Eu não quero comentar mais um mole, mais uma derrota no finalzinho, pelo segundo ano seguido com gol de Iarley. Pra ser sincero nem vi a partida (algo que acontece a cada ano bissexto). O máximo que fiz foi acompanhar as atualizações em tempo real por meio do meu celular, na noite de ontem. No entanto, chamou a atenção de todos o tamanho da estupidez do técnico Hélio dos Anjos, ao denegrir o torcedor goiano do Flamengo e desincentivá-lo a ir ao estádio. É mais do que evidente que esta manifestação descabida teve efeito reverso, e apenas incentivou que mais e mais rubro-negros fossem ao Serra Dourada na noite de ontem. Ora, a torcida do Flamengo não é apenas uma torcida, disso todos sabem. Trata-se de uma Força da Natureza. E com forças desta estirpe, não se brinca. Vide as intempéries meteorológicas que o planeta vem atravessando por conta do desequilíbrio ambiental que o homem causou. Não há ação sem reação quando se mexe com algo muito maior e mais forte do que você.
Só o fato de incentivar a presença – e não o distanciamento – do torcedor adversário já seria motivo para a diretoria do Goiás se indispor com o insignificante treinador. No entanto, sob a ótica dos negócios, a declaração do técnico esmeraldino ganha contornos ainda maiores de irracionalidade econômica, devendo ser alvo de uma reação enérgica por parte da diretoria do clube goiano.Vejamos se não.
Antes, uma breve explanação. Empresas e redes de televisão, por estarem sempre em busca do retorno que as torcidas podem proporcionar, andam colocando o Flamengo na condição de “time do momento”. Um exemplo seria o tratamento de rei dispensado pela Olympikus ao clube, tendo como retorno a vendagem de inacreditáveis 400 mil camisas em pouco mais de um mês de parceria – um verdadeiro recorde histórico, que supera a marca anual do clube que mais vendia camisas até então, o São Paulo. Outro exemplo, este inacreditável, vem da paulistíssima TV Bandeirantes, que mesmo em noite de jogo do Corinthians, vem veiculando a partida do Mengão para praticamente todo o território nacional, relegando os gambás à condição que lhes é de direito: a de “segundo mais querido” (http://www.band.com.br/fiquedeolho/conteudo.asp?ID=162169)
O que dizer do tratamento dispensado ao Flamengo por clubes pequenos e de torcida localizada que andam passeando (com brevidade) pela primeira divisão do campeonato brasileiro? Estes, então, estendem o tapete vermelho e pedem para que o Flamengo desfile. Foi assim ano passado, quando a torcida do Flamengo transbordou o Canindé na partida contra a Portuguesa. Foi assim este ano, contra o Santo André no ABC (estádio lotado e o Mengão jogando em casa). E foi assim em inúmeras outras oportunidades no ano de 2009, durante a disputa da Copa do Brasil (Cuiabá, Belém, Fortaleza, etc). Em Goiânia não poderia ser diferente. O jogo contra o Flamengo, aguardando com ansiedade pela diretoria do Goiás, foi aquele em que cobraram os valores mais altos de todo o campeonato. Não foi o único – contra o Corinthians eles utilizaram o mesmo expediente. Mas como o Corinthians não é um Flamengo, o confronto entre goianos e paulistanos apresentou um público pagante de meros 16.337 torcedores, e uma renda de R$ 407.895,00. Ontem, diante de 37.320 pagantes (e um público total de 42.913 torcedores), a renda embolsada pelo esmeraldino foi de R$1.024.680,00.
Fica a pergunta: e se Helio dos Anjos conseguisse o que queria – esvaziando a metade rubro-negra do estádio e reduzindo à metade do valor arrecadado pelo próprio clube?
O nome disso, meus amigos, é burrice. Insensatez tamanha que, para piorar, suscitou ódios e rancores. A tal ponto que a torcida do Goiás levou uma faixa denegrindo o torcedor rubro negro de Goiás, algo que virou moda nos estádios nordestinos desde que meia dúzia de imbecis torcedores do Vitória estenderam uma faixa com os dizeres “Vergonha do Nordeste” e uma seta apontada para a Magnética.
Não há de ser nada. Perdemos, mas continuamos com a mesma grandeza – a ser ostentada com orgulho pelos bravos goianos que torcem, e bem, pelo nosso Mengão. Já o Goiás, continuará a ser apenas o mesmo “clube pequeno e de torcida localizada”, eternamente em busca de seu primeiro título de expressão na história...
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