terça-feira, 10 de novembro de 2009
Alfarrábios do Melo Olá, saudações rubro-negras a todos. No embalo de mais uma vitória decisiva sobre o Atlético-MG (o Mengão não perde essa mania...), deixo aqui a segunda parte da história do tetra de 87. A primeira parte está aqui. Há link para vídeo no negrito. Boa leitura. Campeonato Brasileiro de 1987 – Parte 02 Com a demissão de Antônio Lopes, Carlinhos assume a direção do time pela terceira vez em sua carreira. Tal como em 1983, a diretoria pensava em efetivá-lo, mas poucos acreditavam nisso. Com efeito, muitos defendiam a contratação de algum nome caro, não acreditando que Carlinhos, com sua fala mansa e seu jeito conciliador, pudesse administrar um elenco com estrelas como Zico, Edinho e Renato Gaúcho. E foi sob o signo da desconfiança que o Violino partiu para seu primeiro desafio, o superclássico contra o Vasco. Todos na Gávea encaravam a partida contra o rival como uma revanche da final do Estadual. O Vasco havia perdido Tita e Dunga, mas ainda possuía uma equipe muito forte. Seu treinador, Sebastião Lazaroni, tinha à sua disposição nomes como Roberto, Romário, Geovani, Mazinho, Zé Sérgio e Paulo Roberto. O time havia dado mostra de sua força, ao passar por cima do Bahia em plena Fonte Nova, vencendo por 3-0. Muitos davam o favoritismo ao time da Colina, especialmente em função do momento turbulento do Flamengo. Mas Carlinhos deu sinais de que estava disposto a agarrar sua oportunidade. O treinador resolveu barrar Nunes, efetivou de vez Leonardo como lateral, acabando com qualquer tipo de improvisação, e colocou os jovens Ailton e Zinho no time, dando assim liberdade a Zico para armar o jogo no meio. Na frente, o Violino improvisou Bebeto como centroavante, mas o baiano teria liberdade para flutuar pelos lados, alternando-se com Renato, que na visão do treinador estava no auge da forma e tinha que atuar livre. Com efeito, Renato já vinha sendo o principal destaque do Flamengo há meses. Assim, o time foi pro jogo com Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato, Bebeto e Zinho. Apenas 29 mil compareceram ao Maracanã, culpa da má fase do Flamengo e da possibilidade da Globo transmitir a partida (a TV sorteava o jogo transmitido cinco minutos antes). Mas quem não foi perdeu um jogo eletrizante. Mordido, o Flamengo partiu pra cima do adversário, encurralando o Vasco em seu campo. A torcida do Vasco se esquecia da partida e se ocupava apenas em entoar cantos de gozação pelo Estadual. Enquanto isso, o Flamengo exibia grande movimentação e intenso espírito de luta. Comia a grama, como num lance em que Zico deu um carrinho, tomou a bola de Mazinho e tocou pra Zinho iniciar um ataque que quase resultou num gol de Renato. O time estava solto, desnorteava a normalmente segura defesa vascaína. Nem parecia a apática equipe da estréia. O gol parecia iminente, e aos 31’ Renato arranca pela esquerda, passa por Geovani e cruza na cabeça de Bebeto, que se antecipa à saída afoita de Acácio e abre o placar. Flamengo 1-0. Na comemoração, Bebeto e Aílton esbravejam e xingam a torcida vascaína, em resposta aos insultos. O gol flamengo incendiou a partida. Logo depois, o arisco ponta Vivinho fez bela jogada individual e acertou a trave. O Vasco partiu pro ataque de forma enfurecida, e os lances se tornaram mais ríspidos. Uma discussão áspera entre Edinho e Geovani, com direito a dedo na cara e safanão, mostrava o clima tenso. Após intensa pressão vascaína, o primeiro tempo terminou mesmo em 1-0 para o Flamengo. Segundo tempo, o Vasco começa em cima, cria chances, acende sua torcida. 