sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Estado de graça
Por Vinicius Paiva

Não, não me refiro à colocação do time nos campeonatos que disputa, tampouco às atuações nos últimos jogos. Qual o louco seria capaz de afirmar que uma oitava colocação no Brasileirão, ou um empatezinho cretino com os reservas do Fluminense (dando-lhes a vantagem do empate por gols na próxima partida) constitui um “estado de graça”? Entretanto, fora das quatro linhas, o Flamengo vive há pelo menos um mês um momento absolutamente raro.

Segunda-feira, no embalo da boa vitória sobre o Corinthians (aliás, é bom contar com a sorte nestas horas, uma derrota é capaz de esfriar desagradavelmente qualquer iniciativa de marketing), o Flamengo finalmente lançou o projeto Cidadão Rubro Negro. Descrito pela diretoria como “muito mais do que um projeto de sócio-torcedor”, na prática é isto que o projeto é. Ou melhor, será, assim que se encerrar o período promocional de cadastros gratuitos.

Confesso que fiquei muito bem impressionado com o projeto. Ao contrário do que o vice-presidente de marketing Ricardo Hinrichsen afirmou para mim, em recente entrevista, o projeto não veio contemplando apenas o “oito ou oitenta” (Lembram-se? Uma mensalidade de oito reais e outra de trezentos e tanto). Talvez por ouvirem o clamor da torcida rubro-negra, que veio como reação às afirmações, o projeto contemplou ainda um patamar de mensalidades de 33 reais. Muito bom. Além disso, achei bastante inteligente este esquema de acúmulo de pontos resultantes da participação e da interação do usuário, podendo trocá-los por uma gama de mais de 200 mil produtos (!) a serem disponibilizados. É o Baú da Felicidade Rubro-Negro.

Já que, de alguma maneira, a diretoria escutou os anseios da torcida, cabe a ela agora fazer com que este projeto seja mais um dos projetos bem sucedidos vinculados ao clube. Qualquer coisa que não o topo do ranking dos clubes com maior número de sócios-torcedores será uma vergonha para nossa Nação. No entanto, cabe também ao Flamengo – e às empresas que administram o projeto, como a excelente Vipcomm – solucionarem os inúmeros problemas que o Cidadão Rubro-Negro vem enfrentando por conta da sobrecarga nos servidores e do excesso de demanda. No primeiro dia, o projeto abocanhou 15 mil cadastros, mas segundo apurei, até ontem mal passavam dos 20 mil, exatamente por causa destes problemas técnicos. Não custa lembrar que a expectativa do vice-presidente de marketing era de 200 mil cadastros nesta primeira etapa gratuita.

Em outra seara, a venda de produtos oficiais do Flamengo está atingindo patamares inéditos. Ontem, a coluna “De Prima” do Lancenet noticiou que o sucesso na venda dos bonecos “Uruba e Urubinha” (2 mil em três semanas) pode acelerar o lançamento de bonequinhos de ex-jogadores do clube, a começar pelo “João Danado” Nunes. Já as camisas oficiais da Olympikus, lançadas há um mês e meio, atingiram ontem a magnânima marca de 452 mil unidades vendidas. Tratam-se de números estratosféricos, especialmente pelo curto período. Equivalem, para se ter idéia, ao número de camisas vendidas ANUALMENTE pelos maiores ídolos do maior esporte do maior país do mundo (economicamente), ou seja, a NFL norte-americana (http://www.forbes.com/2008/12/11/nfl-apparel-marketing-biz-cx_tvr_1212jerseys_slide_2.html?thisspeed=25000).

No entanto, cabe um porém. Andei lendo que, como resultado do sucesso de vendas, a Olympikus refez para cima suas projeções de vendas, para patamares na casa de um milhão de camisas por ano. Nem tanto nem tão pouco, meus queridos. Claro que este ano passaremos facilmente da casa das 500, 600, quiçá 700 mil camisas vendidas. Dependendo de um improvável bom desempenho do clube do Brasileirão, PODE SER até que nos aproximemos da tal marca milionária. Porém, devemos relativizar tais números.

A Nike vendeu 128 mil camisas do Flamengo em 2008, e 150 mil em 2007. Esta diferença não se deu sem motivo. No auge da retomada rubro-negra no Brasileirão de 2007, a torcida viveu uma esdrúxula situação de completo desabastecimento de produtos da Nike nas lojas especializadas. Tal qual uma empresa de fundo de quintal (e não a maior fabricante de material esportivo do mundo), a Nike se mostrou incapaz de atender a seu cliente, e fez com que naquele ano ninguém encontrasse camisas do clube nas lojas – causando prejuízos incalculáveis ao Flamengo, pois aquele foi um dos momentos de maior euforia da nossa torcida nos últimos anos. Em 2008, perante o descaso e o contínuo desabastecimento, a diretoria decidiu romper com a fabricante norte-americana de maneira unilateral, acertando com a Olympikus. Ao recorrer à justiça, a Nike conseguiu reverter o rompimento, e obrigou o clube a cumprir o contrato, que ia até o dia 30 de junho de 2009.

Revoltada, a torcida “comprou o barulho” da diretoria, e passou a boicotar os produtos da multinacional – até porque havia a certeza de que em menos de um ano, tais produtos ficariam obsoletos pelo advento da Olympikus. Em resumo: 150 mil camisas em 2007 foram resultado da falta de produtos no mercado (a demanda real era brutalmente maior). 128 mil camisas em 2008 foram resultados do litígio rubro-negro com a Nike, e da ansiosa expectativa pela vinda da nova fornecedora (a demanda real, com título estadual, participação na Libertadores e boa campanha no Brasileirão também era bastante superior).

Aí veio 2009, e finalmente chegou a Olympikus. A torcida do Mengão, fazendo-se valer de uma fortíssima demanda reprimida, vem levando a venda de camisas a ultrapassar todo e qualquer patamar histórico já verificado, o que comprova sua força e valor, ao contrário do mercado publicitário paulistóide que insiste em dizer que só há retorno para investimentos em clubes de São Paulo. Não é verdade, e a maior Nação do mundo é a prova cabal de que é também o melhor investimento. Só que isso não pode fazer com que fechemos os olhos para o fato de que a situação atual é, também, circunstancial, fruto da demanda reprimida explicada no parágrafo anterior. Portanto, creio eu que achar que vamos vender um milhão de camisas por ano para sempre configura um erro estratégico que nossos parceiros não podem cometer.

A não ser, é claro, que voltemos a ser campeões Brasileiros, da Libertadores, Mundiais... aí, meu amigo, o Brasil e o Mundo presenciariam uma maré rubro-negra tão violenta que não haveria entidade esportiva no planeta – Real Madrid, Los Angeles Lakers ou o que for – capaz de nos suplantar. Apesar da melhora nos últimos anos, o Gigante continua adormecido. (http://www.fifa.com/worldfootball/clubfootball/news/newsid=104753.html).

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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