Olá, saudações rubro-negras a todos. Peço desculpas a quem vem acompanhando a série que estou escrevendo sobre os títulos brasileiros, particularmente o de 1982, mas essa semana quero me debruçar sobre outro assunto, que diz respeito à lastimável situação em que se encontra a equipe no Brasileiro atual. Com exceção de uma quase irrelevante (em termos estatísticos) minoria (na qual se destaca a dupla Delair e Marcos Braz), parece ser um consenso de que as chances para a conquista do título brasileiro são bastante remotas. Mesmo a briga por uma vaga na Libertadores (o tal G-4) parece um devaneio distante. Não em termos matemáticos, afinal a diferença para o quarto colocado é de 7 pontos, e a história dos pontos corridos mostra que essa distância está longe de ser uma barreira intransponível. Mas o futebol que a equipe (não) vem apresentando desautoriza qualquer tentativa de se imaginar, no presente momento, algum tipo de escalada na tabela. Ainda mais que, se observarmos a metade vazia do copo, veremos que a distância para o 17º colocado (o primeiro dos rebaixados, portanto), é de apenas seis pontos, hiato igualmente pouco representativo. Então, amigos, eu pergunto: e agora? Como fazer com que esse arremedo de equipe, que vem empilhando goleadas sofridas com uma freqüência constrangedora, que se mostrou incapaz de sobrepujar os RESERVAS do pior time do campeonato, volte a exibir um futebol minimamente convincente, capaz de, ao menos, encerrar a temporada de forma digna? Já vi vários times serem rebaixados, grandes, médios e pequenos. Muitos dos casos de rebaixamento de equipes grandes poderiam ter sido evitados se esse risco tivesse sido vislumbrado e aceito com antecedência. Quando se tomaram medidas que efetivamente poderiam ter dado resultado, já era tarde. Casos clássicos são o Grêmio de 1991 e o Palmeiras de 2002. O nosso Flamengo quase foi vítima dessa “fuga da realidade” em 2001, quando acordou a apenas quatro rodadas do final da competição. Então, o primeiro ponto é admitir que o risco existe, e é real. Diante do perigo, deve-se atacar os pontos que normalmente destroem as campanhas de equipes tradicionais, normalmente abatidas por falta de dinheiro. Salários atrasados, bagunça na gestão do futebol, desunião no elenco e indisciplina são esses fatores. O elenco atual do Flamengo parece unido. Aliás, unido até demais. Então, vejamos os outros problemas. Os salários atrasados
Não adianta. Hoje em dia, o nível crescente de profissionalização e de transformação do futebol em negócio exige que certos vícios sejam sanados definitivamente. Sem salários em dia, um time de futebol não funciona. O Flamengo viveu isso na pele ano passado. Se os vencimentos dos atletas estivessem em dia, o time teria chegado, no mínimo, à Libertadores. Aliás, é só perceber que a equipe começou a despencar na reta final no mesmo momento que apareceram os primeiros sinais de atrasos na remuneração dos atletas. Coincidência? Então, antes de perseguir reforços, estipular prêmios ou pensar em algum tipo de gasto adicional, a diretoria atual precisa dedicar-se a encontrar uma forma de garantir que os jogadores recebam em dia até o final do ano. Esse já é o primeiro passo para organizar a bagunça. A gestão do futebol
Parece ser uma unanimidade que o que vem levando o Flamengo a freqüentar partes obscuras da tabela é a ausência de titulares. Realmente, por melhor que seja um elenco, é difícil resistir a tantos desfalques. A lateral-direita, inclusive, perdeu o titular e o seu reserva. Mas a pergunta é: por que tantos jogadores fora de combate? Abstraiamos o caso do Kleberson, do Toró e do Fabrício. Poderemos constatar que o principal problema que vem tirando os jogadores do campo é muscular. Não é o caso de se jogar pedra no trabalho de alguém, de se apontar falhas no programa de condicionamento físico dos atletas, até pela falta de conhecimento específico no tema. Mas uma coisa é certa: algo está errado, pois não é normal se perder tantos jogadores por problemas musculares em tão pouco tempo. Azar? Deixa essa explicação para os místicos. Esqueçamos, por enquanto, construção de CT, profissionalização de departamento e outras reformulações. O time precisa encerrar o ano de forma digna. As correções de rumo devem