quinta-feira, 15 de abril de 2010

Carta aberta à presidência

*Por Pablo Duarte Cardoso

Senhora Presidente,

A mim como a milhões de outros torcedores, pareceu de uma burrice inaudita sua postura de apoiar o sr. Fábio Koff na recente eleição para a presidência do Clube dos Treze, diante de todas as indicações dadas pelo sr. Ricardo Teixeira de que a CBF considerava entregar a taça de bolinhas ao Flamengo.

Vou deixar para sua coletiva de amanhã, onde a senhora decerto tentará justificar o injustificável, a conversa fiada de que se tratava de promessa impossível de se cumprir, diante de decisão judicial que a proibia. A senhora e eu, que somos alfabetizados, sabemos que bastava à CBF jogar com a ambigüidade para driblar essa decisão: sem deixar de considerar o Sport campeão de 1987, bastava-lhe equiparar a Copa União ao campeonato brasileiro, ainda que sem chamá-la por esse nome. Portanto essa conversinha a senhora reserve aos analfabetos, amanhã.

Poupe-me, igualmente, de me assinalar que o sr. Kléber Leite é um picareta e que foi o de que mais nocivo já passou pela Presidência do Flamengo. A senhora estará pregando ao já converso, a alguém que o considera infinitamente pior que o Edmundo dos Santos Silva.

Não se tratava, ali, de premiar o sr. Kléber Leite, que a senhora e eu preferiríamos ver longe do futebol e do Flamengo. Tratava-se de calcular onde residia o interesse do Clube de Regatas do Flamengo. A senhora tinha duas opções: aliar-se ao sr. Ricardo Teixeira e à Globo, aliados nossos, até então, na luta pelo reconhecimento de 1987, ou aliar-se aos inimigos São Paulo e Sport. A senhora, para minha estupefação e emputecimento, preferiu aliar-se a São Paulo e Sport.

O resultado de sua postura inconseqüente foi anunciado ontem, e a taça de bolinhas está perdida para sempre. Com ela vai o reconhecimento de 1987.

Diante disso, ou eu muito me engano ou só lhe resta, amanhã, em sua coletiva de imprensa (que já antecipo patética), recorrer à demagogia. Repisar a obviedade de que o Flamengo não é menos campeão de 1987 por isso, como se disso se tratasse -- e não da possibilidade de encerrar de uma vez por todas qualquer discussão a respeito.

Não quero ser injusto e deixar de reconhecer a culpa imensa, nesse particular, dos presidentes que a precederam -- entre eles, faz sombra a todos os demais o sr. Kléber Leite, que foi quem permitiu o ingresso do Sport no Clube dos Treze, em 1997, sem antes exigir sua capitulação incondicional na disputa pelo título de 1987. Se o fez por imbecil ou por mal intencionado é coisa que não vem ao caso, agora.

O que, sim, vem ao caso, é que, em quatro meses de gestão, a senhora conseguiu uma façanha difícil de conseguir: perdeu um título que já era nosso. Como disse, muitos outros contribuíram para isso. Mas o feito é seu.

Eu me lembro de ter lido, logo depois que a senhora assumiu, em alguma entrevista, que a senhora pretendia “lutar de corpo e alma” pelo reconhecimento de 1987. Que pretendia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance por isso.

Pois o reconhecimento esteve ao seu alcance, na eleição do Clube dos Treze, e a senhora não fez o mínimo. Não foi capaz de identificar de que lado estava o interesse do Flamengo. Isso, senhora Presidente, a desqualifica para continuar exercendo as graves responsabilidades de que foi investida. Podem não significar muito para a senhora, mas significam muitíssimo para alguns milhões de torcedores como eu, que não saberemos perdoá-la pela perda desse troféu.

Atenciosamente,

Pablo Duarte Cardoso

Flamengo Net

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