Paulo Lima*
Há pouco menos de dois meses, o pensamento era praticamente consensual: esperávamos ansiosamente pelo fim de uma temporada, perdida, e que 2010, muito mais próspero, deveria começar a ser desenhado.
A surpreendente sequência positiva – levante a mão aqui os que realmente acreditavam nesta arrancada! – nos fez congelar tudo: intrigas, polêmicas, debates acalorados sobre o futuro a médio prazo, choque de gestão…eleições…isto é bom. Ou não.
Tudo parou, por conta do imediatismo gerado pelos resultados alcançados, pelas atuações apresentadas e principalmente pela busca do objetivo maior: a vaga na Libertadores e quiçá, o hexa brasileiro. Tamanha é a nossa sede pelo retorno à hegemonia nacional, pelo resgate do Flamengo realmente temível, que simplesmente esquecemos aquilo que deveria ser nossa meta permanente, nosso norte incontestável: o(s) passo(s) definitivo(s) rumo ao futuro.
Antes que me taquem pedras em escala internacional, aviso: este não é um discurso pessimista. Torço muito, como um doido, por nossos triunfos no maior grau possível: Libertadores, título, artilharia do Adriano, prêmios individuais, coletivos, recordes, Oscar, whatever. Mas, se tanto foi falado aqui em choque de gestão, ele não deve sequer ser secundarizado. Para o que tragamos de volta, proponho um choque de realidade.
A vitória sobre o Botafogo é mandatória. Assim como pelo menos outras quatro (e um empate) nos outros sete jogos, isso para falar apenas para a vaga na Libertadores. Não podemos esquecer que o Palmeiras ainda é o líder, o São Paulo tem time para acordar na reta final, o Atlético-MG está impossível e o Internacional fará de tudo para não bobear mais. Sem contar o Cruzeiro, que também vem como um rolo compressor, embora com atuações não tão plásticas como a nossa (o que não enche barriga de ninguém).
Isso quer dizer que, da mesma forma que Libertadores e hexa são possíveis, também é perfeitamente possível que ocorra o contrário: sem título e com uma mera vaguinha na Sul-Americana. O que seria perfeitamente natural há dois meses, época em que ainda falávamos incessantemente do futuro, terá ares de desastre se acontecer agora.
Objetivos imediatistas e esplendores momentâneos fazem uma perigosa combinação. Especialmente em se tratando de Flamengo. Não podemos achar que em 2010 Petkovic fará a diferença em todos os jogos na Libertadores, que Zé Roberto irá ser tão decisivo como agora, que a renovação do Adriano se dará por “música” apenas por sua vontade expressa de ficar aqui….
Ou seja, o que quero dizer é que falta ao Flamengo a serenidade de buscar, fora de campo, o planejamento necessário para o ano que vem seja qual for o resultado final. Não podemos, por exemplo, sobrevalorizar o ZR, entrar numa novela de renovação e esperar o mercado aquecer e se movimentar para aí, quando os rivais já pegarem os bons-que-derem-sopa, começar a procurar uma alternativa para o meio-campo (se é que ele seria a primeira opção). Assim como para o ataque, ao lado do Imperador, para a zaga, caso Alvaro não renove…and so on.
Fora de campo, as tais metas permanentes têm de ser ainda mais buscadas. O Flamengo não pode parar por conta da eleição. A diretoria deve se mexer para procurar uma alternativa ao Engenhão. Já deu para notar que ficar na mão do Botafogo para procurar abrigo é cair no ridículo. Para jogos de médio porte, é preferível ir para o Raulino ou outra coisa qualquer. O Maracanã fechará por PELO MENOS três anos. Isso se não for re-reformado para 2016. o que é bem provável. Temos de ter uma casa nova. O Flamengo não sobrevive sem o Maracanã. Não podemos ficar à mercê de ninguém. Pela escassez de planejamento, passaremos como andarilhos em 2010. Mas se a nova diretoria já começar a agir logo, isso poderia mudar já em 2011.
Cito o estádio como uma das metas permanentes, apenas para falar de uma delas. Todos aqui as conhecem de cor e salteado (dívida, política de pratas-da-casa, plenajemento estratégico para o futebol, política de ingressos, etc, etc, etc, etc). Será que vale a pena para por isso por conta de um objetivo que tanto queremos mas que não há qualquer certeza de que vamos conseguir.
2010 vai chegar, de uma maneira ou de outra. O mundo não vai parar se fomos hexa ou se nem à Libertadores formos. Eleição não é desculpa.
*Paulo Lima é jornalista esportivo, mas atualmente cedido à Pátria Futebol Clube. Reside em Eastchester, suburbio de NY, e se diverte, ao passear os cachorros, em observar os ianques perna-de-pau jogando sóquer no campo de futebol americano da high school vizinha à sua casa. E aflito por talvez não ver o jogo de domingo…
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