segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O melhor ataque

* Direto do Polaroids Rubro-Negros, por Alexandre Lalas

A chegada e a apresentação de Deivid e Diogo dá aos torcedores rubro-negros a esperança de que dias melhores virão. De fato, tanto um quanto o outro são atacantes de qualidade e que têm todas as possibilidades de brilharem com a camisa do Flamengo. Mas acreditar que a simples presença dos dois jogadores na linha de frente será suficiente para que o clube possa sonhar com uma arrancada no campeonato é mera ilusão.

Os defeitos do Flamengo não se resumem à fragilidade do ataque. Há muito mais o que consertar no reino encantado da Gávea. A começar pelo treinador. Rogério Lourenço não tem a confiança dos jogadores. Não é querido e nem respeitado como Andrade. Não que falte capacidade ao técnico. Falta é baile, experiência. Muitas vezes, Rogério passa a impressão de que não tem a exata convicção do que está fazendo.

No aspecto tático, Rogério acertou a defesa do time. Atrás, a equipe está compactada, corre poucos riscos na partida e exibe segurança. Em compensação, do meio para frente, nada acontece. O Flamengo não tem um padrão, não tem jogadas ensaiadas, nem variação de jogo. Quando mexe na equipe, na maioria das vezes Rogério erra.

Mas a simples substituição do treinador não resolve. Ainda há outros problemas que Zico precisa consertar. Outro ponto negativo do time é o preparo físico. No primeiro semestre, assim como no ano passado, Alexandre Sanz era o preparador físico. Mesmo com problemas extra-campo, o time corria muito. E não era só correr muito. Tínhamos força, agilidade e velocidade além de resistência. Muitas vezes, conseguíamos nos impor na base da força. E mesmo neste ano, quando os problemas comportamentais de alguns jogadores ficaram ainda piores, o time correu. Não foram poucas as vezes em que, com um a menos, o Flamengo saiu de campo vencedor. Foi assim no Fla-Flu e assim também na estreia da Libertadores, no Maracanã, contra a Católica do Chile.

Pois com a saída de Alexandre Sanz do clube, demitido por ser amigo de Marcos Braz e não por incompetência, o Flamengo contratou Toninho Oliveira, que já trabalhara no clube em outras ocasiões, a última delas em 2005, sem deixar saudade. Pois Toninho é um profissional ultrapassado. Os métodos são antigos. O atual preparador físico do clube gosta de trabalhar resistência. E só. Não sabe trabalhar força, velocidade e tampouco agilidade. E o reflexo dentro de campo é claro.

Recentemente, em ótimo texto, o comentarista Arthur Muhlemberg comparou o Flamengo a um ‘arame liso’. Ou seja, cerca, cerca, mas não machuca ninguém. Muito correta a observação de Arthur. E a razão é a falta de força e de velocidade dos jogadores. Não por acaso, o Flamengo costuma melhorar um pouco no final dos jogos, quando o trabalho de resistência feito por Toninho aparece. Foi assim contra o Vasco, o Corinthians e o Inter, por exemplo. Mas no resto da partida, a força para encurralar os adversários, para se impor no jogo, os jogadores não têm. E, sem a força, some a confiança para tentar certos tipos de jogada.

Por fim, outro problema que tem o Flamengo é o meio-campo. Correa, Pet e Renato, jogadores que têm atuado nos últimos jogos, são lentos, de pouca mobilidade e limitado poder de marcação. Para piorar, com exceção de Pet, não são exímios criadores. Correa e Renato têm estilos parecidos. Em um meio-campo com jogadores mais dinâmicos, poderiam compor o setor. Mas nenhum dos dois têm bola e inteligência para serem as cabeças pensantes do meio. Maldonado e Toró, que devem voltar ao time, e Kléberson, que faz uma péssima temporada, tampouco têm estas características. O resto é um enxame de volantes: Antônio, Lenon, Rômulo, Fernando, Williams, Michael, Léo Medeiros. Ou seja, temos um time de volantes e apoiadores e apenas três meias de criação: Petkovic, Vinicius Pacheco e Camacho. Parece pouco. E é.

Há a esperança de que Marquinhos, destaque no Vitória, mas que pouco jogou quando esteve no Palmeiras, possa suprir um pouco desta carência. Mas a melhor aposta, embora possa parecer ousada, é de um garoto da base: Rafael Galhardo. Lateral-direito de origem, é muitas vezes utilizado na meia pelo técnico dos juniores, Paulo Henrique. O garoto tem talento, força física, inteligência e um bom poder de finalização, com as duas pernas. Um meio-campo com dois garotos (poderiam ser Galhardo e Williams) e dois jogadores mais pesados (Pet e Correa ou Renato ou Maldonado ou Kléberson) já melhora muito a chance de fazer com que o ataque funcione. Seja ele formado por Deivid e Diogo ou mesmo por Leandro Amaral e Val Baiano.

Portanto, não basta a estreia da nova (e boa) dupla de ataque para que o Flamengo deslanche. Problemas precisam ser resolvidos, erros necessitam de reparo, da comissão técnica ao meio-campo. Está tudo lá, a espera da intervenção de Zico. Antes que seja tarde demais para que possamos esperar alguma coisa digna neste campeonato.

* Alexandre Lalas é jornalista.

Flamengo Net

Comentários