terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Seja na Terra, Seja no Mar










* Por Arnaldo Branco

Quando o Brasil se classificou para a final da Copa da França contra a dona da casa, lembro de um comentarista dizendo: “agora é saber se o Ronaldo fará os três gols que precisa para ficar na artilharia isolada”. Isso porque a França só tinha levado dois em todo o Mundial.

No que deu, todos sabem. Perdemos e até hoje inventamos teorias conspiratórias sobre o porquê. Raras vezes vi alguém admitir que os franceses vinham bem melhor na Copa e que provavelmente ganhariam da gente mesmo com o Ronaldo tinindo.

É a nossa mania de achar que, quando somos derrotados, é para algum fator alienígena - fala sério, se escalamos um jogador que sofreu uma convulsão no dia da partida, é porque dependemos dele além do limite do razoável para a prática de um esporte coletivo. O brasileiro acredita piamente no seu próprio personagem de anedota, aquele que sempre dá um jeito no final e sai por cima.

Foi essa a história do Hexa do Flamengo. Depois de uma arrancada com alguns tropeços, que seriam fatais se os adversários diretos não tivessem feito muito pior, chegou na última rodada precisando ganhar de um Grêmio sem a menor motivação - e que, mesmo assim, ofereceu mais resistência do que os times que o Internacional e São Paulo tiveram pela frente.

Mas suas lacrimosas torcidas já haviam decidido por antecipação que o Grêmio entregaria o jogo. O que aconteceu nos noventa minutos de ontem à tarde pouco importa para a elaboração de suas teses malucas. Só uma pergunta: porque essa energia criativa não foi gasta em campo, jogando bola, nas rodadas que antecederam o desfecho do campeonato?

O bom do futebol ser (ah, os leigos) “apenas um jogo” é nos mostrar que nem na instância do lúdico conseguimos deixar de lado nossa pusilanimidade e moral maleável. Condenamos o comportamento lamentável de nossos adversários e encontramos várias justificativas para quando agimos da mesma maneira.

Isso em todos os campos. Não sabemos perder nada com dignidade: todos nossos presidentes eleitos democraticamente enfrentaram campanhas de impeachment da oposição, a maior parte sem nenhuma base legal, por conta da nossa eterna falta de aptidão para o jogo.

O brasileiro não desiste nunca: sempre pode apelar para o tapetão.



André Dahmer e Arnaldo Branco são os autores da série de tirinhas "Seja na Terra", publicada durante o primeiro semestre no jornal rubro-negro Vencer. Os cartunistas gentilmente cederam ao Blog da FlamengoNET o direito de reprodução do trabalho aqui no Blog. Para saber mais sobre a dupla, visite os sites: www.gardenal.org/mauhumor e André Dahmer - http://www.malvados.com.br/

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