Novos tempos
Ontem não foi só o fim do tabu, mais do que isso foi o fim de uma perturbação. Todo jogo em Santos, era a mesma história: Nunca o Flamengo ganhara na famosa Vila Belmiro. Mas a verdade era essa mesma, mesmo com “Flamengos” melhores ou “Santos” piores, sair de lá sem os três pontos já não era novidade. Mas ontem o tabu caiu e o jogo que tinha tudo para ser apenas mais um, se tornou histórico.
Mas o panorama antes desse confronto, por todos os acontecimentos da última semana, não parecia dos melhores. Não bastasse a seqüência de mal resultados, tivemos a queda do até então técnico Cuca, dossiê polêmico expondo problemas internos, renúncia da cúpula do futebol e nomeação de um novo VP de futebol tão ou mais contestado. O Flamengo dessa última semana escancarou problemas dos mais graves. E claro que havia o temor de que tudo isso fosse a campo nessa partida. Não foi.
O Flamengo de ontem não foi muito diferente do que tem sido nos últimos jogos. Ainda que tenha jogado melhor, que tenha mostrado mais vontade durante a partida, mostrou os mesmos problemas estruturais de uma equipe que não possui um meio campo que faça o time jogar, que distribua o jogo, que auxilie em uma saída de bola. Continua sendo um time refém de chutões para frente ou do recuo de seus atacantes e isso não parece ter solução a não ser com novas contratações.
E ainda assim, no milésimo jogo do Flamengo em campeonatos Brasileiros – a primeira equipe a alcançar tal marca – conseguimos uma vitória triplamente importante: Pela marca alcançada, pela quebra desse incômodo tabu e pelos importantíssimos três pontos. Certamente valeu demais a virada de ontem em Santos.
Quem sabe, mesmo com tantos problemas, não seja essa uma vitória que inaugure novos tempos na Gávea?
“Novos tempos”, pelo menos dentro de campo, dependeria de uma boa seqüência de resultados. E isso sugere vencer o líder do campeonato na próxima quinta feira, no Maracanã. Esse já seria um excelente motivo para entrar motivado dentro de campo.
Motivação
Morei muitos anos em Belo Horizonte, sei do que vou falar. Há uma diferença grande na forma que Flamengo e Atlético encaram um encontro entre eles.
Para o Flamengo, à exceção de partidas decisivas e, claro, levando em consideração que todo jogador sempre entra em campo com o objetivo de vencer, é um jogo importante, mas sem um atrativo maior. Tem toda a historia, são dois grandes clubes, duas grandes torcidas mas acaba sendo mais um que vale três pontos.
Para os atleticanos não é bem assim. Há uma ferida eterna aberta naquele clube por tudo o que lhe imputamos, principalmente na década de oitenta. Um jogo contra o Flamengo não é apenas uma partida, é um clássico - para muitos chega a ser “O” clássico. Quantas vezes não ouvi a seguinte definição: “Não gosto do Cruzeiro, que é nosso rival. Mas do Flamengo eu tenho é ódio”.
Pode parecer papo de torcedor, mas aventure-se a ler a imprensa mineira nessa semana, busque o conteúdo das entrevistas com os jogadores, ouça a rádio Itatiaia falando sobre a partida. E não se assuste ao descobrir que o clima formado, entre torcedores, imprensa e jogadores, será o de um verdadeiro clássico.
Porque comento isso, qual a importância disso?
Lógico que todo jogador entra em campo buscando a vitória, mas há como negar que no clássico a motivação é maior?
É esse o motivo. O Flamengo precisa de um algo mais. Não é transformar o Atlético em um odiado rival do dia para a noite, mas precisa enfrentar o líder do campeonato dentro de nossa casa, com um algo mais do que um simples compromisso pela 15ª rodada. Os dois querem a vitória, se precisamos de afirmação no campeonato eles precisam se manter na liderança. Então vontade de vencer apenas pode ser pouco para os três pontos.
De alguma maneira o próximo jogo deve ser visto também por nós com o mesmo clima dos grandes clássicos. É a nossa chance de se afirmar na competição, a busca por um concorrente direto, a oportunidade de se aproximar dos líderes. E para isso o Flamengo vai ter que se impor, jogar com muita raça e mostrar a velha força de uma época em que os mineiros começaram a sentir tamanho ódio e temor por esse Manto Rubro Negro.
Grande abraço, até segunda e Saudações Rubro Negras, sempre!
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