sexta-feira, 20 de novembro de 2009


O renascimento do Mengão de São Judas


Texto originalmente publicado no site da FIFA*

São Judas Tadeu é o santo padroeiro das causas desesperadas e, também, do clube que é a paixão de quase 40 milhões de brasileiros. E este clube se achava irremediavelmente mergulhado em uma dessas situações de desespero em agosto passado.

As chances do Flamengo de ganhar o Brasileirão, na verdade, pareciam extintas. Elas haviam sido praticamente enterradas após a derrota por 3x0 para o Avaí, time recém promovido à Série A, e um humilhante coro de “olés” vindo da torcida Catarinense parecia confirmar mais um constrangedor fracasso.

O gigante do Rio de Janeiro havia sofrido três derrotas em seguida. Ele se arrastava na 14a colocação, 13 pontos abaixo do líder do campeonato. Ele parecia ter perdido o tesão; ele parecia ter perdido a confiança. Uma reação parecia inconcebível; uma retirada desonrosa do campo de batalha era cada dia mais e mais provável.

Foi então que São Judas decidiu atender às preces dos Flamenguistas. E ele o fez através de um punhado de discípulos: a garra motivacional e a sagacidade tática de Andrade foi a força motriz do renascimento; o goleiro Bruno se tornou uma barreira quase impenetrável; Maldonado solidificou um turbulento meio de campo; Petkovic enganou quem pensava que ele era uma relíquia (o Sérvio fez 37 anos em setembro), jogando um futebol radiante; e o atacante Adriano, que foi um solitário (embora inconstante) brilhareco durante a primeira metade da campanha do Mengão, atingiu mais uma vez o ápice de uma carreira que muitos acreditavam encerrada.

A reação desde o pesadelo contra o Avaí foi impressionante. O Flamengo, apesar de ter tido uma desafiadora sequência de jogos, venceu dez, empatou três e perdeu apenas um em seus últimos 14 testes; esses resultados impulsionaram o time à segunda colocação no Brasileirão – apenas dois pontos atrás do líder São Paulo, faltando três rodadas para o seu final – e colocou seus torcedores em um estado de êxtase.

“Quem riu de nós agora está vendo que estamos perto do sucesso,” declarou Bruno. “Nós nunca deixamos de acreditar. Este é o resultado da união do time.”

Essa unidade ficou evidente quando o apito final decretou a vitória por 2x0 contra o Náutico em Recife no domingo, trazendo os jogadores em um círculo, braços em volta uns dos outros por quase um minuto. Este foi um pedido do no 1. “Eu disse que, naquele momento, o Rio de Janeiro estava pintado de vermelho e negro, e que os torcedores que estavam ali representavam uma Nação que precisava e merecia esse título,” Bruno explicou.

Apenas três rodadas restam para o Flamengo tentar suplantar o São Paulo (que está perseguindo um inédito 4o título brasileiro consecutivo), mas os presságios parecem vestidos em vermelho e preto enquanto o time busca seu primeiro título nacional desde 1992. De fato, dois dos jogos que ainda faltam ao Mengão vão ser disputados no Maracanã, onde ele venceu os últimos 6 jogos que jogou ali. E onde tem o apoio incondicional de massas de Flamenguistas que lotam o venerável estádio até o teto e promovem uma única, tempestuosa corrente de inspiração. O Tricolor Paulista, por outro lado, joga dois dos seus três compromissos fora de casa – e seis de suas sete derrotas até aqui aconteceram longe de seus domínios.

“Eu estou muito orgulhoso dos meus jogadores,” diz Andrade, que foi um icônico meio campo no Flamengo que conquistou tudo nos anos ’80. “Eles têm feito tudo certo até agora. Já faz muito tempo desde que o Flamengo não tem uma chance como esta, e nós temos que continuar avançando. A tensão aumenta a cada jogo. O São Paulo é um forte candidato e o título está nas mãos deles mas, se nós fizermos a nossa parte, quem sabe?”

Adriano, o artilheiro da competição com 19 gols, atribui o sucesso do Flamengo a seu técnico. “Nós estamos nessa posição por causa do Andrade,” ele diz. “Antes do jogo (contra o Náutico), eu brinquei com ele que, se ele precisasse, eu iria jogar na lateral esquerda (o titular Juan estava suspenso, e o reserva Everton Silva machucado). Este é o espírito deste grupo.

“Nosso objetivo é dar esse campeonato para a nossa maravilhosa torcida. Nós temos que nos concentrar no nosso trabalho e não pensar no nosso rival. Esse titulo vai ser o ápice da minha carreira.”

Uma declaração e tanto para o homem que venceu a Copa América de 2004 e recebeu o prêmio de melhor jogador do torneio, ganhou a Bola de Ouro e a Chuteira de Ouro da Adidas após o triunfo da Seleção Brasileira na Copa das Confederações da Alemanha em 2005 e ajudou a Inter de Milão a vencer três títulos do campeonato Italiano.

Todavia, considerando como parecia inconcebível o Flamengo vencer o Brasileirão três meses atrás, talvez a realização desta missão impossível seja mesmo vista como o a maior conquista da história para grande parte dos Flamenguistas – mesmo alguns daqueles velhos o bastante que acompanharam os anos de ouro de Zico, Júnior e etc.

A bola está com você, São Judas.


*tradução livre, leve, solta e meio vagabunda de Max Amaral. O site da FIFA não informa o nome do autor do texto.

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