quinta-feira, 27 de maio de 2010

Redundância inconveniente
Por Vinicius Paiva

É duro escrever sobre marketing esportivo - ou pelo menos sobre o off field. Especialmente complicado quando o seu time do coração vive a mais profunda e inadmissível involução em termos de departamento de marketing, tendo profissionais sobre os quais mal se ouve falar na mídia, numa completa falta de divulgação de estatísticas. Ou alguém faz a mais vaga ideia de quantos uniformes foram vendidos em 2010, quiçá quantos terceiros uniformes? Agendar uma entrevista, tentar estabelecer aquela saudável sinergia entre diretoria e torcida (papel muitas vezes exercido pelos blogs e sites extra oficiais)? Nem pensar. Aí só no resta criticar, reiteradamente. E se tornar redundante.

Numa desesperada tentativa de não ser repetitivo, nossos olhos então buscam analisar as iniciativas da presidência e do departamento de futebol - tão importantes, responsáveis pelas contratações, pela montagem do elenco, pela administração do dia-a-dia do clube, etc. Mas nem aí dá jeito. Porque nesta seara, vão sobrar críticas feitas diversas vezes anteriormente. Afinal, o Flamengo ficou um mês sem um comandante do departamento de futebol, o que fez paralisar diversas negociações que vinham em curso. Ex-jogadores assinaram com rivais (vide Zé Roberto). Ex-jogadores passaram a ter mais chances de ir para os adversários do que de voltarem para o Flamengo (vide Emerson). Bons jogadores responsáveis pela eliminação do Flamengo na Libertadores, inicialmente oferecidos a nós, se aproximam de nosso maior rival pela simples omissão da diretoria do Flamengo (vide Montillo). Treinadores inexperientes (de novo!) são efetivados no cargo quando existiam e existem melhores treinadores interessados em retornar ao futebol brasileiro.

Enquanto isso, o Pinheiros e o Minas Tênis Clube se apavoram com a possibilidade de perderem a hegemonia da natação brasileira... Incrível!

Quando percebo que tudo o que escrevi parece um pout pourri de colunas anteriores, direciono minhas críticas à torcida. Ah, amigo, mas aí sim eu adentro uma seara delicadíssima, um verdadeiro vespeiro. Toda vez que fiz isso anteriormente (e percebo que andei fazendo isso muito recentemente), recebi um calhamaço de críticas, porque é difícil pro torcedor não individualizar uma crítica coletiva. É como se eu estivesse apontando pro nariz de cada um e os culpando pelas bobagens cometidas num clube que tem em sua Administração a maior culpada por suas debilidades.

Mas não se pode tapar o sol com a peneira.

Eu não me lembro de ter visto o Flamengo, nos últimos cinco anos, jogando uma competição da estirpe de uma Libertadores da América e passando a vergonha de ser o clube brasileiro com menor público em sua estreia. Não me lembro de alguma vez ter rachado estádio com a ridícula torcida do Botafogo em plena final de campeonato carioca (ou de Taça Rio, seja como for). Não me lembro de, em igualdade de condições com o Fluminense (jogando com titulares e estando à frente na tabela) comparecermos em muito menor número em pleno Fla-Flu. Não me lembro da última vez que o Flamengo teve a VERGONHOSA média de 5 mil pagantes nas duas rodadas inicias de um Brasileirão em que o clube entra como atual campeão e defensor do título. Nos últimos três anos nossa média de público foi de 40 mil torcedores por jogo. Eu disse quarenta mil.

Será que tudo isto não tem mesmo relação direta com o panorama de uma temporada sem títulos, onde até esta altura perdemos mais partidas do que nossos três rivais cariocas?

Façamos uma reflexão e vejamos que além do "índice de comparecimento", o "índice de apoio" da torcida do Flamengo vem fazendo de nós uma das piores torcidas do Brasil. Uma torcida que NÃO CANTA (sem hipocrisia, quem frequenta os estádios já percebeu isso) e que se volta contra o time, vaiando seus jogadores com menos de 10 minutos de jogo. Quando a Universidad do Chile abriu 2 x 0 em pleno Maracanã, cantou-se a plenos pulmões que "acabou o amor, isso aqui vai virar o inferno". Quando o Santos abriu os mesmos 2 x 0 contra o Grêmio no Olímpico (na mesma noite), a torcida gaúcha não parou de apoiar nem por um minuto. O resultado disso é que perdemos o jogo, enquanto o Grêmio virou.

Bom. Mas isso tudo eu também já havia falado numa coluna chamada "O ano em que minha torcida saiu de férias"...

Então eu realmente não sei mais como fazer para sair do óbvio. Talvez o Flamengo me inspire (no pior sentido da palavra "inspiração") a escrever sempre as mesmas chatices. Estaria o problema em mim?

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

Twitter: www.twitter.com.br/viniciusflanet

Flamengo Net

Comentários