quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os erros se repetem. Até quando?

É até difícil juntar os caquinhos e citar todos os erros que dirigentes, comissão técnica e, é claro, os jogadores cometeram ao longo desta temporada. Em quatro meses conseguiram transformar o melhor momento do clube em 17 anos no mesmo inferno de sempre. Não é para qualquer um. Parabéns, campeões.

Vamos tentar enumerar as maiores aberrações da temporada:

1- Prioridade secundária: Todos os dirigentes valorizaram a Libertadores e garantiram que seria a prioridade do clube no semestre. Não duvido. Só não sei o quanto se priorizou a competição. Com um elenco de mais de 30 jogadores, o Flamengo usou o time reserva uma vez. Todas as outras vezes em que disputamos três jogos em uma semana usamos os titulares em uma maratona que com time nenhum dá resultado.

O que aconteceu? Perdemos os jogos que fechavam a maratona e que, vejam só, eram justamente pela libertadores. A maratona de quatro jogos terminou com a primeira derrota para o Universidade e o 2X0 que nos complicou foi após a semifinal contra o Vasco. Talvez fosse melhor que tivéssemos caído ali. Nos pouparia de ser vices na Taça Rio com o time titular que conquistaria uma vitória pouco convincente três dias depois.

"Ah, mas no tempo do Zico os caras jogavam dez partidas em uma semana!" É, no tempo do Pelé também. E os treinamentos eram mais simples, os jogos menos corridos e mais técnicos. Clubes europeus poupam seus times para a Champions, mas o Flamengo não podia perder a chance de ser tetra. Pois perdeu. E não foi só isso que perdeu...

2- Contratações malfeitas: o Flamengo era hexacampeão brasileiro e perdia seu meia-ponta-esquerda na janela. Já havia naquele momento jogadores que suprissem sua ausência de forma tática, o que manteria o esquema do time. Se fomos campeões brasileiros o ideal era manter o esquema, fortalecendo as posições, certo?

De cara, o clube apostou demais na contratação do superestimado Vagner Love que fez boas partidas, mas não tem um talento que justifique a mudança de um esquema campeão. Ironicamente o clube negocia a volta de Zé Roberto que pode retomar sua posição, mas depende do que o novo técnico - a essa altura duvido que Andrade fique - vai querer.

Além disso, ao invés de usar a categoria de base o clube fez contratações de jogadores que vieram para compor elenco e não para disputar posição: Fernando, um volante com categoria, mas sem nenhum poder de marcação; e Rodrigo Alvim, um lateral-esquerdo com algum poder de marcação e pouca capacidade ofensiva. Será que eram nomes assim tão acima de Lennon, Rômulo, Fabrício (improvisado) e Jorbison?

3- Regalias: Bom, essa é a que eu fico mais tranquilo em falar. Desde o episódio da bolha em 2009 eu falei que o Adriano não devia nunca mais vestir a camisa do clube. A despeito da raiva que senti naquele momento delicado em que estávamos muito perto de um título que não víamos há 17 anos, já sabia que essa anarquia organizada não acabaria bem.

Alguns torcedores defendiam as regalias. Houve até quem dissesse que preferia o Flamengo desorganizado com uma idéia romântica de que esse regime dava aquele ar de décadas atrás do futebol. Bem, o esporte mudou - gostem ou não - e o título de 2009 não muda o fato de que em 17 anos passamos em branco e que demoramos cinco anos para disputar o Brasileiro de pontos corridos. Antes só participávamos (mais ou menos como fazemos com a Libertadores). Merecemos o Brasileiro, mas ele não apaga o tempo que demoramos para chegar a ele. Querem esperar mais 17 anos por outro título desses?

O resultado é que em jogos-chave as estrelas não renderam direta ou indiretamente por conta de folgas indevidas. Perdemos a semifinal da Taça Guanabara, "título" que poderia nos dar a tranquilidade para usar reservas em todo o segundo turno; abrimos mão do nosso principal jogador com uma lombalgia - que duvido que aparecesse se treinassem como os atletas que são - e por aí vai. Se para ter estrelas a gente precisa dessas concessões, acho que prefiro um time de bons jogadores, sem regalias e com todos focados.

4- Falta de cojones: Eu não defendo a violência ou a antidesportividade, mas falta no Flamengo gente que mostre a trava da chuteira para atacante que confunde abuso com ousadia. Falta meia ou atacante que saiba como cavar uma expulsão ou segurar um jogo, evitando um empate aos 46. Das contratações feitas, nenhuma teve como critério experiência na competição internacional. O clube apostou na experiência que o elenco já tinha e os jogadores deram a resposta: repetiram o desempenho pífio que conseguiram em outras ocasiões. Isso que é experiência. Not.

Agora, dependemos de uma boa dose de sorte. Mas a Libertadores dificilmente dá sorte nas primeiras fases da competição. É competição para homens e não para moleques.

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É isso. Sinceramente, não sei se vou me dispor ao papel ridículo de torcer contra times para que o Flamengo se classifique. A verdade é que merecemos - e muito - pagar esse mico pela forma como encaramos o semestre. Tem que mudar muita coisa e demitir o Andrade é a forma mais covarde de começar.

Talvez o melhor mesmo seja a gente cair, aprender com esse erro - ao invés de mascará-lo como muitas vitórias esse ano fizeram - e ter tempo para fazer uma nova pré-temporada focando no Brasileiro. Eu só gostaria que esse desempenho ridículo não se tornasse a chance de novas férias para quem não merece. É pegar o novo técnico, levar pra Granja Comary ou algum lugar isolado e passar a Copa do Mundo lá treinando. Já que até aqui não levaram o Flamengo a sério que paguem por isso. Porque pode ter certeza que a gente já está pagando.

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Vale a pena ler o post de Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil. O provincianismo e a falta de motivação da torcida (seja por culpa da diretoria ou de torcedores) foram decisivos para esse semestre.

Flamengo Net

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