sábado, 29 de agosto de 2009

As vozes saíam do rádio: Jorge Curi, Waldir Amaral, Doalcei Camargo. O próprio Flamengo era uma fábula que saía do velho Philco Transglobe, nove faixas, do meu pai. Dribles, arrancadas e gols, e que gols, me contavam as vozes e eu imaginava jogadores flamejantes de vermelho e preto. Até os reclames eram épicos: Antarctica, a única amarelinha que merece a camisa dez. Tomou Doril, a dor sumiu. Pelé toma Vitasay, tome você também.

Não precisávamos de imagem. Éramos ricos de espírito e de narradores. Se Jorge Curi dizia que era um golaço-aço-aço, a gente concordava e repetia mesmo sem ver: - Pô, que golaço do Zico.

As vozes foram sumindo. Primeiro Curi, depois Waldir. Mas aqui estava Doalcei Bueno de Camargo, o mais vibrante locutor esportivo do país. Aqui estava. Perdemos Doalcei na véspera de um domingo, para ter certeza que os domingos nunca mais serão mesmos. Perdemos os melhores domingos, para ter certeza que nunca mais seremos os mesmos.

Doalcei, que dizia que o gol fora marcado de maneira sensacional. Doalcei, que dizia que a bola saíra pela linha das arquibancadas. Doalcei, que declamava o futebol no ritmo de um coração queimando de amor. Doalcei, que disse Meu Deus do Céu quando Gérson marcou em Albertosi, meu-deus-do-céu e chorou no meio do grito de gol.

Tudo faz muito tempo. Passa muito futebol na tevê, mas não é mais o futebol de fábula. Ninguém mais faz um gol como este de Nunes, e mesmo que alguém marcasse, ninguém narraria como Doalcei narrou: http://www.youtube.com/watch?v=CSGBvOuJuio

Clique de novo no link do e ouça no volume máximo. E de novo. E não pare nunca mais, porque tudo faz muito tempo nesta noite quieta de sábado.

As vozes não saem mais do rádio.

Um Maracanã lotado de silêncio, por favor.

Flamengo Net

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