4’, Vivinho recebe pela ponta e cruza rasteiro. Roberto se antecipa e emenda, a bola bate na trave, corre a linha e Zé Carlos consegue defender. Mas o auxiliar aponta o centro do campo após certa hesitação. Tem início uma incrível confusão, os jogadores flamengos apertam o auxiliar, que a um determinado momento parece desistir de confirmar o gol. Mas depois ele desiste da desistência e confirma o empate, para desespero de Renato e Jorginho, os mais exaltados. A confusão desarruma o Flamengo, que quase leva a virada. Mas aos poucos o time volta a equilibrar as ações e volta ao ataque. O jogo adquire ritmo alucinante, Zico e Romário perdem gols incríveis. Agora Andrade e Fernando se estranham. Mas, aos 37’, vem o lance que vai definir a história do jogo: cansado de escutar as provocações de Edinho, o meia Geovani acerta violento soco no zagueiro, afundando-lhe o malar. Edinho sai de campo (entra Aldair) e Geovani é expulso (mais tarde, Edinho prestaria queixa na Delegacia). Com um a mais, Carlinhos coloca Nunes no lugar de Bebeto e o Flamengo parte pra “matar ou morrer”. A torcida percebe e empurra. O Flamengo encurrala, perde gols, exige de Acácio, apequena o Vasco em seu campo. Faltam dois minutos. Zinho é lançado pela esquerda, ganha na velocidade e é atropelado dentro da área. Pênalti! Novo tumulto se segue, até que finalmente Zico pega a bola e vai cobrar. Mas Acácio se aproxima, enseba, catimba, tenta irritar o Galinho. A resposta é uma porrada rasteira, que beija a trave e vai às redes. Zico, normalmente contido, encosta em Acácio e, com classe, também fala um monte pro goleiro vascaíno. E não há mais tempo pra nada. Inflamado, mordido e agressivo, o Flamengo derrota com justiça o Vasco por 2-1. Mais, pela boa atuação e pela coragem na armação do time, Carlinhos é mantido no cargo. A semente do tetra estava lançada. Mas a bruxa começa a pererecar alegremente pela Gávea. Para o jogo seguinte, contra o Santos no Pacaembu, o time, já sem Edinho (afastado por várias semanas), também perde Leandro, machucado. No meio do jogo, Leonardo sente e sai, dando lugar ao fraco Aírton. O resultado é um tosco 0-0, num jogo em que o time pouco criou, salvo uma bola na trave. A seguir, o Flamengo vai a Porto Alegre encarar o Inter, e agora o desfalque é Bebeto. Com uma zaga formada pelos inseguros Guto e Zé Carlos II, o time é presa fácil do Inter e cai por 2-0, num jogo em que o ataque novamente não mostrou força, em função da má fase de Nunes. Destaque para Taffarel, autor de uma defesa sensacional em cabeçada de Zico. A seguir, vem o Fla-Flu. Bebeto e Leandro voltam, mas o desfalque agora é o maior de todos. Zico sofre contusão muscular e vai ficar vários jogos fora (muitos criticaram a diretoria por ter renovado por mais dois anos o contrato com o Galinho, chamando-o de caro e bichado). O jeito é deslocar Bebeto pro meio. Renato vai pro comando do ataque. O resultado é desastroso, o time chega à terceira partida sem marcar e perde por 1-0, sendo eliminado precocemente do primeiro turno. Engrossam as vozes pedindo a cabeça de Carlinhos. Sem se abater, o Violino continua pedindo paciência com os vários desfalques. Já possui seu time na cabeça, precisa de tempo. Respeitado pelos jogadores (muitos o viram atuar quando garotos), segue buscando a mescla entre os mais jovens e as estrelas. Mas sabe que precisa vencer de qualquer forma o Coritiba, no Maracanã. Outro tropeço será o fim. Leandro volta a sentir o joelho (convive com sérias dores, em função de um problema ósseo) e não joga, assim como Bebeto. Com a cabeça a prêmio, Carlinhos coloca Zinho na armação e monta uma equipe com Renato, Nunes e Kita no ataque. A formação dá certo, o time faz boa partida e vence por 3-1, em três jogadas sensacionais do endiabrado Renato (o renascido Kita marcou dois). Finalmente o treinador consegue repetir a escalação em Goiânia, mas não sai do 1-1 contra o Goiás, num belo gol de Zinho. Renato é o melhor em campo e já chama a atenção. Aliás, o ponta é o único destaque flamengo até ali. A campanha do primeiro turno se encerra com um melancólico 0-0 contra o Cruzeiro, no Maracanã, onde o comando do ataque novamente não dá certo, e até o garoto Vandick (vindo da Bahia) é lançado, sem sucesso. Termina o primeiro turno e o Flamengo encerra sua participação com um opaco sexto lugar, num grupo com oito. O campeão do grupo é o Atlético-MG de Telê, que está encantando o país (o Internacional ganha a vaga na outra chave). A pressão sobre Carlinhos ainda é intensa. Zico, em tratamento e perto de voltar ao time, é entrevistado e afirma: “quando os titulares retornarem, iremos pras cabeças. Podem anotar.” Sua declaração é recebida com risos e ironias por vários setores da imprensa. Mas logo todos aprenderiam que não se desdenha de um campeão.
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