terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Alfarrábios do Melo

Olá, saudações rubro-negras a todos. Foi mágico, foi intenso, foi espetacular, foi Flamengo. Mas está longe de ter sido inédito.

Há algo de peculiar em surrar o Fluminense. Aliás, há que se reconhecer que, entre os rivais arco-íris, a agremiação coloridinha das Laranjeiras é a que possui a personalidade mais complexa. Ora, o Vasco já aceita o Flamengo com uma resignação quase bovina, regalando-se com vitórias avulsas que gotejam a cada biênio em sua pálida estatística (desde que não valha taça. Se estiver em jogo qualquer troféu, medalhinha, diploma ou mesmo bala toffee, aí a casa cai pro bacalhau). Já o Botafogo se veste de incurável neurose, culpando a arbitragem, o esquema tático, o sol, a chuva, a cotação do dólar e a PM paulista ANTES mesmo de levar a tradicional chinelada flamenga. Basta ver o entusiasmo com que sua torcida (?) preenche (???) as arquibancadas do estádio a cada partida contra o Flamengo.

O Fluminense, não. Recusa-se a aceitar sua condição de coadjuvante. Apanha sem perder o ar “blasé” de uma nobreza há muito perdida. E gosta. Quanto mais retumbante é a intensidade da surra, mais estridente se torna. Talvez por isso venha sendo o alvo preferencial da artilharia flamenga, que nunca perde a oportunidade de crivar-lhe de gols e sonoras traulitadas ao longo do tempo, biabas de cinco, seis, até sete. Mas, após passar as pomadinhas e ungüentos no lombo ardido, sempre volta pra pedir mais. E mais. Pode esperar, caro colega rubro-negro hexacampeão. Até o final da semana a turma tricoloridinha subirá nas tamancas e cantará o título estadual antecipado, vai falar de Assis, Washington, João de Deus, lelelê, lalalá.

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Voltando ao que ocorreu no domingo, no intervalo: As tricoletes cantavam, berravam, provocavam, atiçavam. Com meros 1-0 (um a zero!) já era olé pra cá, olé pra lá, ou seja, incitavam a reação flamenga, numa ânsia, num desejo mórbido de sentirem o rubro-negro sovando cada gol em suas entranhas. Pareciam PEDIR a virada, a surra, talvez já sabendo que historicamente o Flamengo dificilmente falha. E isso já vai a quase 100 anos... Duvida? Então olha só a listinha de exemplos que mostram que a história sempre se repete.

1913. Estamos no terceiro Fla-Flu da história. Mas a torcida tricolete só sabe falar do primeiro Fla-Flu, que ganharam de 3-2. Aliás, o que é mais chato? Botafoguense falando de Garrincha ou algum tricolor falando dessa porra desse primeiro flaflu? Pois bem: começa o jogo, e sabe-se lá por que força da natureza o Flamengo anda em campo, mesmo tendo um time muito melhor. Motivado e querendo repetir a história do primeiro clássico, o Fluminense abre 3-0, e o primeiro tempo termina assim. E haja apitinho, palminha e gritinho. Aquilo emputece os jovens atletas flamengos, que se enchem de “élan”, voltam pro jogo com sangue na boca e sem cerimônias enfiam SEIS gols na esganipada defesa tricolete, fechando a conta em 6-3 e calando as palminhas. Aliás, o Flamengo passa os QUATRO anos seguintes aplicando surras semelhantes, sem perder umazinha que seja, e as tricoletes só sabem repetir a ladainha do primeiro flaflu...

1964. Essa o Flamengo não ganhou, mas o efeito moral foi semelhante. Jogo válido pelo Carioca, segundo turno. O time não vem bem, mas quer a vitória. Vai à frente, mas o Fluminense aproveita um contragolpe e abre o placar, num belo gol de Ubiraci. Mas em quinze minutos o Flamengo vira, com Oswaldo e Airton. Na segunda etapa, o tricolor, que vinha em melhor fase, pressiona e empata, com Amoroso. Quando o empate parecia decretado, o mesmo Amoroso aproveita cruzamento e vira pro Fluminense, a quatro minutos do fim. Pronto. Aí começa o show de toquinhos pro lado, musiquinha, bailinho, confetinho, esses mimos. Ferido de morte, o Flamengo avança todo, e já aos 50 minutos o zagueiro Ananias arromba a área fluminense e é derrubado, fazendo o Maracanã irromper num berro másculo que silencia os faniquitos e silvos do lado de lá. Oswaldo bate o pênalti, dá uma porrada e define o empate em 3-3.

1993. O Flamengo não faz um bom Estadual, e concentra-se na disputa da Libertadores. O Fluminense, que ganhara a Taça Guanabara, é considerado favorito. E não encontra dificuldades para abrir 2-0 diante de um Flamengo apático e desmotivado, com gols de Vágner e Ézio. Mas a cantoria e as provocações da torcida tricolor acendem o rubro-negro, que desconta ainda no primeiro tempo, com Paulo Nunes. Na segunda etapa, o Flamengo parte pra cima, perde muitos gols, até que finalmente empata, quando Marcelinho entorta um zagueiro e cruza para Gaúcho chutar de cabeça (é, ele chutava de cabeça) no ângulo. As duas torcidas já sabem como isso vai acabar. E aos 35’, a bola é alçada na área e Gaúcho apara pro Maestro Júnior, que amacia e manda a bomba, decretando os 3-2 e mandando a tricolaiada mais cedo pro laranjal.

1997. Campeonato Brasileiro, últimas rodadas. O Flamengo disputa vaga entre os oito finalistas. O Fluminense, como de hábito, briga pra não cair. Ambos precisam da vitória. O Flamengo tem muito mais time e está melhor. Mas Luís Alberto se atrapalha e marca contra, abrindo o placar pras Laranjeiras no finalzinho da primeira etapa, iniciando uma zuada insuportável. Há tricolores chorando nas arquibancadas. O goleiro Wellerson, que está fechando o gol, dá entrevista no intervalo dizendo que “sempre cresce contra o Flamengo”. E tome “João de Deus” pra lá e pra cá. Começa o segundo tempo. 3’, Wellerson leva um frango. 7’, o Flamengo vira pra 2-1 com Lúcio. Aí, João de Deus aparece e evita que o jogo termine em sete ou oito pro Flamengo, que novamente é decisivo pra rebaixar o rival.

2004. Esse nem precisa detalhar muito. Romário, olezinho, bolinha, toquinho... Até que apareceram Felipe, Roger e tudo acabou em poeira. aqui o vídeo.

Esses tempos recentes, em que é mais fácil o Barrichello ganhar uma corrida do que o Flamengo perder um clássico, mostram a repetição de um ciclo. Isso aconteceu em meados dos anos 50 e no final dos anos 70. E está ocorrendo agora. E é recebendo essas coças sistemáticas e metódicas que os nossos rivais mostram a sua verdadeira substância. Um aceita resignado sua condição de eterno “runner-up”, outro se afoga nas lágrimas neurastênicas do choro fácil e o último berra alto sem nunca cansar de tanta porrada. E com isso vão formando essa massa amorfa, sem personalidade, sem alma e sem cor, engalfinhando-se entre si e sonhando com o dia em que perderão a alcunha de “anti-Flamengo” e poderão ser reconhecidos como instituições de mesmo nível de grandeza e glórias.

Nunca serão.

(crédito vídeo:
www.flamuseu.blogspot.com)

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