Finalmente, depois de quase um ano e meio de espera, ontem foi o grande dia. Com pompa e circunstância, foram apresentados os novos uniformes do Flamengo, que agora é vestido pela Olympikus, e não mais pela Nike. O clima na Gávea, e nos quatros cantos do Brasil, é da mais pura euforia, especialmente após o anúncio dos números já atingidos pela atual parceria. Segundo o vice-presidente de marketing do Flamengo, Ricardo Hinrichsen, já teriam sido vendidas mais de 200 mil camisas apenas nas três semanas anteriores ao lançamento. Segundo ele, estes números rendem R$ 1,6 milhão para o Flamengo a título de royalties.
Devemos analisar números como estes com parcimônia, por mais que as perspectivas sejam mesmo as melhores possíveis. Muita gente vem achando – até por conta da veiculação errada da notícia por muitos conglomerados – que estas 200 mil camisas foram vendidas apenas naquele esquema de “pré-venda” preparado pela empresa Netshoes. Não é isso. Os 200 mil uniformes se referem à quantidade total de pedidos feitos pelas empresas no atacado, que é quem compra direto na fábrica e revende no mercado. Considerando que há mais de um ano a torcida do Flamengo não compra uniformes da Nike (pois a empresa estava em litígio com o clube), era evidente que os estoques de uniformes rubro-negros nas lojas estavam em baixa, na mesma proporção da baixa procura. Neste sentido, a reposição destes estoques fez com que os pedidos fossem tão grandes. No entanto, qualquer clube, quando lança novos uniformes, obriga o comércio a renovar seus estoques. Meu ponto é: toda vez que um clube lança novo material, o pedido agregado de estoque do comércio é, naturalmente, alto. Resta saber quanto, ou seja, em que proporção esta marca vendida pelo Flamengo esteve acima da média de um clube grande quando lança material novo.
De qualquer maneira, o novo uniforme é, sim, um sucesso. Informações passadas pelo Rica Perrone, no podcast do Urublog, dão conta de que o Cruzeiro vendeu até o momento, 150 mil camisas em 2009. O São Paulo teria vendido 200 mil, ao cabo que o Internacional, 250 mil. Sendo assim, em três semanas, teríamos praticamente igualado o clube que mais vendeu camisas no ano. Já a meta de vendas da Olympikus é ainda mais audaciosa: ficaria entre 800 mil e um milhão de camisas. A título de comparação, o São Paulo costuma vender 450 mil uniformes/ano. O Cruzeiro, 200 mil, e o Inter, 250 mil (ou seja, já bateram a meta este ano).
Uma questão que rendeu polêmica foi o desenho da camisa titular, rubro-negra, por conta de uma interrupção na listra preta próxima à gola. Apesar de o designer ter “brincado” com a listra (como o mesmo afirmou, em entrevista à FlaTV), o uniforme parece ter caído no gosto da torcida. Ao menos é o que revelam as enquetes do GloboEsporte.com e do Lancenet – ambas apresentando índices de aprovação entre 65% e 70%. Eu, particularmente, adorei a camiseta titular de basquete, e o uniforme reserva do futebol. Mas acho que já tô me acostumando com a papagaiada na camisa titular. Vale ainda destacar a boa variedade de camisas para mulher, crianças e até gordinhos. Quem quer agradar à maior torcida do mundo, de fato, precisa pensar em gregos e troianos. Parabéns, Olympikus!
Uma última nota elogiosa se refere ao comercial, emocionante, veiculado pela Olympikus para todo o país no intervalo da final da Copa do Brasil, ontem. Foi uma bela forma de divulgar seus novos produtos e ainda não deixar o Brasil se esquecer da “marca Flamengo”. Era uma final de campeonato, em um jogo que sequer nos envolvia. A Olympikus, se aproveitando do fato de deter cotas de futebol na Globo, promete veicular o comercial por mais 2 semanas, aparentemente no intervalo do Jornal Nacional, garantindo audiência máxima. Cabe agora à nossa torcida fazer sua parte e encher o bolso da nossa parceira de dinheiro. Pois é, no final das contas isso aqui ainda é um grande negócio, e quanto mais rentável o Flamengo se mostrar a seus parceiros, mais atraente e valioso se mostrará na captação de novas parcerias.
Algumas notas negativas (infelizmente, elas sempre existem):
1) Adriano está arranjando encrenca com o número 9 (afirmando preferir o 10), sendo que já há toda uma linha de produtos sendo elaborada com o número escolhido. Se o que houve foi uma votação, feita pela torcida, que optou por este número, quem votou fez papel de bobo? A diretoria não havia conversado com Adriano sobre isso??
2) Bruno, pra variar, também decidiu arranjar encrenca com um uniforme. Ontem, ele se vestiu com a camisa de goleiros amarela, ao lançar sua linha personalizada, com assinatura e tudo. Mas afirmou que “vai deixar a amarela de lado”, preferindo a azul. Isto tudo com a camisa preterida no corpo!!! Ora, isso é coisa pra se dizer em pleno festejo de lançamento de uniforme??
3) A transmissão ao vivo pela internet do lançamento dos uniformes foi uma bagunça. Os tradicionais “repórteres de sotaque aflorado” da FlaTV perderam ótimas oportunidades nas entrevistas (já que todos os grandes executivos envolvidos no empreendimento estavam lá) ao perguntarem sempre obviedades do tipo “E aí? Goxtou?”. Além do mais, entre o desfile e as entrevistas, a transmissão ficou alguns minutos sem saber o que mostrar (pois só havia um câmera). Enquanto isso, a gente ouvia tudo o que a técnica conversava entre si. Não é assim que se faz transmissão nacional, seja ela no meio que for. Internet é coisa séria, minha gente.
4) A Nike, exemplo da péssima empresa travestida de “maior do ramo”, também está em festa. Livrou-se do Flamengo e, agora, focará seus esforços num ótimo relacionamento com o Corinthians, pois o fardo que o Flamengo representava não mais existe. E pra piorar, vai vender camisas como água, pois no mesmo dia em que estávamos em festa, eles também estavam. Aliás, tendo bem mais motivos para isto...
Com relação a mais uma polêmica envolvendo os diversos departamentos do Flamengo – que culminou com o pedido de demissão do ex-vice de esportes olímpicos João Henrique Areias, prefiro não me alongar, sob pena de talvez até me exaltar. Mais uma vez, ficou clara a vocação da presidência do Flamengo de trocar os pés pelas mãos, cometer insubordinações e atropelar hierarquias. Essa de que “a vice-presidente anterior começou o projeto”, pra mim, é conversa pra boi dormir. “A vice-presidente anterior” deixou o basquete com 4 meses de salários atrasados, isso sim. Isso pra falar só no basquete. João Henrique, meus parabéns! O mérito é todo seu!
E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com
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