Por Max Amaral*
Eu nunca fui um torcedor fanático.
Adolescente, acompanhava o timaço de Zico, Adílio e cia com alegria e orgulho mas, depois disso, confesso que fiquei vendo o time meio que “de longe”.
Não é que meu amor tenha diminuído. É que o resto da vida estava cobrando demais e, mesmo tendo sempre um Manto Sagrado no guarda roupas, não era mais um torcedor que sabia escalação de cor, ou que procurava entender o que andava acontecendo com o time ou com o clube.
Surpreendentemente, isso mudou quando eu me mudei do Brasil. Sei lá se para compensar a falta dos amigos e de gente falando português o tempo todo, passei a acompanhar o time de uma maneira mais ostensiva, escarafunchando a internet atrás de notícias e, depois que descobri os blogs da FlamengoNet e do MundoFlamengo, virou quase um vício.
Então, estamos falando de pouco tempo: o Brasileirão de 2008 – com toda a frustração de ver o time “comandado” (sim, com aspas mesmo) por Caio Jr. entregar um título que estava em nossas mãos e a temporada 2009, com a alegria do Penta-Tri, a decepção do primeiro turno do Brasileirão e a entusiasmante arrancada do segundo turno.
E o que essa arrancada fez foi me deixar nervoso, pilhado demais, fora de mim. O jogo contra o Goiás, semana passada, foi o ápice: cheguei a sonhar com o time perdendo por 2 x 0, Angelim saindo de campo com a perna quebrada, toda a decepção do mundo. Eu fiquei insuportável durante a semana inteira, não conseguia me concentrar em nada e, na hora do jogo, estava nervosíssimo. Minha mulher, inteligente, desapareceu até pelo menos umas duas horas depois do frustrante empate. Eu estava puto.
O quadro só mudou quando eu falei com meu filhote, que mora em Belo Horizonte. Foi aniversário dele semana passada e eu mandei um Manto novo e o livro do Ziraldo (O Mais Querido do Brasil em Quadrinhos, Ed. Globo, dica do Paulo Lima).
E me emocionei com meu garoto, do alto dos seus 7 anos de idade, me contando todo excitado como o Zico batia faltas, ou como sei lá quem fez um gol de cabeça e foi importante. E ele declarou que, quando crescer, vai ser jogador de futebol e vai jogar no Flamengo, e até me pediu para largar a minha profissão para eu jogar com ele.
E eu, com uma lágrima besta correndo, só pude dizer que iria ser lindo vê-lo entrar no Maracanã com a camisa rubro-negra, a torcida gritando o nome dele. E me dei conta, de repente, de algo absurdamente óbvio mas que a gente se esquece de vez em quando: de como o Flamengo é grande! Como é maior que qualquer desses campeonatos, o qualquer desses jogadores.
Então, ainda estou na torcida. Ainda vou secar o SPFW, ainda vou torcer para vencermos o Curíntia e, depois, o Grêmio. Vou ficar maluco com o Hexa. Mas não vou morrer se não acontecer nesse ano, nem nos próximos. Não vou perder o sono por causa da falta de foco do Adriano, da complacência da diretoria, da falta de estrutura que teima em nos fazer sofrer mais do que merecíamos e precisávamos. Vou relaxar e apenas deixar meu amor pelo Mengão falar mais alto, jogo a jogo, ano a ano. Se não der, não deu, vou continuar tão rubro-negro quanto sempre, talvez até mais.
(E, se meu filhote não virar um jogador profissional, também não tem importância. Eu já prometi a mim mesmo que, qualquer dia desses, vou entrar no Maracanã de mãos dadas com ele, e vamos vibrar muito vendo juntos um jogo do Mengão. Acho que isso é o mais importante.)
Max Amaral mora nos Estados Unidos, e tenta explicar aos americanos que gostam de beisebol e futebol americano que divertido mesmo é o soccer. E também escreve no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com).
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