O Flamengo é o primeiro a entrar em campo. Traja a camisa cobra-coral, e recebe calorosa salva de palmas, que logo se converte em gritos de apoio ao time local, uma provocação que mostra que o campo será um caldeirão. Quando o Internacional, vestindo alvinegro (como o Botafogo) adentra o gramado, é ovacionado com gritos, cantos e hinos. Percebe-se nos rostos dos locais uma viva vontade de consumar uma façanha. A partida começa e o Internacional, ignorando a força adversária, parte ao ataque e começa a exigir boas intervenções de Baena. Mas logo o Flamengo assume as rédeas e impõe sua maior categoria. Chega a passar exatos 10 minutos no campo do adversário. Mas não conta com a suicida vontade do time local e principalmente com a espetacular atuação do goleiro paranaense Roger, que enlouquece a assistência com defesas impossíveis. O jogo é muito movimentado e agrada, nem parece amistoso.
Mas o Inter não resiste. Numa boa trama do ataque flamengo, o ponta-direita Pinho serve o atacante Arnaldo, que emenda para abrir a contagem e marcar o primeiro gol da história da Baixada. 19’, Flamengo 1-0. A seguir, o Internacional busca uma desesperada reação, mas seus jogadores sentem a força da intransponível defesa flamenga. Numa bola alçada, um atacante paranaense tem a infeliz idéia de disputar uma bola pelo alto com Píndaro. Desaba, retorcido e todo amassado. Píndaro, o Homem de Pedra, domina e sai jogando, sem olhar para o oponente. Não é boa idéia partir para o choque direto com Píndaro. Fim da primeira etapa, Flamengo 1-0.
Vem o segundo tempo e a equipe carioca entra bem mais disposta em campo. Chega de exibição, o time agora quer resolver logo a partida. E, logo a 1’ marca o segundo, dessa vez com Baiano. Os paranaenses agora estão perdidos, sufocados, não conseguem reagir. Aos 6’, nova blitz flamenga, bola na área, o zagueiro Júlio se apavora e chuta contra seu gol. É o terceiro gol, Flamengo 3-0. Mais cinco minutos, outro ataque carioca, Arnaldo faz um banzê na área e é derrubado. Pênalti. Píndaro, um dos destaques do jogo, que não cometeu um erro a olho nu, é designado para a cobrança. Manda uma bomba inapelável, 4-0. A goleada é inevitável, o público resignado já se conforma com a chuva de gols que se desenha. E ela vem, caudalosa. Aos 19’, Píndaro avança ao ataque e lança a Gallo, que emenda de longe e marca o quinto gol. O Internacional dá a saída e perde a bola, que viaja para Joca (reserva de Riemer) marcar 6-0. Com o sexto gol, o Flamengo finalmente se acalma e faz a bola correr. Ainda perde Arnaldo após uma pancada, e o time local aproveita o relaxamento adversário para marcar seu gol de honra, já aos 33’. Mas, a um minuto do fim, Joca apanha uma bola perdida e emenda mais uma vez de longe. Dessa vez o goleiro Roger falha, e o Flamengo chega ao seu sétimo e último gol. Sem mais tempo, o placar é definido em Internacional-PR 1-7 Flamengo. Após a consagradora exibição, o Flamengo ainda faria duas partidas em solo paranaense, mostrando seu poderio ao golear a Seleção de Curitiba (9-1) e ao pulverizar o Paranaguá FC, em jogo que teria terminado 15-0 (há poucos registros dessa que provavelmente foi a maior diferença de gols aplicada pelo Flamengo em sua história). Já a Baixada da Água Verde seguiria sendo um dos principais palcos de Curitiba. Em 1924, o Internacional se funde com o América local, dando origem ao Atlético Paranaense. A Baixada seria posteriormente denominada Estádio Joaquim Américo, mas ficaria conhecida como o Caldeirão do Diabo, pela dificuldade imposta aos visitantes. Mais tarde, o estádio daria lugar à moderna Arena da Baixada. O Flamengo, ao voltar ao Rio, confirmaria as expectativas e conquistaria o título carioca, não sem algum drama no final, ameaçado por Botafogo e América. Com isso, a temporada de 1914 estava encerrada, consumando um ano bastante especial e positivo para o rubro-negro, que viu seu prestígio e sua força crescerem exponencialmente, inclusive fora do Rio de Janeiro. Com a fama, logo surgiriam novos convites, novas excursões, e no ano seguinte, o time empreenderia uma célebre jornada ao Pará, onde seria fincado um significativo bastião para o aumento da sua popularidade fora da capital. Mas aí já é outra história.(Texto produzido com a ajuda de informações do blog FlaEternamente. Link)

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