sexta-feira, 24 de setembro de 2010

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

O Flamengo escolhe seus reforços da melhor maneira?


Ontem o Flamengo acertou o que deve ter sido a última contratação do ano para o seu elenco: o lateral esquerdo Uendel. Parece que jogou no Criciúma, teve uma passagem pelo Fluminense em que entrou apenas três vezes em campo, foi reserva de Eltinho no Avaí e agora era o segundo reserva do Grêmio. Mas foi escolhido para reforçar o Flamengo por um só motivo: foi indicado por Silas.

Silas trabalhou com Uendel em seus dois últimos clubes e deve ter suas razões para indicá-lo. Pode até ser que seja um bom jogador - vai saber? Mas me incomoda bastante que seja contratado um jogador que ninguém conhece, que duvido que alguém na Gávea realmente tenha visto jogar, apenas porque o técnico o conhece. Ao menos está vindo por empréstimo, de graça; não vai, assim, virar um novo Léo Medeiros, trazido por Ney Franco há séculos e até hoje sob contrato com o Flamengo. Mesmo assim, o Flamengo já deveria ter meios melhores e mais embasados de escolher seus futuros jogadores, mesmo os mais baratos.


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Em 15 de abril de 2005, publiquei um texto no FlamengoNet com o título Idéias para o Flamengo: como encontrar bons reforços?. Eis o trecho que explica de forma mais direta a ideia:

A minha proposta: a criação de um verdadeiro Departamento Técnico no clube. Contrate um coordenador - talvez algum grande ex-jogador do Flamengo -, alguns auxiliares e uma porção de estagiários. Coloca eles para gravar cada jogo, assistir e fazer estatísticas e relatórios (inclusive dos próprios jogos do Flamengo).

Agora, por exemplo, sabemos que precisamos de um lateral direito. Se iria ao departamento técnico, consultaríamos os laterais que mais deram cruzamentos pra gol e menos deram chances aos adversários por seu setor em cada campeonato; desses, pegaria-se os vídeos dos últimos jogos, analisaria-se qual a melhor opção e iria atrás do cara certo para contratar. Com base científica, nada de indicação de amigo ou vídeo de melhores momentos dado pelo empresário.

Esse Departamento ainda seria útil no dia-a-dia da comissão técnica. A cada jogo, seria fornecido um relatório sobre o próximo adversário, junto com os vídeos dos últimos jogos, para ninguém ser pego desprevenido. E, além disso, ao invés da diretoria ir em cima do técnico e perguntar "porque está perdendo tanto?", perguntaria-se "o que você vai fazer quanto ao setor defensivo direito do time, por onde levamos 72% dos gols, sendo que esse percentual é maior quando o Ricardo Lopes joga?"


Um dos que comentaram o texto foi Mário Cruz, que foi colaborador do FlamengoNet e na época, se não me engano, já era Vice-Presidente de Planejamento do clube. O comentário:

Perfeita sua sugestão Andre... Fará parte de um pacote que estamos tentando implatar... Esperamos em breve poder dar mais notícias...

Mas, até onde sabemos, o tal pacote não deve ter mesmo saído do papel. Ao menos, quanto a esta ideia.



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Não sou nenhum gênio ou visionário. Mas leiam esta matéria, publicada este ano no GloboEsporte.com: Grêmio 007: análise detalhada dos adversários é trunfo do tricolor. O texto descreve uma estrutura muito semelhante à que eu sugeria em 2005, com os mesmos fins - análise sistemática dos adversários, do próprio time e de possíveis reforços para o elenco - que foi implantada no Grêmio com sucesso e escolhida como a melhor do Brasil em um estudo feito em parceria pelo Sportv e a Universidade Federal de Viçosa. No texto, há a menção de Mano Menezes ter iniciado trabalho semelhante no Corinthians; de Porto Alegre, um amigo já me contou que o Inter também faz o mesmo.

Enquanto isso, da mesma maneira que fez em 2006 trazendo jogadores desconhecidos do Ipatinga por pura indicação do então técnico Ney Franco, o Flamengo está agora contratando mais um jogador obscuro e sem credenciais por pura indicação do treinador de momento. Tomara que este se saia melhor que Léo Medeiros, Jaílton, Walter Minhoca...

Zico e Patrícia Amorim têm o discurso afinado quanto à melhoria da estrutura do Flamengo e a intenção de deixar um legado para o clube. Deixo então a eles a mesma sugestão que dei há 5 anos para dirigentes anteriores - agora, já com exemplos práticos de outros clubes onde isso foi feito. O Flamengo tem que evoluir.

- ANDRÉ MONNERAT escreve também no SobreFlamengo (http://www.sobreflamengo.com.br/ e twitter.com/sobreflamengo)

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