sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O eco do Raul


65 mil pessoas espremidas no Couto Pereira. Maior público do estádio até hoje. Domingo úmido, 15 de maio de 1983. Atlético e Flamengo lutavam por uma vaga na final do campeonato brasileiro. O Flamengo havia vencido por 3x0 o primeiro jogo no Rio, o que obrigava Assis e Washington a devolverem a diferença em Curitiba. Dentre as 65 mil pessoas, meu pai e eu. Meu primeiro jogo de corpo presente, aos dez anos de idade. Só conseguimos ingresso para a torcida da casa, mas tudo bem. O que importava era estar lá, e ver Zico, e os outros heróis das minhas figurinhas e botões e fotos coladas na parede.

Ninguém acreditava que o Atlético pudesse reverter o placar do primeiro jogo. Mas de repente, no primeiro tempo, em dois lances próximos e parecidos, Washington fez dois gols. 2x0, e o Couto Pereira enlouqueceu. A classificação atleticana deixara de ser um milagre para ser provável. Meu pai e eu quietos, espremidos, no meio de uma gente ensandecida que mal acreditava no que estava vendo.

Ainda no primeiro tempo alguém do Atlético invadiu a área pela direita. Acho que era o Capitão, que cruzara as bolas dos dois gols. Sei que estava livre, e todo o estádio ficou em pé, e pude perceber o gol na garganta dos atleticanos. Meu pai segurou a minha mão e Capitão soltou uma bomba. Os torcedores que nos espremiam levantaram os braços para comemorar, mas logo os abaixaram, e caíram nos assentos, como se fossem balões que houvessem murchado de uma hora para outra.

Em todo o Couto Pereira, ao invés do grito de gol, o que se ouviu foi a voz dos locutores dos rádios: - RAAAAAUUUL! E como um vento fúnebre a varrer o silêncio atleticano, as duas últimas letras do nome de Raul ecoaram degrau por degrau das arquibancadas, uuuuuuuuuuuullll. O Atlético morreu nas mãos de Raul.

Hoje, vinte e sete anos depois, ainda me emociono ao lembrar da defesa que nos levou a disputar e vencer o terceiro de nossos seis títulos nacionais. E se eu fechar os olhos, e lembrar dos atleticanos murchando em seus assentos, ainda posso ouvir a voz coletiva dos rádios, RAAAAAUUUL, e seu eco eterno em minha memória, uuuuuuuuuuuuulll...

Raul e seus companheiros em Curitiba, 15 de maio de 1983



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