domingo, 11 de outubro de 2009


*Por Gustavo de Almeida

Há muitos meses não venho escrever neste espaço, muito em função da falta de tempo, um pouco devido à fase meio irregular por que passava o Maior do Mundo, nos causando certa irritação. Empatar com Barueri e Botafogo e perder para Avaí não são resultados que a gente possa aceitar de forma alguma, e isso vinha me aborrecendo. Contive meus impulsos de escrever aqui até porque esperava a reação do nosso velho e bom Andrade – e efetivamente ela aconteceu, tanto que estamos há oito jogos invictos.

Temos pela frente a prova de fogo, que é pegar o líder do campeonato em seu covil, com as arbitragens tal como vimos ontem, contra o São Paulo, ou seja, juízes totalmente a favor da terra dos Bandeirantes. Ontem me alojei nas cadeiras especiais do Maraca, devido a um compromisso profissional. E o que presenciei, senhores, tem muito pouco – ou tudo – a ver com futebol. Difícil concluir. Com toda certeza, na minha frente, nas cadeiras inferiores, estava a maior torcida estrangeira que eu já vi no Maracanã (considerando que eu nem de longe cogitei colocar meus pés no Maraca na ocasião daquela semifinal de 1976 entre Fluminense x Corinthians). Sem muito medo de errar, poderia dizer até que o São Paulo ontem tinha mais torcedores no Maracanã do que o Botafogo nas finais deste ano.

Em volta deles, claro, ocupando todo o estádio, estava a Magnética. Tal e qual na arrancada de 2007, me lembrei das palavras do filme “O Campo dos Sonhos” (Phil Alden Robinson, 1989), os fantasmas no ouvido de Ray Kinsella (vivido por Kevin Costner): “Se você construir, eles virão”. Não estou com isso querendo dizer que a torcida Magnética é de DNA tricolor, ou seja, que só comparece quando o time está em boa fase. Negativo.

Ora, não esqueçamos que, em longinquas épocas, quando estivemos ameaçados brevemente de rebaixamento (ameaça debelada, já que somos o único clube do Rio eternamente de primeira), a Nação se levantou e a tudo cobriu com sua sombra de glória, destemor e terror geral. O leviatã rubro-negro é um ser que não depende de coisas mundanas como resultados, tacinhas, títulos ou “quantidade de bundas que passam pela roleta da sauna” (Muhlemberg, Arthur, in “Urublog – Globoesportes.com, 2009). A massa flamenga é feliz sem nem entender o porquê. É uma verdade que se basta, absoluta.

E essa diferença apareceu de forma assustadora ontem, na arquiba do Maraca. Ao ver a torcida do São Paulo e sua sem-gracice juvenil, me lembrei daquelas moças casadas com homens ricos e mais velhos, que são forradas de jóias, luxos, idas a restaurantes finos, mas estão sempre tomando Prozac por acharem que falta alguma coisa. Não, não que os torcedores sejam o objeto que quero comparar a essas moças. Estou falando dos títulos do São Paulo. Me ocorreu que essas taças, faixas e condecorações padecem da mesma pasmaceira, do mesmo gosto de chuchu que me transmitiu aquele aglomerado de bambis. É como se as taças e títulos fossem casadas com homens impotentes, que ainda por cima tivessem queimado os dedos e a língua com café quente.

A conclusão é a de que não adianta porra nenhuma um clube ter o decacampeonato mundial e o hepta do Sistema Solar se a combinação entre time, torcida e conquista é algo que não gera espermatozóides sequer para manchar um lenço de papel. Não hã testosterona. Não há paixão. Perto da Magnética, a torcida são-paulina parece uma pasta da Hello Kitty ao lado da Capela Sistina de Michelangelo. A comparação é injusta, até. Em vez de usar os títulos que tem para a educação dos filhos, para a manutenção da Histórias, das Raízes e da Tradição, os mauricinhos usam as taças para gravarem documentários marrentinhos dirigidos pela Conspiração ou pela O2, camisetinhas com trocadilhos bobocas e agasalhos de moleton próprios para croquetes.

Em verdade eu vos digo, companheiros de Jihad: um gol do Rondinelli em final de estadual contra o Vasco nos faz mais feliz do que todos os gols de gente como Raí, Muller, Cerezo e Serginho Chulapa em jogos internacionais ou interplanetários.

Por quê? Realmente não sei explicar. Reside aí o Mistério da Fé.

Flamengo Net

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