sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A competência e a inércia

* Por Vinicius Paiva

Ao completar cerca de um mês sob nova presidência, já é possível perceber algumas condutas louváveis vindas de certos departamentos do Clube de Regatas do Flamengo, ao mesmo tempo em que se identificam outras, no mínimo, temerárias – pois é cedo demais para se reprovar a atuação deste ou daquele setor.

Agrada-me demais a nova forma de fazer política do vice-presidente de futebol Marcos Braz, especificamente no que se refere à negociação e contratação de jogadores. Se não me engano, o próprio dirigente já revelou, em entrevista, ter em mente uma atuação de bastidores que lembre a do São Paulo, clube que não tem por hábito gastar um real sequer na contratação de jogadores. A estratégia é seduzir aqueles que estejam em fim de contrato com clubes brasileiros, ou oferecer a visibilidade do clube para atrair empréstimos de jogadores pouco aproveitados nos clubes europeus. Vem dando mais do que certo, vide os acertos com Vagner Love, Fernando, Ramon e Michael sem ônus para o clube (além dos salários). Se considerarmos que as dívidas do Flamengo beiram os R$ 400 milhões e que não podermos nos dar ao luxo de jogar dinheiro fora (como no caso de Fierro, cujo contrato se encerra depois da Copa do Mundo, e que gerou um grande endividamento do Flamengo com a Traffic) fica fácil perceber a correção da nova política.

Ao mesmo tempo, me preocupa a adoção de uma política de curto prazo, que vise apenas a Libertadores – com jogadores contratados por seis meses ou menos. Tudo bem que o torneio continental deve ser nossa obsessão, pois já passou da hora de nos sagrarmos bicampeões continentais e mundiais. Mas foi exatamente a política de longo prazo adotada pelo Flamengo a partir de 2005 a grande responsável pela seqüência de títulos verificados nos anos seguintes, culminando com o Brasileirão 2009.

Uma breve retrospectiva ao ano de 2004 nos leva a entender a razão da mudança de postura adotada. Naquela época, um Flamengo de pires na mão (até mesmo sem talões de cheques, como diversas vezes confidenciou Márcio Braga), salários atrasados e torcida impaciente perdia jogadores até mesmo para times pequenos. Ao final daquela temporada, na tentação de trabalharem em clubes de maior profissionalismo, o Flamengo perdeu de graça dois de seus principais ídolos da época: Julio César e Jean. O Flamengo não ganhou um tostão, pois ambos esperaram seus contratos terminarem para assinar contrato com Internazionale de Milão e Cruzeiro, respectivamente. Reiterando, o Flamengo não ganhou um centavo sequer na negociação do melhor goleiro do mundo da atualidade, algo absolutamente inconcebível. No “caso Jean”, vivemos a humilhação suprema de perdermos o jogador de graça e, seis meses depois, contratá-lo por empréstimo – valorizando-o para uma venda que aconteceria meses depois, e da qual se beneficiou apenas o clube mineiro.

Perdendo seus ativos, o Flamengo viveu o pior ano de sua história em 2005. Humilhado no estadual (8º colocado), na Copa do Brasil (eliminação nas oitavas, para o fraquíssimo Ceará) e no Brasileirão (15º, após um rebaixamento quase certo), o Flamengo mudou sua postura. Passou a fechar contratos longos com seus recém-contratados, como Bruno, Leo Moura, Juan, Angelim e Toró, e o resultado todos nós vimos. O próprio fato de Bruno Mezenga ter rodado o mundo e ainda pertencer ao Flamengo é resultado desta política iniciada lá em 2005, e que agora parece se perder. Do time titular, boa parte vê seus contratos se encerrando ao final do ano, e praticamente todos se encerram até o ano que vem. Trata-se de um assunto que exige profunda reflexão.

Outra desagradável constatação que venho tendo – esta na “minha área” – se refere ao departamento de marketing do Flamengo, atualmente presidido pelo vice Henrique Brandão. A impressão que passa é que desde que a antiga diretoria se afastou, o Flamengo não possui mais departamento de marketing. Até mesmo a negociação do patrocínio com a Batavo se deu por uma espécie de “equipe de transição” presidida pelo ex-vice presidente Ricardo Hinrichsen.

A única iniciativa elaborada até agora foi o lançamento de um uniforme (do modelo antigo, defasado!) com o nome de Vagner Love, coisa que qualquer torcedor podia fazer ele próprio. Ao que parece, não há intenção alguma de se explorar comercialmente o uniforme limpo com que o Flamengo vem jogando, sendo que existe uma demanda brutal por uniformes limpos do Flamengo - eles jamais foram vendidos a não ser na categoria retrô. A título de comparação, o São Paulo, ainda sem patrocínio, já anunciou que vai vender camisas limpas, e que pretende comercializar nada menos do que 200 mil peças em um mês. Do Cidadão Rubro Negro - que nestes dois meses de euforia deveria catapultar seu número de associados – nem se ouve mais falar. Vários do partais do site oficial do Flamengo (como a Flapedia) estão defasados, sem uma atualização sequer. E a comunicação com o novo departamento é péssima: tentei contato por e-mail e fui sumariamente ignorado. Se há uma coisa pela qual o antigo vice-presidente era digno de louvor, era sua disposição de atender não apenas a imprensa, mas também blogs , sites e colunistas rubro-negros. Inclusive a mim, por diversas vezes.

Vou parando por aqui, pois o assunto é denso, entediante e meus períodos estão ficando longos demais. Mas que a nova direção do Flamengo, capitaneada pela digníssima presidenta Patrícia Amorim, enxergue estes defeitos e corrija-os rapidamente. Se há uma coisa que não se pode tolerar dentro deste clube, é a involução.

Emails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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