quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
O retorno e a retrospectiva
* Por Vinicius Paiva
Muito boa tarde meus amigos rubro-negros, após um longo e tenebroso inverno, quando a falta de tempo (resultante do excesso de trabalho) me impediu de desenhar minhas linhas, eis me aqui de volta. Confesso parecer até oportunismo, dado o exultante momento e a inacreditável ansiedade vivida pela nossa torcida nesta que é a semana mais importante dos últimos 17 anos: a semana que pode anteceder o hexa.
O que tenho pra dizer não prima pela originalidade: O Brasil não estava preparado para ver o Flamengo campeão brasileiro. Ao menos, não na era moderna, do marketing esportivo, dos grandes negócios e da maximização de receitas.
Da última vez que o Brasil ficou aos nossos pés, em 1992, Collor ainda era o Presidente da Republica. Nossa economia era uma economia em incipiente abertura, cuja industria estava sucateada. Nossos carros eram carroças (definição do próprio ex-presidente), nossas estatais, cabides de emprego e nossa pauta de exportações se baseava em produtos agrícolas (continua assim, mas hoje na companhia de muitos produtos de valor agregado).
No âmbito esportivo, os patrocínios pagavam ninharia, e as empresas de material esportivo apenas começavam a desenvolver tecidos mais modernos, que absorvessem e evaporassem melhor o suor, em substituição a verdadeiros sacos de arroz e tecidos de lã que eram usados nos uniformes até então.
Vivíamos na era em que se amarrava cachorro com linguiça.
Veio a modernização da economia, a diversificação da indústria, a estabilidade econômica (essencial) e deu-se início, com muito atraso, a era do marketing esportivo, quando a exploração do potencial de torcidas que agregavam milhões de apaixonados ávidos por consumirem produtos oficiais se tornou a grande força-motriz do clubes, ao menos dos mais sérios.
Tudo isso aconteceu com o Flamengo à margem do processo, por conta da falta de bons resultados.
De 1992 a 1999, ganhamos um mísero estadual – apesar de presenciarmos uma grande jogada de marketing, quando se trouxe o melhor jogador do mundo à época (Romário, em 1995), fazendo o Flamengo vender camisas como água.
De 1999 a 2005 presenciamos uma profusão de títulos estaduais que empolgavam a torcida por algumas semanas, até que a luta contra o rebaixamento no campeonato brasileiro vinha como um duro choque de realidade.
Um pequeno divisor de águas chamado Copa do Brasil veio em 2006, fazendo com que conquistássemos nosso primeiro título nacional em anos, o que nos colocou de maneira relativamente regular como postulantes ao título da Libertadores. Mas este não só não vinha como era sempre acompanhando de uma tragédia ante um Maracanã lotado. No Brasileirão, passamos a lutar por títulos (3º em 2007, 5º em 2008...). Melhoramos. Mas a nossa obsessão, o hexacampeonato brasileiro que nos havia sido surrupiado pelo São Paulo em 2008, parecia longe, muito longe.
Só que em mais uma arrancada digna de Flamengo**, nós começamos a chegar lá, e agora estamos a três pontos do paraíso.
E o mundo dos negócios, aquele que achava que só São Paulo dava retorno, que só o Ibope na Grande SP merecia relevância, que só o mercado publicitário paulista deveria ser referência, este está em polvorosa. Porque o Brasil não estava pronto para ver a hecatombe nuclear que representa um título brasileiro do Clube de Regatas do Flamengo.
Aliás, houve quem acreditasse sim. E estes, meus amigos, estão dando duplos twists grupados de euforia. É claro que me refiro especialmente à Olympikus, que decidiu valorizar o Flamengo fazendo com ele o maior contrato de fornecimento de material esportivo do país. A marca de 915 mil produtos vendidos até este 02/12 (num ritmo de 20 mil produtos vendidos por dia) é a prova cabal do que digo. Em se mantendo o atual ritmo, venderemos nada menos do que 600 mil produtos adicionais, totalizando o recorde mundial de 1 milhão e meio de produtos no ano. É de deixar qualquer Real Madrid ou Manchester United de boca aberta.
Em outras searas, o sucesso se repetiu. Nas receitas de bilheteria, o Flamengo é líder do campeonato, já acumulando R$ 12,5 milhões. Isso sem contar o último jogo, que segundo meus cálculos, dará R$ 2 milhões de receita bruta, levando o Flamengo ao inédito patamar de R$ 14,5 milhões em receitas de bilheteria. Isto supera os mesmos R$ 12,5 milhões arrecadados ano passado. (Uma curiosidade: basta o Flamengo colocar 48.654 torcedores a mais do que o Atlético MG nesta última rodada que assumirá a liderança em termos de média de público, com mais de 40 mil aficcionados por jogo).
Outras iniciativas de sucesso foram a venda de bonequinhos de ídolos do clube, o lançamento da revista do Flamengo (que vem se esgotando em todas as bancas até mesmo de São Paulo),a raspadinha do Mengão (estrondoso sucesso no Rio de Janeiro, com mais de 1,5 milhão de bilhetes vendidos até outubro, dados bastante defasados) e o lançamento do Cidadão Rubro Negro.
Quanto a este último, foram muitas os pré-cadastros e as adesões gratuitas, mas ainda desconheço dados que mostrem a quantidade de sócios-torcedores contribuintes. É de se imaginar que um título nacional catapulte esta qualidade de sócios, em especial na modalidade “ouro” (quase R$ 40 reais mensais, com prioridade na compra de ingressos – inclusive meia-entrada – que fazem com que este que vos fala seja um dos raros espécimes de ingresso na mão para o jogo contra o Grêmio).
É óbvio que existiram fracassos, como a Timemania que não engrenou, a Fla TV que ninguém mais ouve falar (e que tinha um excelente potencial a ser explorado) e o enorme período de pires na mão e uniforme limpo, sem conseguir fechar patrocínios, o que impactará desagradavelmente nas contas do clube este ano. Todos estes exemplos servem como referência e lição para a diretoria que tomará posse, após as eleições que se aproximam. Mas num momento tão bom quanto este, é de se esperar que ao contrário do que aconteceu em boa parte de 2009, inúmeras empresas batalhem por um escasso lugar em nosso Manto Sagrado. Números extra-oficiais a que tive acesso dão conta de um aumento da ordem de 10% das vendas de álcool e gasolina pelos postos Ale do Rio de Janeiro após patrocinarem o Flamengo. Isto em se tratando de uma bandeira com centenas de postos é mais uma prova irrefutável de quanto o Flamengo gera retornos extraordinários. Sendo assim, o ano de 2009 mais uma vez comprovou o óbvio ululante: não existe tsunami mais poderosa do que a aquela resultante da parceria entre o Flamengo e seus 35 milhões de correligionários. E o mundo corporativo, se não sabia, agora sabe disso muito bem.
E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com
** Reparem que TODAS as nossas arrancadas só terminam com o fim do campeonato. Caso eles não se encerrassem, nossas arrancadas pareceriam ad eternum. Foi assim em 2005, na fuga do rebaixamento em que ganhamos 6 e empatamos 3 dos últimos 9 jogos. Foi assim em 2007, na bela seqüência de vitórias que resultou na Libertadores. E vem sendo assim em 2009. O que explica isso é camisa, tradição e torcida.
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