrava em litígio com o clube, e a torcida, já sabida do advento da Olympikus, simplesmente deixou de adquirir produtos da marca. À época, foram exatamente 180 mil camisas vendidas.
Em resumo, podemos concluir que o Flamengo involuiu em diversas áreas. Desde as vendas de camisas (equivalentes ao patamar de 2008), passando pelas receitas de bilheteria (que regrediu a patamares de 2007), culminando com o atual ocupante da diretoria de futebol. Neste caso, a involução chegou ao patamar de 1994. É que talvez os mais novos não saibam, mas o sr. Luiz Augusto Veloso, presidente no biênio 1993-1994, foi o responsável pelo início da galopante dívida do clube (hoje na casa dos R$ 300 milhões), além de se desfazer, a preço de banana, do elenco campeão brasileiro de 1992. Á época, o São Paulo (com Junior Baiano), o Palmeiras (com Djalminha), o Grêmio (com Paulo Nunes) e o Corinthians (com Marcelinho) agradeceram um bocado.
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