quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um pouco da história entre Flamengo X Atlético Mineiro

Nota Administração I: Por razões pessoais, Mariana deixa de fazer parte do quadro de colunistas do Blog a partir desta data. Agradecemos pela dedicação, empenho e colaboração com o Blog Flamengonet durante o período em que manteve sua coluna.

Nota administração II: Certamente nosso amigo e colunista Adriano Melo voltará a falar da história desse mesmo confronto muito em breve, com toda a categoria que lhe é peculiar, na sequência de sua história contando a conquista do Tetracampeonato Brasileiro. Estou antecipando um pouco do histórico jogo das semifinais apenas pela ocasião. Continuem prestigiando a bela sequência contada pelo Melo!


Tal como hoje, o dia 02 de dezembro de 1987 era uma quarta feira. O dia em que todos conheceriam o primeiro finalista do Campeonato Brasileiro daquele ano. No domingo anterior, 29 de novembro, o Flamengo vencera o até então invicto Atlético Mineiro por 1 x 0, gol de Bebeto. E mesmo carregando a vantagem do empate para Belo Horizonte, poucos acreditavam que o time da Gávea pudesse sair classificado para as finais.

Um público de 84.929 torcedores, em sua esmagadora maioria de Atleticanos, tornou o clima daquela partida o mais hostil possível para qualquer Rubro Negro presente dentro daquele estádio. Seja no campo ou nas arquibancadas, o que se viu foi uma verdadeira guerra. Torcedores sendo atacados com pedras, morteiros e tudo mais que poderiam atirar contra nós. Dentro de campo, a batalha não seria menos intensa pela vaga na decisão.

Afinal era mais um Flamengo e Atlético Mineiro decisivo, um confronto já carregado de polêmicas desde o início da década.

Zé Carlos, Leandro Silva, Leandro, Edinho e Leonardo. Andrade, Ailton e Zico (Henágio), Renato Gaúcho, Bebeto (Flavio) e Zinho. Com esse time escrevemos mais um belo capítulo do futebol Rubro Negro.

História essa que começa com sufoco atleticano nos minutos iniciais. Era a tensão do adversário disposto a reverter a vantagem logo no inicio da partida. Fato é que o Flmengo suportou bem essa pressão e aos poucos começou a sair para o jogo. Chegamos aos 22 minutos do primeiro tempo. Zico carrega a bola pelo meio campo e passa para Bebeto, aberto pela direita. Ele adianta um pouco a bola, mesmo assim ganha do zagueiro Atleticano na disputa de corpo. Ele então ajeita com carinho e cruza, perfeita, na cabeça de Zico. Mesmo entre dois zagueiros, não há perdão. Enquanto o então infernal Mineirão silencia, a Nação Rubro Negra, espremida nas arquibancadas ao lado direito das cabines de rádio e televisão, explode. Mengão 1 x 0.

O desespero toma conta dos jogadores Atleticanos. Reclamando de falta de Bebeto no lance, todos correm sobre o árbitro paulista, Dulcídio Wanderley Boschília.

Mais nove minutos, agora são 31 do primeiro tempo. Contra ataque rápido. Zico recebe a bola no meio campo. É deus, não precisa de mais nada além de levantar a cabeça e lançar a Renato totalmente livre pela direita. Em posição legal ele avança, cruza para Bebeto. Batista ainda tenta cortar, mas se atrapalha. E então Bebeto acende o pavio: Mengão 2 x 0.

Não era jogo, era guerra. Novamente os jogadores do Atlético cercam o árbitro reclamando impedimento de Renato. A revolta nas arquibancadas invade o gramado. Um torcedor atinge Leandro Silva com um soco pelas costas. O clima é tenso, o jogo é interrompido, a confusão é generalizada.

Recomeça a partida. Paulo Roberto entra de forma criminosa, desqualificável, covarde em Zico e acaba expulso pelo árbitro. Parecia questão de tempo para que o Flamengo comemorasse sua vaga na final.

Começa o segundo tempo. O Flamengo perde um, dois, três gols claros. Poderia ser uma goleada histórica. Se assim fosse, talvez a história não merecesse ser contata tantos anos depois com tamanho orgulho.

São 15 minutos do segundo tempo. Mesmo com um a menos o Atlético ainda luta. Sai rápido para um contra ataque com Renato. Na entrada da área Leandro o derruba. Pênalti. Chiquinho é zagueiro, não tem a menor cerimônia: Fecha o olho, enfia o bico na bola e marca o primeiro do Atlético.

A torcida Atleticana enlouquece no estádio. O caldeirão volta a pegar fogo.

Agora são 19 minutos do segundo tempo. Chiquinho já não é mais zagueiro e sim armador. Toca livre para o veloz Sérgio Araújo, que entra costurando toda a defesa do Flamengo e chuta no canto de Zé Carlos. É o empate.

Zico estava às voltas com contusões. Entrava e saia do time, e já não agüentava mais o ritmo da partida. O joelho sofre. Ao ser substituído, sai dizendo que o jogo esteve nas mãos, mas era hora do Flamengo se superar. Enquanto isso, dentro de campo o Atlético pressiona, perde chances. A virada parecia iminente.

A pressão é quase insuportável. Quase.

34 minutos, segundo tempo. Saída errada de bola do Atlético no meio campo. Flávio apenas afasta? Flávio dá passe genial? Não importa. Ela cai no pé de quem conhece, de quem tira sabe-se lá de onde um último fôlego para uma última arrancada.

Renato. Cortado um ano antes da Copa do Mundo de 1986 por Telê Santana.

Telê. Um ano depois da Copa vê Renato avançar desde o meio campo, ganhar na corrida do zagueiro, driblar João Leite e empurrar a bola mansamente para as redes.

É o gol da consagração, do alívio, da superação.



Há uma teoria - a teoria da História Cíclica - que afirma o seguinte: Forças humanas mais relevantes acabam motivando a ação humana a seguir uma ciclicidade. Ou seja, tudo o que acontece na verdade já ocorreu, de alguma forma, em algum espaço do tempo. Mineirão, mídia apostando na superioridade do adversário, clima de decisão antecipada, necessidade de superação, camisa “10” no sacrifício...

Com ou sem teoria, melhor o time correr dentro de campo, lutar com todas as suas forças e garantir uma vitória que nos matenha o sonho do hexa. Prometo que se a história se repetir, estudo melhor essa teoria. O importante mesmo é que o desejo do torcedor do Flamengo é de que esse próximo desafio seja tão histórico e importante para o clube, quanto este de 22 anos atrás.

Grande abraço e Saudações Rubro Negras sempre!

Jogo 3703 – 02/12/1987
Atlético Mineiro 2 x 3 Flamengo
Competição: Campeonato Nacional
Local: Estádio do Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Juiz: Dulcídio Wanderley Boschília (SP)
Público: 84.929
Flamengo: Zé Carlos, Leandro Silva, Leandro, Edinho e Leonardo. Andrade, Ailton e Zico (Henágio), Renato Gaúcho, Bebeto (Flavio) e Zinho.
Gols: Zico (22), Bebeto (31), Chiquinho (60 - penalti), Sérgio Araújo (64), Renato Gaúcho (79).

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