ser feitas a curto prazo. A equipe, em campo, padece de dois problemas crônicos: o primeiro deles é a falta de motivação dos jogadores, que desde a eliminação da Copa do Brasil atuam de forma burocrática. Em um ou outro jogo o time mostra maior combatividade, mas o que se costuma ver em campo é um grupo entediado e doido para se livrar logo daquilo. Qualquer adversário se impõe pela luta, pela força de vontade. O outro problema é tático. O time não consegue, desde a saída do Ibson, acertar um sistema defensivo minimamente confiável. Contam-se nos dedos as partidas em que o Flamengo saiu de campo sem sofrer gols. Pior, são raros os jogos em que o clube sai na frente (ou empata um jogo) e não cede reação. A solução dos dois problemas pode, ou não, passar pelo perfil do treinador que atualmente comanda a equipe. Parece antipático e até cruel cornetar o Andrade nesse momento, o Tromba vem realmente tentando trabalhar com seriedade. Mas a omelete que ele vem produzindo, em que pese a falta de ovos, está sem liga e intragável. Esse grupo precisa ser comandado por alguém que efetivamente os faça correr, dedicar-se aos jogos, fazer o Flamengo voltar a ser uma equipe aguerrida em campo. Foi assim com o Carlos Alberto Torres em 2001, o Evaristo em 1998 e 2002, e é forçoso reconhecer que o Joel assim também teve êxito em 2005 e 2007. Há vários exemplos em outros clubes, sendo o mais recente o René Simões no Fluminense ano passado. Lembrando que se propõe alternativas a curto prazo. A indisciplina
A história mostra que equipes que promovem reformulações muito radicais em momentos de turbulência costumam ir para o buraco. O caso mais emblemático é o do Grêmio em 2004, uma equipe desmontada várias vezes ao longo da competição, ou do Bahia (tudo bem, é clube de menor expressão, mas vale o exemplo), que chegou a dispensar sete titulares por indisciplina e foi premiado com o descenso, em 2003. Os jogadores do Flamengo são esses, salvo um ou dois reforços (há dinheiro?). E é com esses jogadores que o time irá encerrar o ano. Por mais que não queiramos ver alguns deles nem pintados, são eles que terão de assumir a responsabilidade de conduzir o time, algo impensável para garotos imberbes, mesmo que eventualmente talentosos. Após o final do ano, que se trabalhe vislumbrando uma necessária e já tardia reformulação na base do elenco, mas até lá o time precisará de todos os seus titulares. Foi assim em 2004, quando os contestados Felipe e Athirson ajudaram a equipe com gols decisivos na reta final, ou em 2005, com o grupo comandado por Jônatas, Júnior e Diego. E como conquistá-los de volta? Identificando os líderes, traçando de forma séria compromissos profissionais, cumprindo e fazendo-os cumprir obrigações. Pague-se em dia, dê-se o mínimo de respaldo a uma comissão técnica que tenha liderança, capacidade técnica e se faça respeitar, e os resultados virão (evidentemente que nesse pacote está a cobrança por uma atitude mais profissional). Sim, porque há jogadores talentosos nessa equipe. Não temos um time limitado como em 2002 e 2005. Nossa equipe, em termos individuais, enquadra-se tranqüilamente entre as cinco ou seis principais do país. A torcida
E a nós, o que resta? Tudo bem, o “amor acabou”, mas talvez fosse o caso de uma espécie de pacto, de acordo entre os principais líderes das organizadas e os jogadores, não sei. Apoio, incentivo, nada de vaias precipitadas que só carbonizam jogadores. Não adianta guerrear com o elenco, só ajuda os adversários, no final o time sofre o resultado e eles vão embora. Em 2005, por mais que determinados jogadores estivessem muito desgastados, a torcida comprou a briga e eles foram junto. E o time fez ali a melhor campanha global nas últimas sete, oito rodadas. Todos esses pontos colocados acima são apenas para discussão. Não se pretende aqui dar palavra final de nada. Mas tenho a convicção de que, com trabalho, humildade para perceber o mau momento e os riscos, tranqüilidade para perceber os pontos críticos e atacá-los, e ter em mente que medidas a curto prazo são totalmente diversas de planejamento de elenco, dá sim para obter ainda resultados surpreendentes com esse time. Gente ainda menos qualificada está conseguindo.
Ou alguém acha que o Avaí é um esquadrão?
|