terça-feira, 27 de abril de 2010

A falácia do “empate técnico”
Por Vinicius Paiva

De tempos em tempos, o instituto Datafolha – estranhamente o único no Brasil que vem realizando pesquisas de torcida – gera polêmica com a divulgação dos dados que supostamente revelariam qual a cara da paixão clubística do brasileiro. No entanto, a forma com que os números foram apresentados em plena véspera de um Flamengo x Corinthians pela Libertadores me faz ter a certeza de que a intenção não era das mais nobres. Reitero: a FORMA com que os números são apresentados pode supostamente dar validade a uma situação inverídica. Manipula-se a maneira com que os dados são apresentados, e não os dados em si.

Foi com estardalhaço que diversos veículos da mídia, inclusive o GloboEsporte.com, replicaram o “empate técnico” entre Flamengo e Corinthians, por conta dos percentuais apresentados pelo Datafolha – respectivamente 17% e 14% (http://colunas.globoesporte.com/olharcronicoesportivo/2010/04/27/nova-pesquisa-datafolha-aponta-crescimento-corintiano/). Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o Flamengo SUPOSTAMENTE poderia variar até 15% (para baixo), ao cabo que o Corinthians ainda-mais-supostamente (pois jamais apresentou dados desta magnitude) poderia subir até 16%.

Ora, mas variações da margem de erro só demonstrariam um empate técnico fidedigno caso Flamengo e Corinthians ficassem se revezando na liderança. Se hoje desse Fla 16% a 14%, amanhã desse Corinthians 16% a 15% e assim por diante, realmente não se poderia dizer com certeza qual a maior torcida do Brasil. A questão é que isto nunca aconteceu. Os dados a serem divulgados pelo Datafolha mostram – como sempre mostraram – o Flamengo na dianteira, 3 pontos percentuais acima de seu rival.

Tem mais. No dia 04 de janeiro, apenas 3 meses e meio atrás, a mesma pesquisa do Datafolha mostrou a torcida do Flamengo numa esmagadora dianteira – 19% a 13% (http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=936). Não seria muito mais inteligente considerar a margem de erro em torno desta base? Assim sendo, variamos 2 pontos percentuais para baixo – de 19% para 17%, enquanto o Corinthians variou um para cima – de 13% para 14%. Apresentados assim, os números não parecem bem mais parciais?

Mas quando um instituto pega os dados de sua pesquisa e aplica O LIMITE DA MARGEM DE ERRO PARA BAIXO para o Flamengo, e o LIMITE DA MARGEM DE ERRO PARA CIMA para o Corinthians, de modo a publicar que “a torcida do Corinthians empatou com a do Flamengo”, à véspera do embate mais importante entre os dois clubes em suas histórias.... Para mim não passa de conversa para boi dormir. Ou melhor, para paulista dormir. Dormir o sono dos invejosos, o sono daqueles que sonham ser Flamengo e, por jamais terem conseguido, se utilizam de subterfúgios na desesperada tentativa de consegui-lo.

Vão plantar batatas. Invertamos a “racional lógica” da margem de erro (ou seja, aumentemos o resultado do Flamengo em 2 pontos percentuais, e reduzamos a do Corinthians em igual medida) e teremos um acachapante 19% a 12% - situação bem semelhante àquela verificada em janeiro. Será que mediante este quadro o Datafolha (e os outros veículos de mídia) seriam capazes de lançar a manchete “Torcida do Flamengo dispara e abre distância para o segundo colocado”?

A grande verdade é que a maioria absoluta dos dados históricos sérios mostram a torcida do Flamengo variando entre 15% e 20%, enquanto a do Corinthians se restringe a variações da ordem de 10% a 14% (http://www.rsssfbrasil.com/miscellaneous/torcidas.htm). Se o tal “limite do empate técnico” fosse usado a nosso favor tanto quanto ele é usado a nosso desfavor, poder-se-ia até mesmo dizer que nossa torcida é o dobro da deles.

Os dados completos ainda não foram divulgados. As informações, até o momento, são apenas do blog “Olhar Crônico Esportivo” – que tem credibilidade, é bem que se diga. Mas nada me convence de que dependendo da maneira com que a maquiagem é feita, a baranga branquela pode até se fingir de uma morena curvilínea. De qualquer maneira, aguardarei a divulgação dos dados por estado, por região e por sexo, e escreverei outra coluna assim que os mesmos vieram a público. Vejamos de onde o Datafolha conseguiu dizimar esta espécie que, todo o Brasil sabe, parece brotar do chão.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com
Twitter: @viniciusflanet

Flamengo Net

Comentários